sábado, 30 de dezembro de 2017

A arte nos muros da escola e da vida

Rafael e Ronald: arte do grafite no muro da escola
Nelson Urt

"Todo artista tem de ir aonde o povo está", como canta Milton Nascimento em Nos Bailes da Vida, música que escolho para embalar os sonhos e projetos deste novo ano de 2018. Não sou artista, apenas admirador e seguidor de todos os tipos de arte que ajudam a melhorar a vida. Artistas, com certeza, são os estudantes Rafael Freitas e Ronald Oliveira, alunos da Escola Estadual 2 de Setembro, que aparecem nesta imagem dando os retoques finais nos painéis que decoram os muros frontais da escola que fica em frente ao Coreto da avenida 14 de Março, nestas horas finais de 2017 na chuvosa mas mormacenta Ladário. De pichadores a grafiteiros, de incompreendidos a desenhistas. E assim a sociedade vai mudando a sua maneira de enxergar as atitudes e escolha dos jovens, com a ajuda da educação escolar. O que vocês estão vendo faz parte do Projeto de Grafitagem da escola, que pela segunda vez tem os muros recobertos pela arte dos meninos grafiteiros. É a arte que abraça a escola para torná-la um espaço mais humano, mais acessível e mais atraente para o aprendizado,  juntamente com a literatura, a dança, o teatro e outras interdisciplinaridades. 
A mesma escola lançou em 2017 o Projeto de Rádio, com programas em circuito interno produzido e apresentado pelos alunos, além de uma Aula de Campo na Estrada Parque do Pantanal elaborada pelo professor de História, Jeferson Domingos, recém-formado em Teologia na UCDB. Um grande abraço a todos os que tratam a cultura e a educação com repeito e prioridade, como esperança para melhorar as relações humanas no País. Feliz 2018!

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Poetas corumbaenses lançam 101 Reinvenções


Andresa, Eliney, Denise e Benedito: poetas no 101 Reivenções
Nelson Urt

Lançado simultaneamente em Corumbá, Campo Grande e Dourados, o livro 101 Reinvenções (Editora Life) é uma coletânea de poesias em homenagem a Manoel de Barros. Mais que isso, propõe um estudo sobre a influência da linguagem do poeta sobre a criação literária do Mato Grosso do Sul, de acordo com os organizadores, Ana Maria Bernardellie Fábio Gondim. Poetas corumbaenses e ladarenses reuniram-se neste dia 19 de dezembro na Casa de Leitura Dr.Gabriel Vandoni para lançar o livro, com apoio da Fundação de Cultura do município. Benedito C.G.Lima, presidente da Academia de Literatura e Estudos de Corumbá (Alec),Eliney Gaertner, Denise Campos e Andresa Bernardo, participantes da coletânea,  representaram os colegas escritores no encontro. Em vinte dias, este é o terceiro livro de poesias lançado em Corumbá, e com escritores da região de fronteira. O que comprova os novos tempos da literatura entre nós 40 anos após a criação da Alec por Benedito C.G.Lima. Os garotos rebeldes que fundaram a Alec e decidiram lançar o jornal estudantil Nossa Mensagem e outras publicações literárias nos anos 1970 hoje, veteranos, são os porta-vozes culturais da cidade. 
Poetas naturalmente influenciados pela transgressão poética de Manoel de Barros, mas que também encontram na rica natureza pantaneira, na herança do antigo Mato Grosso e nos vizinhos hermanos paraguaios e bolivianos uma identidade de fronteira e um jeito peculiar de ver e contar a vida. Como nestes versos do poeta Eliney Gaertner: "Terra de águas, fogo/Ferro, cal, areias/Fim de mundo/Terra branca...Por te amar, fui encantado/Tornei-me tronco/Tenho os pés fincados aqui/A alma já não me pertence/Enraizou na terra!"
Serviço: reserve seu livro "101 Reinvenções" pelo e-mail profandresa1901@gmail.com ou pelo celular 67-998499891.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A despedida de Beatriz Urt

