domingo, 21 de dezembro de 2014

Márcia Rolon e seu Moinho de sonhos

O desastre ambiental do rio Taquari, há quatro décadas, arruinou a vida de centenas de pantaneiros, mas não fosse por isso a menina Márcia Raquel Rolon não teria se mudado com a família para a cidade. Na bagagem, trouxe seus sonhos. Em Corumbá, iniciou os primeiros passos na dança na academia dirigida pela mãe, a bailarina Sônia Ruas. Formou-se em Educação Física na UFMS e criou Escola de Artes Moinho Cultural, projeto arrojado que no começo reunia 180 crianças e adolescentes, moradores dos bairros pobres da região portuária corumbaense e das cidades bolivianas da fronteira. Hoje com quase 400 alunos, o Instituto Moinho Cultural Sul-Americano traduz grande parte dos sonhos da ex-bailarina pantaneira, como centro de formação na dança, na música, na tecnologia e na cidadania. E após dez anos de atividades, tornou-se referência cultural de Mato Grosso do Sul, integrando a rede do programa Criança Esperança. Em 2010 Márcia Rolon ganhou reconhecimento nacional ao tornar-se finalista do Prêmio Empreendedor Social, da Folha de S.Paulo, e dois anos depois elegeu-se vice-prefeita de Corumbá, cargo agregado com o de diretora-presidente da Fundação de Cultura. O avanço de Corumbá como polo cultural, porém, não contenta Márcia. “Não basta ter o Moinho, o melhor Carnaval, o Banho do São João, se não houver integração com os outros municípios”, afirma. “Nosso Estado é diferenciado, é único, e precisa fortalecer sua cultura, entrelaçar suas rotas culturais”. Leia a entrevista completa na edição do jornal O Estado no link https://oestadoms.websiteseguro.com/flip/20-12-2014/20.pdf e no canal Reportagens deste blog.



sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Mulheres: de Atenas a Corumbá

As mulheres estão na linha de frente da política nacional. No Brasil, Dilma, Marina e Luciana Genro protagonizaram os mais brilhantes momentos do último debate de candidatos pela Rede Globo, ora se defendendo, ora dando cutucadas desconcertantes no neoliberal Aécio e no direitista Fidelix. Deram um banho de democracia como legítimas representantes das conquistas dos movimentos sociais iniciados nos anos 70 pelas causas feministas, de gênero, sexo e religião. A luta delas é antiga e marcada por sangue, suor e lágrimas em todo o mundo. São famosas as Mães da Praça de Maio clamando por justiça e pelo retorno dos filhos desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina. Inspiraram "La História Oficial', filme estrangeiro vencedor do Oscar, e até hoje, 50 anos após o fim da ditadura, "las madres" circulam a Praça de Maio, em Buenos Aires, com as cabeças cobertas por seus lenços brancos, que se tornaram símbolos do movimento. Na Grécia antiga, a peça teatral Lisístrata, encenada em 411 antes de Cristo, retratava a “greve do sexo” decretada pelas mulheres de Atenas como forma de acabar com a guerra entre Atenas e Esparta e manter seus maridos mais tempo perto delas. Peça que inspiraria Chico Buarque a compor “Mulheres de Atenas” dois milênios depois: “mirem-se no exemplo, daquelas mulheres de Atenas; geram por seus maridos, os novos filhos de Atenas”. Em Corumbá, neste Outubro Rosa, mulheres de atitude e responsabilidade social cobrem as cabeças com lenços em solidariedade à luta pela preservação e orientação contra o câncer, que decepa lares tanto quanto as guerras. Lenços cobrem as cabeças mas desvendam o desejo e a consciência delas pela necessidade de um sistema de saúde justo, acessível e igual para todos. Entre elas estavam as integrantes do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e da Gerência de Articulação de Políticas Públicas para a Mulher (na imagem da Agência Navepress), que iniciam a formação de um fórum e de um Plano Municipal das Mulheres em Corumbá.






