sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Livro descreve extermínio de Gaza desde os anos 60

Neste livro publicado em 2013, há exatos dez anos, pelo sociólogo corumbaense Lejeune Mirhan, tem se a sensação de que acaba de ser escrito para esses tempos. A história se repete, com todos os seus requintes de perversidades. "E se Gaza cair..." começa descrevendo "o ataque do exército israelense na Faixa de Gaza no final dos anos 2008". E prossegue: "ocupação, cerco, bloqueio, ataque maciço de artilharia, testes de novas armas de fabricação israelense, restrição de água...este é o menu servido no cardápio do cotidiano israelense para a população palestina". 

O livro reúne 47 textos dos mais expressivos autores da literatura e imprensa independente e autônoma e lança luz sobre o vergonhoso sistema criado em 1962 e que tem seu apogeu no cerco à Faixa de Gaza, transformada em uma prisão a céu aberto. 

Corumbaense descendente de sírios e hoje um dos articulistas da geopolítica internacional mais requisitados do país, Lejeune descreve assim os acontecimentos de 2008: "a  guerra desencadeada por 22 dias de forma ininterrupta contra uma área densamente povoada como Gaza não foi contra o Hamas. Isso foi um mero pretexto. Não é uma guerra de Israel contra o Hamas, mas um massacre, uma limpeza étnica contra o povo palestino, dentro de um projeto neocolonial. E isso vem desde muito antes da existência do Hamas e mesmo da OLP (Organização para Libertação da Palestina), surgida em 1964". 

O livro esclarece que estamos diante de uma guerra permanente, com o objetivo de extermínio de um povo. Em 2008, conforme relata Lejeune, 53 escolas foram arrasadas, inclusive duas da ONU, onde morreram 40 crianças. E pelo menos dois hospitais foram inteiramente destruídos. Mais de 1500 mortos. Qualquer semelhança com os ataques recentes não é mera coincidência, mesmo porque o bloqueio permanece desde aqueles tempos, com novos e sistemáticos ataques e novas armas, como a munição à base de fósforo branco, que causa graves e prolongadas queimaduras na pele.

Em 2014, conforme lembrou Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, novo bombardeio israelense causou graves danos a 40% das habitações de Gaza, deixando 90% da população sem água adequada. "A população de Gaza vive uma situação análoga a um campo de concentração", constata Ualid Rabah nos dias de hoje. E enquanto Gaza é reduzida a pó, perguntas permanecem sem resposta: quem são os responsáveis por esses crimes de guerra? Quando e por quem serão julgados? 

E se Gaza cair...Lejeune Mirhan (org.), coletânea de 47 textos de autores independentes, 278 páginas. Editora Anita Garibaldi, São Paulo, 2012.



 

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

O Fantástico Relógio da Rute: onde o tempo gira a nosso favor


O Fantástico Relógio da Rute, livro infantojuvenil lançado dia 13 de outubro na Biblioteca Helô Urt, em Corumbá, leva a assinatura da pedagoga campo-grandense Eva Vilma, escritora revelação do Mato Grosso do Sul. Com ilustrações de Paulo Alaor, o livro é endereçado ``para toda criança, grande ou pequena, que em cada canto do mundo descobre no tempo um amigo, não um senhor´´. Rute achou o relógio no baú de lembranças da vó Regina.  Rute com o relógio tem o tempo a seu favor. O relógio com a Rute aprendeu sobre o amor. Para além da poesia que exalta as qualidades do tempo como companheiro nas horas certas e incertas, os olhos de cronista de Eva vão encontrar na periferia de Campo Grande uma menina que vive em um bairro alagado pelas chuvas: a Sara dos lábios de mel, uma amiga de Rute. A personagem é inspirada na garotinha Sarah Arruda Rocha Cantero, de 12 anos, que a escritora conheceu na Rua Poética, em uma comunidade periférica frequentemente afetada pelas enxurradas, e transportou para as páginas do livro. Enquanto olhava para as crianças durante o lançamento do seu livro no bairro Nova Corumbá - o bairro que abriga o lixão municipal de Corumbá – a escritora podia estar diante de outras Saras que vivem os mesmos tormentos tão comuns nas periferias esquecidas. Nada, porém, suficientemente forte para tirar dessas meninas e meninos a dignidade, o talento, a criatividade. Nada que lhes tire os bons predicados do tempo. De uma das garotinhas presentes a escritora ganhou um desenho feito a lápis preto ali mesmo, naquele tempo, um desenho do seu rosto. O Fantástico Relógio da Rute é um livro irretocável, admirável e transformador. Nele, Eva Vilma se descreve como ``uma fantástica menina que tem mil relógios mágicos para dividir seu tempo entre o chão da sala de aula para alfabetização, a missão de ser mãe, a atividade na roda de capoeira, a escrita de livro infantis e de poesias e o ativismo cultural pelo Coletivo Tarja Preta de Literatura Independente´´. Dessa forma, ela sempre teve vontade de achar um relógio mágico com um tempo em que coubessem todas as suas vocações. E conseguiu. Não por milagre, mas por resistência, luta e dedicação. 

Serviço: O Fantástico Relógio da Rute, literatura infantojuvenil, ancestralidade, emoções, Avá Editoria, 2023. Textos: Eva Vilma Souza Barbosa. Ilustrações: Paulo Alaor. Preço de capa: R$ 30,00. 




 


A estudante Rayanne e a escritora Eva: tempo de desenho