Beia, entre os filhos Margareth e Nelson: legado para futuras gerações
Pontinhos felizes compõem a grande história de vida de Beatriz Bispo Urt ou simplesmente Beia. Minha mãe. E que mãe! Nunca escrevi sobre ela. Julgava desnecessário cobri-la de elogios. Dancei com ela uma valsa na formatura do ginásio de Ladário. Dancei com ela um bolero quando foi homenageada pelo grupo Bella Idade no SSCH. Beia gostava de dançar. E gostava de dançar mais ainda com seu par predileto, Otávio, meu pai. Disputavam os primeiros lugares nos concursos de dança do Ladário Atlético Clube. Beia gostava de cantar, de costurar, de preparar comidas deliciosas. Gostava de artesanato. Gostava de se vestir bem, de se pentear bem, de se apresentar bem, e até montou um salão de beleza em Ladário. Era devota de Nossa Senhora dos Remédios e pertenceu à Legião de Maria. Juntos, íamos à Missa do Galo para celebrar a passagem do ano. Juntos, fomos acampar na beira da represa de Jurumirim, em Avaré. Moramos juntos em São Paulo. E juntos praticamos a Arte Mahikari. Beia passou 27 anos de sua vida sem Otávio, vítima de ataque cardíaco em 1990.Mas não desistiu da vida. Morou com a irmã Biri em Natal e se divertiu na praia da Redinha. Juntos, passamos uma temporada em São Paulo. Celebramos um Réveillon juntos e brindamos com champanhe na avenida Paulista. Enfim, Beia sempre esteve presente nos melhores momentos de minha vida. Pontinhos felizes que na teoria do Eterno Retorno, de Nietzsche, compõem o que conhecemos por felicidade, porque gostaríamos que durassem para sempre. Neste 14 de dezembro, aos 93 anos, ela deu o último suspiro e se desligou serenamente deste mundo material, deixando dois filhos - eu e  Margareth - sete netos, onze bisnetos, e como legado a herança de como viver com dignidade. Reorganizou-se como partículas de energia no infinito. "Foi uma referência como mãe de família, algo que está em falta nos dias de hoje", definiu o diácono Victor, na sua oração de despedida na Capela Cristo Rei.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Banda leva a polca rock ao Campus Pantanal

Rodrigo Sater, Guga Borba, Jerry e Leandro no Campus Pantanal
Nelson Urt

No show que marca os 40 anos de criação de Mato Grosso do Sul,  a banda Clube do Litoral Central levou nesta terça, 12 de dezembro, para a unidade 2 do Campus Pantanal (CPAN) da UFMS, em uma hora, uma seleção de suas melhores canções e apresentou para a nova geração a polca rock. Como diz o nome, um mix da frenética polca paraguaia com os acordes das guitarras do rock. Para quem gosta de boa música, um show completo, de raízes, que reune as principais vertentes da música de Mato Grosso do Sul. A banda abriu a apresentação com Vida Cigana (de Geraldo Espíndola) e encerrou com Polca Outra Vez, composição de Geraldo Roca que recebeu novo arranjo do grupo.
Ju Souc: baterista e vocal
O Clube do Litoral Central trouxe a Corumbá Rodrigo Sater, Ju Souc, Jerry Espindola, Guga Borba, Leandro Perez e Rodrigo Teixeira. Um dos destaques é a vocal e baterista Juliana de Souza Conceição ou simplesmente Ju Souc, revelação da música regional. Rodrigo Teixeira e Jerry Espíndola integram o grupo Hermanos Irmãos (ao lado de Márcio de Camilo).
Escritor e pesquisador, mestre em Comunicação pela UFMS, Rodrigo Teixeira lançou recentemente o livro Prata da Casa, um panorama histórico sobre os pioneiros da música de MS, pela Editora UFMS, à venda na Casa do Artesão de Campo Grande.
O show é resultado da parceria do Governo do Estado e o projeto de extensão da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Excelente iniciativa para incrementar o calendário cultural de Corumbá, ainda carente de bandas que possam formar uma plateia habituada a ouvir o som das raízes da música regional. A sugestão é para que o show se repita na semana de calouros de 2018 no anfiteatro Salomão Baruki. (fotos: Navepress).