terça-feira, 9 de setembro de 2014

Matanza e Filho dos Livres agitam madrugada do Casario Rock


Nathalia Claro
Agência Navepress

Em turnê por Mato Grosso do Sul, a banda Matanza chegou nas terras pantaneiras para a alegria dos fãs do Country-Hardcore.Em um show de uma hora e meia, o vocalista Jimmy foi a estrela da noite, muito bem assessorado pela guitarra rápida de Maurício Nogueira, e pela cozinha composta pelo baixista China e o baterista Jonas. A banda misturou antigos sucessos desde “Santa Madre Cassino” com as mais recentes do disco “Thunder Dope”, ainda inserindo seus populares covers do heavy metal mundial, chegando ao ápice com “Wrathchild” dos deuses do heavy metal britânico Iron Maiden, que levou o público para uma roda punk que só se desfez quando os cariocas deixaram o palco. Embora divertidas, as rodas punks são perigosas e a segurança do local ficou um tanto quanto carente, com alguns fãs chegando a subir em cima do palco sem intervenção.. De todo modo, o feeling “rock'n'roll” foi o que não faltou no Casario Rock, e o Matanza deixou aquela sensação de dever cumprido com a plateia visivelmente estupefata por tanta energia. Para concluir a noite vieram as outras bandas mais novas no cenário musical: os jovens do Asaf e do Osmailow com seus covers e rock alternativo, Eternal Destruction em um trash metal underground naquela face mais old do metal, e os bolivianos Los Salmones, com um indie rock divertido, que fecharam bem a noite memorável no Moinho Cultural. O evento, a cada ano mais maduro, demonstrou que investir em estilos além dos populares pelas bandas se tornou um negócio promissor em Corumbá, que aguarda para 2015 uma dose tão ardente como a de sábado, com uma certeza: Matanza é garantia de ressaca e torcicolo na manhã seguinte. Leia mais no canal Reportagens deste blog. E na edição eletrônica do jornal O Estado você confere outros detalhes no link: https://oestadoms.websiteseguro.com/flip/09-09-2014/22.pdf

domingo, 31 de agosto de 2014

Delinha, tango e rasqueado em Corumbá

Costumo dizer aos amigos que “a sexta-feira é minha”, um jargão que criei nos tempos em que varava as madrugadas de São Paulo percorrendo os cinemas, os teatros, casas de shows e as mesas de sinuca das ruas Augusta e Major Quedinho. Nesta sexta quente de Corumbá, não tive tantas opções como na noite paulistana, mas recebi a benção de ver de bem perto um show de Delinha, a rainha do rasqueado de Mato Grosso do Sul. Mais que isto, tive o privilégio de conversar com ela durante quase uma hora no camarim, enquanto aguardávamos o início do show na Noite da Seresta, no coreto da Praça da Independência. Desfrutei da singela companhia da cantora de 77 anos e tomei um gole quando me ofereceu sua bebida favorita antes de cada show: conhaque com guaraná. João Paulo, o único filho que teve com o ex-marido e parceiro Délio, acerta o som e abre o show com um repertório regional, enquanto pouco a pouco todas as cadeiras vão sendo ocupadas na praça. No show, Delinha canta “O Sol e a Lua”, consagrada ao lado de Délio, agora com João Paulo, “Por onde andei" e outros hits de mais de 50 anos de trajetória. Se dessemos mais atenção às raízes da nossa música e à história de nossos compositores, um show como o de Delinha, gratuito, em praça pública, seria capaz de paralisar Corumbá, mas não é o que acontece, porque no Brasil a cultura é vista como artigo de segunda linha, fragmentada. Grandes compositores e intérpretes como Delinha são esquecidos, em detrimento dos hits populares descartáveis que o público canta em um ano e no seguinte não se lembra mais – seguindo a linha do capitalismo e sua economia de consumo. Quem ainda se lembra de "Ai se eu te pego", de Michel Teló? Pois as composições de Delinha são eternas e há quem saiba dar-lhe o devido valor e colocar no lugar que merece. A Fundação de Cultura, em um gesto ousado, bancou a sua vinda a Corumbá. A mesma Delinha que, em 2012, foi apresentada para um grande público como estrela da música de raízes sul-mato-grosssense no Festival de Chamamé de Corrientes, na Argentina. “Não fiquei rica, mas não sou pobre, moro na mesma Velha Casinha (que virou música) e carrego dentro de mim a riqueza dos grandes momentos”, resume, pouco antes de cantar o tango "Corrientes". Acesse o canal Reportagem para ler mais sobre a trajetória de Delinha e veja a apresentação dela em Corrientes no link 
http://www.youtube.com/watch?v=KAZ9eY7_ckU

domingo, 24 de agosto de 2014

Agosto da Dama da Viola

Agosto, para muitos, pode ser o mês do desgosto. Mas para outros tantos, como eu, é o mês do prazer. Prazer pela boa música. Por exemplo, a música de Helena Meirelles, que se estivesse viva completaria 90 anos no dia 13. Autodidada, benzedeira, lavadeira e parteira que ficou conhecida mesmo como Dama da Viola, o fenômeno brasileiro eleito pela revista Guitar Player como uma das melhores instrumentistas do mundo, comparada a Keith Richards, do Roling Stores, e Eric Clapton, isso em 1993, aos 69 anos. Estrela com reconhecimento tardio, Helena fugiu de casa aos 15 anos, teve o primeiro dos onze filhos aos 17 e três casamentos. Deixou o segundo marido para morar na zona, quando passou a tocar viola nos bordéis do Porto 15 e Presidente Epitácio, Mato Grosso do Sul. Só em 1992, aos 68 anos, apareceu pela primeira vez em um programa de televisão, com Enezita Barroso. A história completa da Dama da Viola, que virou documentário produzido pela GNT (http://www.youtube.com/watch?v=_ljCRJN7t4M) você confere no canal Reportagens desde blog.         