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Alaaa guri vôti!: comédia com sotaque corumbaense

Elenco da peça encenada na Unidade III da UFMS: vitoriosos
Nelson Urt

Na caliente noite corumbaense em que 45 poetas da cidade lançavam no Sesc uma coletânea de poesias em um livro de 256 páginas, enquanto a TV mostrava a decisão da Copa Libertadores entre os gaúchos do Grêmio contra os argentinos do Lanus, os acadêmicos do 6º Semestre do Campus Pantanal da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) deram um banho de bola e também sentiram o sabor da vitória. Naquele mesmo momento, o desafio deles foi apresentar a peça "Alaaa Guri Vôti!" dentro da disciplina de Prática de Ensino de História, sob a batuta do professor Waldson Diniz. E assim como o poeta Benedito C.G.Lima, organizador da mostra dos escritores de Corumbá, e do treinador Renato Gaúcho, coroado campeão da Libertadores na Argentina, os bravos atores amadores da História deram conta do recado e souberam fazer a lição de casa. 
O resultado é que a plateia, que quase lotou o auditório da UFMS no Porto Geral, gargalhou do começo ao fim com as piadas e tiradas encenadas por Fernanda, Júlio, Rutineia, Karina, Atiene, Cleves, Dorival, Fernando, Daniele, Rebeca, Adriane e Sara. A tenda da mãe de santo que benze e prevê o futuro jogando búzios, os aposentados jogadores de baralho da praça, o bate-boca sobre a política municipal, a estudante que procura emprego, as fofoqueiras de plantão,  a comerciante boliviana da feirinha, a mãe que vê no casamento com militar uma carreira promissora para a filha, ninguém escapa na peça. O espetáculo retrata com fino bom humor, criatividade e fortes traços de caricatura o modo de vida do homem e da mulher de Corumbá e Ladário. "Alaa guri vôti!" transforma os traços culturais e o jeito de ser corumbaense e ladarense em uma saborosa comédia em cinco atos. Parabéns aos futuros professores de História, da arte e da vida!

sábado, 25 de novembro de 2017

Frei Mariano, o livro: de Corumbá para o País

Peninha e o livro ilustrado sobre a vida de Frei Mariano (Navepress)
Nelson Urt

O livro "Um altar para as valorosas sandálias de Frei Mariano de Bagnaia", da escritora e artista plástica Marlene Mourão, a Peninha, lançado neste dia 23 de novembro no Sesc Corumbá, já está à venda, por R$ 15, em pontos especiais da Cidade Branca. A obra pode ser adquirida na rua 13 de junho, 1460, apt 06, Vila Dedé, entre 7 de Setembro e Major Gama, diretamente com a escritora. Ou no Restaurante Rodeio,na rua 13 de Junho. Em breve o livro será distribuído nas livrarias de Campo Grande pela Editora Life. Os mil exemplares da obra contaram com recursos do Fundo de Investimentos Culturais do Pantanal (FIC). O livro também pode ser comprado de qualquer parte do Brasil e entregue pelos Correios, bastando encomendar pelo facebook de Marlene Mourão ou whatsApp 67-999-593758, com  comprovante de depósito de R$ 20 na agência bancária 0014-0, conta corrente 4250-1. A obra, ilustrada pela própria Peninha, famosa por seus desenhos em bico de pena e pinturas em aquarela, é resultado de apurada pesquisa histórica da lenda de Frei Mariano, que dá nome à principal rua de Corumbá e teria rogado uma maldição na cidade. Peninha dedica o livro à Helô Urt, ex-presidente da Fundação de Cultura, falecida em 2011, que deixou como legado o resgate das tradições culturais da cidade, deu voz e espaço às minorias e criou o bloco As Sandálias de Frei Mariano, que sempre abre na quarta à noite o Carnaval de Corumbá. Peninha define Frei Mariano como "herói de guerra, educador, pregador imperial, conciliador, evangelizador e construtor de templos". Foi preso e torturado em Assunção durante a Guerra do Paraguai. 



segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A resistência dos negros conscientes

Nelson Urt
O Grupo Argos de Teatro, dirigido pelo incansável Anibal Monzon (foto), argentino radicado em Ladário, protagonizou mais uma importante ação com um encontro cultural no auditório da Câmara Municipal para celebrar o Dia da Consciência Negra. A festa contou com a energia da juventude boliviana, representada pelo grupo de Ballet Municipal Pukinunkúx (Bailado da Alegria, no idioma quechua), de Puerto Quijarro. Apresentou-se também um grupo de capoeira, como representante da resistência negra no Brasil. Resistência lembrada nas ardentes palavras do professor e jornalista Schabib Hany, do poeta e ativista Benedito C.G.Lima, da diretora do Moinho Cultural Márcia Rolon, da presidente do Imnegra (Instituto da Mulher Negra), Edmir de Paulo; e das professoras Cristiane Silva e Laura Segóvia. 
Ballet boliviano de Puerto Quijarro encanta na festa
Resistência abordada no dueto teatral de artistas Anibal Monzon e Virgilio Miranda. E na poesia declamada por Benedito, "Quem disse que sou negro?", um clamor contra o racismo e o preconceito que ainda hoje abala e polariza a sociedade brasileira, onde a maioria, mesmo mestiça, insiste em se proclamar branca e ignorar seus lanços afrodescendentes. Na verdade, ignoram os 6 milhões de africanos, nossos descendentes, que aqui chegaram acorrentados e escravizados no Brasil Colonial, mas que aqui fincaram suas raízes étnicas e culturais. Edmir lembrou a “dívida histórica” com os negros no país com o sistema escravocrata mais duradouro do mundo e da mão de obra escrava usada para a construção dos casarios de Corumbá. Schabib, por sua vez, destacou o papel da cultura em aflorar a consciência nesse “momento de resistência”.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Quem ganhou com a Revolução Russa

Auditório da UFMS lota durante encontro sobre revolução russa
Nelson Urt

A Revolução Russa, que neste novembro celebra 100 anos de história, deixou legados importantes para a humanidade, como educação universal e pública, a saúde gratuita, a regulamentação das jornadas e das condições trabalhistas, os direitos civis das mulheres, entre outros. Foi uma extensão da Revolução Francesa em termos de conquistas de direitos sociais, conforme análise do filósofo francês René Rémond. Um terço da humanidade viveu, durante esse período, sob sistemas de governo e economias derivados de variações da fórmula social proposta pelo marxismo-leninismo surgido em 1917. Muitas medidas adotadas até hoje pelo capitalismo tem como estratégia conter um pouco provável despertar comunista, como a criação do Estado de Bem-estar social. Também se deve aos russos a expansão da social-democracia, presente em alguns países europeus. São antídotos para manter o sono do gigante adormecido, conhecido hoje apenas como a Rússia de Putin. Este e outros assuntos foram tema de debates durante o encontro 100 anos da Revolução e o Nascimento da Psicologia Soviética, organizado pelo curso de Psicologia do Campus Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) nesta quinta, 9 de novembro, no auditório do bloco H. A mesa redonda contou com os professores Ronny Machado de Moraes (Psicologia/UFMS), Gilson Lima Domingos (História/IFMS), André Motta (Sociologia/IFMS) e Cláudia Mondini (Psicologia/UFMS), com intermediação de Ilidio Roda Neves (Psicologia/UFMS). Quem está em busca de mais conhecimento sobre o marxismo pode participar do encontro do grupo Societá, com estudos sobre o tema aos sábados às 16h na sede do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) em Corumbá. Para 2018 os professores anunciam o II Encontro de Psicologia Sócio-Histórica no Campus Pantanal da UFMS.