domingo, 29 de junho de 2014

Sob as bênçãos de São Pedro

No dia consagrado a São Pedro, mais um santo se juntou à festa da comunidade em Corumbá: São Benedito. A imagem sempre acompanha o grupo de cururueiros e tocadores de viola de cocho de Cuiabá, que o veneram como protetor. Antes de qualquer apresentação é indispensável que um deles dê uma volta completa na pista com a imagem de São Benedito, filho de escravos africanos, nascido na Itália, um dos santos mais queridos do Brasil. Os cururueiros mato-grossenses apresentaram em Corumbá a arte da dança do siriri ao som da viola de cocho, instrumento típico dos pantaneiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Com o talento natural desses ilustres convidados, que herdaram os traços culturais dos seus ancestrais, Corumbá sediou pelo segundo ano consecutivo o Festival da Viola de Cocho, trazendo da antiga capital o Grupo Folclórico Raízes Cuiabanas, além de gente de Poconé, Cáceres, Livramento e Nova Mutum. Enfim, o que a ditadura militar rachou ao meio em 1977, ao dividir Mato Grosso, vai aos poucos sendo reintegrado por meio do laço cultural que sempre uniu os dois Estados pantaneiros, e apenas havia sido sufocado. De sua parte, Corumbá recriou os grupos de cururu, siriri e viola de cocho, valorizou mestres como Agripino Soares e Sebastião Brandão, e aos poucos reconstrói nacionalmente sua imagem como território onde se respira e vive a cultura pantaneira, e há lugar e alegria para todos os santos. Como cantava a devota Ivone Torres, que há mais de 50 anos percorre as ruas da cidade com a Bandeira de São Pedro coletando donativos para a festa: “Quando São Pedro chegar, eu quero estar no meu lugar/com meus amigos/com a minha gente/com quem da vida já descansou/a semear e espalhar sementes/na terra onde Deus abençoou”. São Pedro, por sua vez, é a esperança dos pescadores numa terra em que os recursos pesqueiros são cada dia mais raros. Inclusive, políticos inescrupulosos criaram um anteprojeto de lei prevendo moratória de cinco anos para a pesca no Pantanal. Querem preservar o pescado e ao mesmo tempo extinguir os pescadores. Se proibirem a pesca, o pescador Paulo da Conceição jura que vai colocar seu barco no alto da ponte do rio Paraguai e interromper o tráfego na BR-262 até que a presidente Dilma apareça com seu helicóptero para dar uma satisfação. E olhem que palavra de pescador sempre tem as bênçãos de São Pedro. 
http://www.oestadoms-flip-page.com.br/flip/30-06-2014/22.pdf


     







quinta-feira, 26 de junho de 2014

100 anos do Centro Espírita de Ladário

Ladário, fundada há 235 anos, bate mais um recorde na sua história. É na Pérola do Pantanal, como é conhecida a cidade banhada pelo rio Paraguai, a 420 km da Capital, que fica o Centro Espírita mais antigo de Mato Grosso do Sul. O Centro Espírita Vicente de Paulo completou neste 26 de junho 100 anos de fundação. A marca merece agora um registro no livro do pesquisador Washington Fernandes, a “História Viva do Espiritismo”, que lista os centros espíritas centenários do Brasil. Um marco da sociedade que busca um mundo melhor para todos. A presidente do centro é a dedicada Maria Iris Bispo Opimi. Para celebrar a data o centro ofereceu uma brilhante palestra da presidente da Federação dos Centros Espíritas de Mato Grosso do Sul, Maria Túlia Bertoni, que destacou os 150 anos do livro kardecista O Evangelho segundo o Espiritismo, em sua sede na avenida 14 de Março. Fundado em 1914 por Abdo Urt, o centro tem como finalidade estudar e praticar o espiritismo como religião, filosofia e ciência, baseando-se nos ensinamentos da doutrina espírita, codificada por Allan Kardec. Além de promover sessões espíritas e culturais, pratica e difunde o Evangelho de Jesus Cristo, tratando a filantropia como princípio e dever da moral cristã. Além de Abdo, o primeiro grupo espírita de Ladário era integrado por João Anastácio Rodrigues (o primeiro presidente), Conrado Correa Ribeiro, Manoel Baptista, João Lemos de Barcelos, Carlos Correa da Costa, Conceição Ribeiro, Anna Luzia da Conceição e Francisco Nunes da Cruz. As primeiras reuniões foram em uma casa de madeira, cedida por uma voluntária. O prédio do Centro Espírita Vicente de Paulo seria inaugurado em 26 de agosto de 1925 na hoje avenida 14 de Março, 685, centro de Ladário. O fundador, Abdo Urt, era natural de Jerusalém, na Palestina, e tinha 23 anos ao chegar a Ladário em 1913 ao lado dos irmãos Jamil, Isaac e Isaías. Os irmãos Jamil e Isaac se casaram com duas irmãs, Maria a Margarida Assad, unindo as duas famílias de origem palestina e síria-libanesa. Em Corumbá, Abdo instalou uma olaria, denominada Água Branca, onde produzia telhas e tijolos. Dedicou sua vida à consolidação e expansão da doutrina espírita na região, apesar de todos os obstáculos e contraposições criados na época. Abdo era tio da saudosa Helô Urt, que foi diretora presidente da Fundação de Cultura de Corumbá. Era um grande admirador de São Vicente de Paulo, considerado “o pai dos pobres”, e deu o nome do santo ao Centro Espírita ladarense. São Vicente de Paulo nasceu em 1581 no sul da França, foi ordenado sacerdote aos 19 anos, declarado pela Igreja Católica como “o patrono das obras de caridade” e canonizado em 1737. 