terça-feira, 12 de setembro de 2017

Na 'europeia' Argentina, índios invisíveis são 950 mil

Palestra na UFMS mostra realidade argentina na relação com migrantes
Nelson Urt

Em Corumbá, as antropólogas argentinas Gabriela Novaro e Ana Carolina Hecht ajudam a esclarecer alguns pontos obscuros ou completamente desconhecidos para nós brasileiros em relação ao país vizinho. Sim, grande parte dos argentinos se considera "europeu" por influência do imigrante na formação da população até o século XIX e pelo desejo de desvincular seus laços com o restante da América Latina."O eurocentrismo ainda é muito forte, principalmente na Grande Buenos Aires", afirma Gabriela Novaro, com base em recente pesquisa. Portanto, não se trata de mero senso comum. Some-se a isso a onda de neoliberalismo que também domina a Argentina e a febre nacionalista que vê em todo imigrante o "outro" que vem para "roubar" postos de trabalho e teremos uma situação constrangedora para os povos indígenas e migrantes bolivianos que vivem na Argentina.
Outro mito que cai por terra graças aos estudos antropológicos é de que não há mais indígenas na Argentina. O Censo de lá cadastrou cerca de 950 mil indígenas (mapuches, m'bya guarani, tobas, collas, matacos, chiriguanos), quase o mesmo número registrado pelo Censo do IBGE 2010 para o Brasil. Esqueça portanto aquele senso comum de que todos os indígenas que viviam na Argentina foram dizimados pelos colonizadores - essa é mais um história distorcida inventada pelas classes dominantes para passar uma borracha no passado dos povos originários. Lembre-se: ninguém quer dividir um palmo sequer de terra com os indígenas. E, como o Brasil, a Argentina também é o país do agronegócio. Há uma aldeia da etnia toba na Grande Buenos Aires. E eles ainda cultivam a língua toba, apesar de todo o empenho das políticas públicas de fazê-los falar apenas o espanhol, a língua dominante.
Antropóloga Ana Carolina Hecht fez palestra em Corumbá
Os brasileiros acreditam que a onda de migração de bolivianos, em busca de trabalho, passa por Corumbá e chega a São Paulo. Outro mito derrubado pelas antropólogas. A presença de bolivianos na Argentina é tão forte quanto no Brasil. Ocorre que eles são tratados como "invisíveis", migrantes indesejáveis, discriminados pela política neoliberal eurocentrista. "Há uma inclusão subordinada", diz Ana Carolina Hecht. A capa de uma revista reflete o que parte da imprensa local pretende difundir: "Invasão silenciosa", diz a manchete, com a imagem de um homem desdentado, com ar aterrorizante, ameaçador, representando a onda de migração.
Como os 20 mil bolivianos de São Paulo vivendo a 1,2 mil km da fronteira, a Argentina convive com o mesmo fenômeno em Buenos Aires, distante por exemplo da fronteiriça Salta. E lá os traços da xenofobia também estão presentes: "Argentino com fome, boliviano em (caminhonete) 4 por 4", escreveu um xenófobo na poltrona de um ônibus comercial em Buenos Aires, em imagem colhida pelas antropólogas.
Argentinos que se auto-imaginam brancos usam a expressão "cabecitas negras" para se referir a pobres da periferia, sejam indígenas, bolivianos ou paraguaios. No século XX serão os paraguaios os responsáveis pela maior onda de imigração na Argentina.
Esses e outros temas angustiantes nas relações humanas foram abordados pelas antropólogas e professoras da Univerisdade de Buenos Aires Gabriela Novaro e Ana Carolina Hecht durante a palestra "Educação, povos indígenas e migrantes na Argentina" na unidade III do Campus Pantanal (Universidade Federal de Mato Grosso Sul), em Corumbá, nesta segunda, 11 de setembro, com coordenação do professor Marco Aurélio Machado, do Mestrado em Estudos Fronteiriços do CPAN.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Palhaça Ximbica encanta estudantes de Ladário

Ximbica traz espetáculo premiado para o ginásio da Escola Marquês
Nelson Urt

A palhaça Ximbica Lu Sandra da Silva ou simplesmente Ximbica trouxe muita diversão para as crianças de Ladário com seu premiado espetáculo "Que bom que você veio", apresentado nesta quinta, 24 de agosto, no ginásio da Escola Municipal Marquês de Tamandaré, que completa dez anos de atividades no bairro Nova Aliança. Depois de percorrer mais de 20 mil km em quatro Estados, a atriz gaúcha Rose Battistella chega à Pérola do Pantanal com sua proposta de resgatar a inocência das crianças nas pessoas e despertar valores como o amor e a alegria. No papel da mulher palhaço Ximbica, Rose usa "magia, mistério e sedução" na tentativa de encontrar um namorado na cidade. Entre tramas e trapalhadas, consegue "roubar" um beijo de um professor. E provoca longas gargalhadas do público quase todo infantil. O espetáculo, contemplado pela Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, recebeu o Prêmio Artes Cênicas de Minas Gerais. De  Ladário vai percorrer outras quatro cidades de Mato Grosso do Sul e encerrar a turnê.
Rose faz parte da nova geração de palhaças brasileiras, que romperam as barreiras do preconceito no papel até o século passado reservado apenas aos homens. Uma importante contribuição para essa reconstrução é a apresentação do documentário "Minha avó era palhaço", sobre a história de Xamego, o primeiro palhaço negro do Brasil, interpretado por uma mulher, Maria Elisa Alves dos Reis. O filme tem a direção da neta dela, Mariana Gabriel, filha do jornalista paulista Roberto Salim. Como Rose no papel de Ximbica, Mariana hoje diverte o mundo como a palhaça Birota. A figura da palhaça se popularizou no Brasil apenas nos anos 1980 com o surgimento das escolas de circo. Com uma vantagem: são espetáculos para toda a família, sem restrição de idade, que encantam adultos e crianças.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Oficina de jornalismo amplia conhecimento de estudantes da Marquês