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Quando a vida começa aos 60

Imaginei que chegaria aos 60 descansando em uma cadeira de balanço, de bermuda e chinelo havaiana, contando os minutos para assistir à novela das oito, cercado pelas brincadeiras dos netinhos. Deu tudo errado. Mas recebi outros tipos de bênçãos que me fazem adotar estilo de vida diferente, e a permanecer nessa estrada como uma metamorfose ambulante. Acho que carrego o espírito dos caçadores e coletores, nômades por natureza e primeiros habitantes do planeta. Nem imaginava passar os primeiros minutos da madrugada deste abençoado 15 de maio circulando e dando minhas tacadas em torno de uma mesa de sinuca, ali na rua Cabral, centro de Corumbá, coração do Pantanal, ao lado de colegas do curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Pois é, aos 60, decidi voltar à vida acadêmica, inspirado na atitude do meu amigo e ex-editor no jornal O Estado de MS, Cláudio Amaral, que aos 64 anos é estudante de História na FMU da Liberdade, em São Paulo. Um curso que traz a magia da Antropologia, da Arqueologia e da Sociologia, que me ensinam a cada nova aula que a verdade está muito mais no meu olhar do que naquilo que é olhado, o que me ajuda a compreender o outro e a respeitar os seus valores. Nessa mesma estrada tenho a missão como dirigente em Corumbá da Arte Mahikari, que este ano completa 50 anos no Brasil. Mahikari é um caminho que percorro há 30 anos, desde que prestei o seminário básico em 1984 no místico bairro oriental da Liberdade, em São Paulo, indicado por uma pessoa que está ao meu lado, em todas as horas, há 35 anos, Vera Lúcia. Mahikari é um movimento espiritualista que me ajudou a melhor interpretar as religiões, a encontrar a verdade e a luz, e a seguir os princípios divinos. É só o que também desejo aos meus amigos, por isso vivo convidando-os para conhecer os ensinamentos no seminário de três dias (em outubro haverá um em Corumbá!). Em abril, estive na Sede Superior da Mahikari, na rua Paracatu, bairro da Saúde, em São Paulo (na imagem, ao lado dos amigos Marcos Akira e Luís Roberto Caprioli) durante a celebração dos 50 anos da Mahikari. Na mesma estrada sobrevivo como jornalista correspondente do diário O Estado de MS, de Campo Grande, e presto serviços como assessor de imprensa aos parceiros Instituto Moinho Cultural e Instituto Homem Pantaneiro (IHP), organizações não-governamentais com sede no Porto Geral, em Corumbá. O Moinho ensina dança, música e educa 360 crianças para a vida. O IHP, com projetos e ações, defende a preservação do Pantanal. Sessenta anos já se foram, e agora fazem parte da memória do gravador espiritual da vida. Recomeço do zero, e o que conta agora são os novos anos que virão, guiados pelas bênçãos e a vontade divina. Espero que sejam anos de muita luz, energia, pesquisas e novos conhecimentos. Como pesquisador, começo a preparar um trabalho sobre os 100 anos do Centro Espírita de Ladário. E descubro que aquele homem conhecido como "o curandeiro que benzia pessoas do outro lado do rio”, é um dos fundadores da entidade. O nome dele: Abdo Urt. Meu tio Abdo. Era um dos quatro irmãos Urt que vieram de Jerusalém, na Palestina, e se estabeleceram em Ladário: ele, meu avô Jamil, Isaac e Isaías. A história bem contada carrega o poder de resgatar o passado para que possamos entender o presente e preparar o futuro. Por isso escolhi História, porque por meio dela me sinto feliz com essa incessante busca da verdade.
PS.: tenho três filhos, todos bem encaminhados, mas nenhum neto.






quinta-feira, 1 de maio de 2014

Erasmo, o Rei e a Democracia

Erasmo Carlos, 72 anos, aprendeu que a vida se renova a cada gesto. Trocou o uísque pela água mineral, fez as pazes com o parceiro Roberto Carlos, montou uma big banda responsável por novos e modernos arranjos para seus velhos sucessos e está aí na estrada, comemorando 50 anos de trabalho. No show da noite de abertura do Festival América do Sul, nesta quarta, 30 de abril, em Corumbá, o Tremendão ainda homenageou o Rei ao apresentar no palco o cover Robson Carlos, que tal qual Roberto atirou rosas vermelhas para a platéia, tocou as mãos no lado esquerdo do peito e sussurrou “são tantas emoções” ao se despedir. Um show completo, digno do seu nome, “Gigante Gentil”, na medida certa para sacudir um festival que também precisa se renovar e se modernizar, reavivando o diálogo, a discussão sociocultural em torno dos principais temas que afligem nossa sofrida América do Sul, inclusive com a temática indígena. O festival criado na gestão Zeca do PT se distanciou culturalmente no findar da era Puccinelli, e precisa portanto ser recriado, para não cair no esquecimento e se tornar um mero produto capitalista, empresarial e político, como quase tudo hoje em dia no País. Na noite de Erasmo e de Roberto cover, foram justamente os políticos os responsáveis pelo maior mico da festa. E sobrou para o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, que viu seu secretário de Obras, Carlos Marun, responder ao xingamento de um cidadão cambaleante que da platéia chamava todo mundo de incompetente, desfiando sua ira contra o sistema. Ao perceber o descontrole do secretário, Puccinelli o conteve e o empurrou para o fundo do palco – um cala-boca público que envolveu de constrangimento as demais autoridades, entre elas os prefeitos Paulo Duarte e José Antonio Assad. Para piorar, um assessor de Marun ainda desceu do palco e partiu para o confronto diante do cidadão pançudo e que tentava, a seu modo, exercitar o livre direito de democracia – palavra, aliás, muitas vezes repetida pelo governador no discurso de abertura do festival. Enquanto isso o governador seguia seu discurso democrático que ressaltava a integração dos povos sul-americanos, diante de uma plateia diminuta e cinco policiais escoltando um cidadão tropego para fora do recinto público. Não era bem a despedida que o governador queria na décima primeira edição do evento. Ainda bem que o festival, na sua essência, é maior do que qualquer atitude para se fazer silenciar e ordenhar um povo.



terça-feira, 18 de março de 2014

Federalizar a Educação é a saída!

Das dez melhores escolas de Mato Grosso do Sul segundo os resultados obtidos por seus alunos no Enem 2012, nove são particulares e apenas uma da rede pública, mas federal: o Colégio Militar de Campo Grande. São nove da Capital e apenas uma do interior. Fica claro que as escolas da rede pública estaduais e municipais não tem vez no sistema de educação num Pais em que ainda impera a desigualdade educacional e no qual a educação é fortemente influenciada pelas necessidades capitalistas. Quem pode mais, tem mais acesso ao ensino. O sistema de cotas é um mero paliatipo criado pelo governo federal para encobrir sua falha. Mas até quando isso vai perdurar? Quando teremos a revolução da educação? Depois da Copa do Mundo, na qual serão gastos R$ 35 bilhões na construção dos estádios? Ou depois da Olimpíada de 2016? Enquanto se espera uma saída, nossas crianças continuam silenciadas pelo analfabetismo. Os recentes números divulgados pelo Ministério da Educação na audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) indicam um fracasso no sistema educacional: o Brasil conta com 3,5 milhões de jovens com 15 anos, dos quais 32 mil são analfabetos e, dentre eles, 10 mil passaram pela escola e mesmo assim saíram sem saber ler e escrever. Mas em vez de ficarmos anos após anos jorrando rios de lágrimas em cima das estatísticas vergonhosas da educação, temos a obrigação de lançar projetos para tirá-la do fundo do buraco. No Brasil, aprendemos que tudo o que é federal é bom, tem qualidade e competência. Municípios e Estados aprendem a buscar recursos em Brasília para cobrir seus rombos. O governo Federal está sempre à disposição para salvar bancos e banqueiros, o agronegócio e pecuaristas, economias e empresários falidos e agora optou por investir mundos e fundos em estádios de futebol. Poucas cabeças decidindo por muitos. É hora então de olhar para Educação como um sistema fracassado, dona de oitavo maior índice de analfabetismo do mundo. É hora de federalizar a Educação brasileira. Urgentemente. Imaginem o Brasil com mais de 150.000 escolas públicas federais e não apenas com os atuais 451. Imaginem a reconstrução de todas as nossas escolas, modernizadas, com padrão internacional, tais quais os mais requintados estádios de futebol recém construídos no País. Imaginem o teto de um professor concursado e graduado da educação em R$ 9 mil mensais, como propõe o senador e professor da Universidade de Brasília, Cristovam Buarque, em opinião que você pode ler no canal Artigos deste blog. Educação federal seria, de verdade, educação para todos. A tese não é nova, é defendida por algumas pessoas conscientes e responsáveis do País, mas precisa ser abraçada por quem tem poder de decisão e verdadeiramente vê nos olhos da criança o futuro olhar da nação. Chega de passar vergonha!