Nelson Urt

Os primeiros passos para a elaboração do Marco, o jornal da Marquês, foram dados neste dia 8 de agosto, que não é o mês do desgosto, mas de fazermos com que os jovens tomem gosto pelo conhecimento e a comunicação. Coordenei uma oficina de jornalismo voltada para estudantes do ensino fundamental da Escola Municipal Marquês de Tamandaré, como parte do Projeto Aliança Tamandaré, encabeçado pelos professores e pela direção da escola situada no bairro Nova Aliança, em Ladário.
Cercado por jovens com imenso interesse em descobrir segredos da imprensa, mergulhamos na história para trazer de volta o alemão Hermann Gutemberg, que em 1430 desenvolve a impressão com tipos móveis de metal, revoluciona o conhecimento científico, as artes e a religião, com um papel decisivo na Reforma Protestante.
As bíblias traduzidas do latim para o alemão revigoram o movimento contra o monopólio da Igreja Católica no momento em que florescia o Renascimento e os ideais de liberdade individual e da crença no poder da razão.
Os primeiros jornais começam a circular em 1606 na Bélgica e em 1609 na Alemanha. No Brasil os pioneiros são o Correio Braziliense, ainda em circulação, e a Gazeta do Rio de Janeiro a partir de 1808.
Viajamos de retorno ao presente até chegarmos ao ponto em que cada bairro, faculdade, cada escola cria o seu próprio jornal, para melhor interagir com a comunidade e com a sociedade como todo. É o caminho que pretende percorrer o Marco, o jornal da Marquês, como incentivo para que cada estudante seja protagonista da história da cidade e da sua região, ao mesmo tempo em que desperta seu interesse pela leitura e pela redação.
Além de jornalismo, o  Projeto Aliança Tamandaré traz para os estudantes oficinas de teatro, de música, de libras, reforçando o currículo escolar e contribuindo para o aprendizado e o desenvolvimento do aluno. Esta, de fato, é uma ótima notícia para a educação.