terça-feira, 11 de março de 2014

Amazônia, catástrofe anunciada

O cenário é desolador. Brasileiros da Amazônia e bolivianos de Beni vivem uma tragédia anunciada. No momento em que planeta clama por sustentabilidade, o modelo de capitalismo tresloucado está fazendo com que o Ibama dê licenças ambientais para a construção de usinas hidrelétricas em regiões onde o impacto contra a natureza e o homem é líquido e certo, como uma sentença de morte. A construção e funcionamento das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Estado de Rondônia, provocou a maior cheia do rio Madeira nos últimos 50 anos, com conseqüências desastrosas para brasileiros e o país vizinho. São mais de 60 cidadãos mortos na Bolívia, que conta 55 mil desabrigados em 111 municípios afetados, e perdeu mais de 100 mil cabeças de gado. O rio Madeira, com 18,85 metros em Porto Velho, ultrapassou o recorde de 17,51 metros registrados em 1997. São mais de 1200 famílias desalojadas só na região de Porto Velho, em Rondônia. Agora é tarde, mas o Ministério Público Federal (MPF) abriu processo civil para a suspensão da operação das duas usinas, em conjunto com MPE, OAB e Defensoria Pública da União e de Rondônia. E pede ao Ibama que casse imediatamente as licenças – tarde demais – até que novos estudos sobre os impactos das barragens sejam feitos.  O MPF cita as empresas Energia Sustentável do Brasil (Usinas Jirau) e a Santo Antônio Energia (Usina Santo Antônio) pelo dano moral coletivo, estimado em R$ 100 milhões, e pede indenização. O dinheiro será revertido para as vítimas das enchentes e reconstrução das casas, de acordo com o processo. Ou seja, o MPF busca agora corrigir mais uma grande trapalhada ambiental proporcionada por um governo que pensa no avanço econômico sem medir os impactos ambientais e humanitários. E desta vez, com reflexos no país vizinho. De acordo com o governo da Bolívia, desde 2006 processos são abertos contra a construção das usinas hidrelétricas na Amazônia, com base em estudos de que, por menor que fosse o represamento nos reservatórios, a vazão do rio Madeira seria afetada no período chuvoso. Com muita propriedade, o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro compara as ambições desenvolvimentistas do atual governo à megalomania da ditadura com seu ideário de "Brasil Grande". O comitê das Nações Unidas pede doações para socorrer os desabrigados. Você já viu algum posto de arrecadação de roupas e alimentos? É lamentável o tratamento superficial e quase indiferente dado à Bolívia pelo Jornal Nacional e outros veículos de comunicação de massa se comparados às catástrofes que ocorrem na Europa e Estados Unidos.



quarta-feira, 5 de março de 2014

Maria Quitéria é Multishow

Nem só de Carnaval vive Maria Quitéria, a irreverente personagem criada pelo ator Arce Correa. Após os dias de folia em que protagonizou cenas de humor ao lado da Corte de Momo nos desfiles de fantasias, blocos e escolas de samba de Corumbá, a “deusa de MS”, como se autointitula, prepara um salto para a fama nacional. Ela é uma das 23 selecionadas para concorrer ao Prêmio Multishow de Humor 2014 no Rio de Janeiro, para onde embarca no final do mês. O programa da TV por assinatura estréia em abril. Arce é o único representante do Centro-Oeste e concorre com candidatos do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Bahia, Ceará e Pernambuco. Vai participar dos testes e concorrer a um prêmio de R$ 25 mil. Para cada ocasião, uma fantasia: ao se despedir da passarela do samba, terça-feira de Carnaval, Maria Quitéria se vestia como Cleópatra, a rainha do Egito. Formado em artes cênicas, Arce, de 35 anos, levou Maria Quitéria pelo sétimo ano consecutivo ao Carnaval de Corumbá. Caiu nas graças dos foliões corumbaenses e visitantes, e já está incorporada como integrante da Corte de Momo. Sua função vai muito além de um comediante. Rei e rainhas aprenderam com o ator “como se comportar” em público durante dois dias da capacitação sobre consciência e preparo corporal com o ator, mestre em humor e simpatia. Leia mais na edição no caderno de Arte e Lazer do jornal O Estado no link  http://www.oestadoms.com.br/flip/06-03-2014/p20b.pdf.


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Céu, suor e Cibalena


Quando sai da avenida General Rondon, por volta da 1h da madrugada deste sábado, 1º de março, percebi que o céu estrelado, como há muito não se via neste chuvoso mês de fevereiro, havia abençoado o desfile do Cibalena, o maior bloco de sujo do Carnaval de Corumbá. Acompanhei o desfile ao lado do amigo Euclides Moreira Fernandes, assessor de comunicação da Câmara, e colhi algumas imagens entre os mais de 20 mil rostos que invadiram a avenida com fantasias irreverentes, atrevidas e debochadas – como reza a tradição formada pelos fundadores do Cibalena. O bloco foi criado há 36 anos por um grupo de amigos que se reunia para beber em um bar da rua Ladário com a Cuiabá, e quando pediam uma cibalena, o dono do bar já sabia que se tratava de uma dose de cachaça misturada com cinzano ou algo assim, dependendo do freguês. O bloco foi crescendo, crescendo até se transformar neste fenômeno chamado Cibalena, uma confraternização que desce a avenida todas as sextas-feiras de Carnaval – os homens de saia, batons, perucas loiras e salto alto, ao lado de meninas de bigode. Foram tantas as transformações que demorei alguns segundos para reconhecer que a Musa Cibalena 2014, vencedora do concurso que todo ano se realiza na carroceria de um caminhão, tratava-se do discretíssimo professor Messias Siqueira, de 70 anos. Na noite das estrelas, Messias foi Carmem Miranda, de verde e amarelo da cabeça aos pés, em homenagem à Copa do Mundo. Carmem, cantora portuguesa radicada no Brasil, reinou nos programas de auditório das rádios cariocas nos anos 50 e foi a primeira a levar a imagem pop cultural do Brasil ao Exterior. 

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Sebastião Salgado, 70 anos

Nascido na vila de Conceição do Capim, em Aimorés, interior de Minas Gerais, Sebastião Salgado fez mestrado em Universidade de São Paulo (USP), engajou-se no movimento de esquerda contra a ditadura militar, mudou-se em 1969 para Paris e se apaixonou pelo fotojornalismo após viagens pela África. Neste sábado, 8 de fevereiro, ele completou 70 anos de idade e 45 de trabalho. Em Genesis, seu novo livro, o repórter-fotográfico retrata paisagens e comunidades ainda não impactadas pelo que chamamos de progresso – como mostra nesta página a imagem produzida por ele na África. Para preparar o trabalho, percorreu mais de 30 países durante oito anos. É o que se pode chamar de profissão repórter, aquele incansável perseguidor do inusitado, do inesperado, do inacreditável. Salgado lançou seu livro durante uma exposição neste começo de abril em Londres. A obra traz de mulheres das aldeias do Parque Nacional de Mago, na Etiópia, até xamãs da tribo camaiurá da bacia do Alto Xingu em Mato Grosso. Belíssimas fotos em preto e branco retratadas pela sensibilidade de um profissional que gastou no projeto 1 milhão de euros por ano, financiados em parte por revistas e jornais – sim, jornais – que publicaram suas reportagens ao longo dos oito anos. Outra parte foi coberta por patrocinadores. Tema de capa da revista Bravo! Salgado revela que sua mulher, Lélia Wanick, tem papel crucial no seu trabalho: é responsável pelo design dos livros e pela curadoria das exposições, sem contar que foi ela quem comprou a primeira câmera fotográfica do casal (uma Leica), quando ainda era estudante de arquitetura. E confessa que só abandonou os filmes de rolo e as câmeras convencionais após o atentado de 11 de setembro de 2001, quando o controle nos aeroportos passou a ser insuportável e ele era obrigado a passar suas caixinhas de filmes pelo raio-x, perdendo qualidade. Hoje usa câmeras digitais Canon. A história da vida de Salgado caberia em mais um livro, porque sabe, como poucos, honrar a profissão de repórter. Profissão, aliás, que acaba de ser apontada como a "pior" dos Estados Unidos em recente pesquisa encomendada pelo CareerCast.com, site norte-americano especializado em empregos. Salgado prova o contrário e mostra que tem o melhor emprego do mundo, pois para ele, aos 70 anos, ser repórter é algo muito especial, já lhe rendeu dez livros e o título de embaixador da Unicef. “Não trabalho com a miséria, mas com as pessoas mais pobres. Elas são muito ricas em dignidade e buscam, de forma criativa, uma vida melhor. Quero com isso provocar um debate. A nossa sociedade é muito mentirosa. Ela prega como sendo única a verdade de um pequeno grupo que detém o poder”, afirma. Veja a obra completa dele no link: http://www.elfikurten.com.br/2011/03/o-olhar-sensivel-de-sebastiao-salgado.html


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Caçadores de Bons Exemplos

Quando encerrarem a etapa sul-mato-grossense da expedição, os Caçadores de Bons Exemplos terão catalogados mais de 900 projetos sociais, percorrido mais de 185 mil quilômetros e visitado mais de 500 cidades brasileiras. E no final de 2014 terão passado por todos os Estados do País. Os mineiros Iara e Eduardo caçam bons exemplos, mas recusam indicações oficiais. Para chegar até eles, ouvem pessoas nas ruas, perguntam se conhecem alguma pessoa ou instituição que busca trocar a maldade do mundo pela boa ação. Chegam de surpresa. Não aceitam dinheiro, recusam patrocínio, não têm vinculo político nem religioso. Iara chora toda vez que fala dos projetos, das ações que mudaram a vida das pessoas, dos exemplos de fé e coragem que encontram pelas cidades do País. Ao seu lado, Eduardo é o sustentáculo, o homem que dirige a caminhonete, que ouve e filma todos os movimentos. Eles estão na estrada desde janeiro de 2011 para uma viagem de cinco anos. Em 2015 pretendem vender a caminhonete Toyota, o único bem que restou, e iniciar a última etapa da jornada, no Exterior. “Aí vamos só comas mochilas nas costas”, contam. Encontrei-os sexta-feira, 31 de janeiro, no Instituto Moinho Cultural, onde conheceram o projeto que completa 10 anos e seus fundadores Márcia Rolon e Ângelo Rabelo, cujas histórias se confundem com as de Iara e Eduardo. O Moinho hoje beneficia 360 crianças e promove a inclusão social, tornando-se o símbolo de bom exemplo de Corumbá que repercute em toda a America Latina. Como os “caçadores” vivem correndo, tínhamos apenas cinco minutos para conversar, mas a reportagem se estendeu por quase uma hora. E mais uma vez, a emoção levou Iara às lágrimas. Leia mais no canal Reportagens deste blog. Para ver a reportagem no jornal O Estado acesse http://www.oestadoms.com.br/flip/03-02-2014/p12b.pdf. E para ver o vídeo: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=UBptkd0zLn4. Foto: Agência Navepress.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Bodas de Ouro em Corumbá

Dos versos sacros de “Nossa Senhora do Pantanal”, que compôs em parceria com Aurélio Miranda, às marchinhas irreverentes como “Cururu Feio” ou samba-enredos campeões nas passarelas, Sandro Nemir é dono de um repertório eclético e consagrado, que marca 50 anos da história da música regional e dos carnavais de Corumbá. Ficou conhecido na cidade como o “Dono do Samba”, nem tanto pela mania de batucar nas mesas e cantarolar sempre que vem a inspiração para compor um verso, mas pela vida inteira dedicada a compor canções que embalam as maiores festas populares de Corumbá. Para celebrar o ciclo, ele acaba de gravar o piloto de sua antologia musical no CD “Sandro Nemir e Parceiros – Melhores Momentos, 50 anos” e busca patrocínio para lançamento. Neste 25 de janeiro, ele comemorou 71 anos de vida e 50 como compositor, mas o maior presente, como reconhece, havia ganho em dezembro: o título de cidadão corumbaense dado pela Câmara. Cuiabano de nascimento e com raízes libanesas, passou a infância em Ponta Porã, veio com os pais em 1959 para instalar uma padaria em Corumbá. O primeiro caso de amor do jovem na cidade chamava-se Marilena, a Naná. Ao saber que a moça era fã de Roberto Carlos, passou a cantarolar músicas e usar as facetas do rei da Jovem Guarda para iniciar o namoro. Casaram-se, tiveram um casal de filhos e em dezembro de 2013 celebraram as Bodas de Ouro. Poucos casais têm esse privilégio hoje em dia, não é mesmo?! Visitei Nemir e Naná em uma charmosa vila da rua Delamare, em Corumbá, onde moram, e mais uma vez pude comprovar que a felicidade bate à porta dos mais simples, virtuosos e verdadeiros. Veja o perfil completo de Nemir no canal Reportagens deste blog. Foto: Agência Navepress.


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O Mestre da Viola de Cocho

Assim canta e encanta o cururueiro: “Cortei um pé de seriguela, do fundo do meu quintal, pra fazer uma viola e cantar meu amor por ela”. O cururu vai embalar a roda do siriri, a dança típica do Pantanal, na noite de São Sebastião, 20 de janeiro. Para Sebastião Brandão, a festa vai ter um sabor especial neste dia, quando completa 70 anos bem vividos. Nascido no Pantanal do Castelo, mas registrado como cidadão ladarense, ele rompeu 2014 com o título de Mestre da Viola de Cocho concedido pelo Ministério da Cultura, selecionado no Prêmio Culturas Populares, Edição Mazzaropi. Além do prêmio material de R$ 10 mil está o reconhecimento à obra de um pantaneiro que, muito tempo antes, já era considerado um mestre na cadeia de montagem da viola de cocho, o instrumento típico do Pantanal do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso. Ele escolhe e corta a árvore adequada, separa troncos e galhos, molda a madeira com facão e talhadeira, coloca as cinco cordas de nylon, afina, toca e canta o curururu. E tudo isso ele vai ensinar em uma oficina, em Ladário, a 420 km da Capital, a seus alunos, após ter um projeto aprovado pela Lei Rouanet de incentivo à cultura. Visitei o galpão onde Sebastião produz as violas de cocho, em uma casa com jeito de sítio, entre cães, galinhas e pintinhos, na rua Afonso Pena, bairro Almirante Tamandaré, em Ladário, e trouxe de lá uma bela história, que o leitor pode conferir no canal Reportagens deste blog.