domingo, 4 de junho de 2017

Criminalizados, nossos jovens estão morrendo à bala

Grafite em muro de uma escola da rede pública em Ladário-MS, de 2017
Nelson Urt

Por muito tempo tentaram convencer a população que o Brasil é um país cordial, acolhedor, solidário, com igualdade racial e onde prevalece a cultura da paz. É hora de rever esses conceitos. A imagem do país do futebol, da mulata e do carnaval que por muito tempo as elites dominantes venderam para o exterior como forma de atrair turistas e seus dólares é um processo em desconstrução. Não tem mais como dissimular.
A máscara caiu, fazia parte de uma fantasia, criada pelo Estado para construir um modelo de Nação do novo mundo por meio de uma história alienante. "Dessa forma, a história pode adquirir um caráter de fuga, ao invés de caráter integrador" (Pinsky, 1992). 
Até mesmo a ideia de “país da juventude” tentaram emplacar como forma de transmitir uma dádiva que, na prática, nunca tivemos, ou seja, o respeito aos jovens, independentemente de sua classe social, de sua cor, de sua religião.
Outro slogan famoso que tentaram nos meter goela abaixo é de que moramos no “país do futuro”. Este é um artifício raso de virar as costas aos problemas do presente e vislumbrar somente o abstrato, o que ainda virá pela frente, tratando a vida como uma ideia, nunca como realidade.
Olhando para o presente, vemos um quadro estarrecedor para nossos jovens. Eles estão literalmente morrendo à bala. Que país é este? Do futuro? Da juventude? Um país onde por ano morrem mais de 25 mil jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos de idade por homicídio com arma de fogo. Mais exatamente 25.255, conforme nos revela o Mapa da Violência 2016 divulgado recentemente pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (veja matéria completa no site www.navepress.com.br)
Os números do Mapa da Violência refletem a herança de 20 anos de ditadura e uma sequência de governos e desgovernos corruptos, o uso indevido das verbas públicas e a ausência de uma verdadeira política que fortaleça a educação. A tentativa de reduzir os índices de pobreza, de elevar o poder de acesso à educação e cultura, de tornar protagonistas as classes desfavorecidas, foi ceifada por mais um golpe.
Longe de usar os índices apenas como munição barata para tripudiar a imagem do país, o que me interessa é levar nossos jovens à reflexão sobre como chegamos ao ponto de nos tornarmos o décimo país mais violento do mundo quando se trata de homicídios com arma de fogo, enquanto nossos políticos e economistas, capitalistas, insistem em bater na tecla de que somos uma potência emergente, democrática, navegando nas águas do neoliberalismo global.
Quem retrucar a esses números e apontar as favelas e os traficantes que tomam conta dos morros do Rio de Janeiro como causadores de tão volumosos índices vai perder tempo. A culpa não é do Rio, nem de São Paulo, nem das grades metrópoles. Muito pelo contrário: com a taxa de 21,5 mortes por cada 100 mil habitantes, o Rio de Janeiro é apenas o 15º Estado em homicídios por arma de fogo no país. E São Paulo, que pode ser considerada um caldeirão, possui hoje taxa de 8,2 e está entre as quatro menos violentas da lista.
Os Estados de maior violência homicida são, pela ordem, Alagoas, Ceará e Sergipe. Estados pobres. A capital mais violenta nesses quesitos no pais é Fortaleza. E a cidade com maior número de vítimas por homicídios à bala é Mata de São João, na Bahia.
O Brasil vive uma epidemia de homicídios por arma de fogo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Por quê? É preciso responder por quê? Concentração de renda, desigualdade social, desemprego, apenas para citar o básico. Mas especificamente com relação à juventude, há uma onda de criminalização do jovem. Para ser mais exato, o jovem negro e pobre. Ser pobre e negro hoje no Brasil metido a nobre, branco e rico é um castigo muito pesado. Para esses, o “país da juventude” fica em outro lugar do planeta, menos aqui.
Os números do Mapa da Violência são claros ao apontar que morrem 2,6 vezes mais negros do que brancos em homicídios com arma de fogo.
Em violência homicida por arma de fogo o Brasil teve 44.861 mortes em 2014 e ocupa pior situação que os vizinhos Argentina, Chile, Peru e Bolívia. E também perde para Cuba, que possui os mesmos índices de países europeus como França, Noruega, Suécia: apenas 0,2 mortes por cada 100 mil habitantes. 
Não era para Cuba que deveriam rumar os brasileiros descontentes, com ideias socialistas? Pois é, pelo menos na ilha, “pobre, comunista e decadente”, jovens negros não são criminalizados. E muitos estão se tornando médicos.
No "livre e democrático" Brasil, os homicídios à bala fazem 123 vítimas por dia, cinco a cada hora, e assim supera países europeus onde frequentemente ocorrem chacinas, atentados e guerras civis.
Experimentamos nosso próprio veneno. O Brasil é o quarto maior exportador de armas de fogo no mundo, atrás apenas de Estados Unidos, Itália e Alemanha. Portanto, uma potência internacional nesse quesito. Trocaríamos esse status por mais educação.
Vivemos, de fato, em um país militarizado, onde forças armadas agora são enviadas às ruas para deter manifestações populares e onde a polícia recebe ordens para invadir moradias da periferia em busca de criminosos, enquanto balas perdidas, ou com endereço certo, tiram a vida de trabalhadores, estudantes, crianças. E a vítima é quase sempre é a mesma: o brasileiro jovem, pobre e negro.
Chegamos a um ponto em que precisamos rever conceitos e reescrever a nossa história com um profundo processo de mudanças sociais. O país que temos não é o país que queremos. Chega de fantasia, de decretos megalomaníacos, de malversação dos recursos públicos, de boicote à educação dos nossos jovens.

REFERÊNCIAS
PINSKY, Jaime, p.18, 1992, O Ensino de História e a criação do fato, Editora Contexto

Leia mais a respeito em: http://www.navepress.com.br/VIOLENCIA.php


segunda-feira, 15 de maio de 2017

E nossas conquistas sociais vão para o ralo


Neste 15 de maio chuvoso em Ladário, nas barrancas do rio Paraguai, sul do Pantanal, fronteira com a Bolívia, recebo as congratulações pelos 63 anos de idade, aos quais incluo 45 de jornalismo e 38 de casamento, três filhos. Incentivos pessoais para comemorar são muitos, pela saúde sem pressão alta, os amigos que enviam mensagens via face de pontos distantes do País,  a vida imperturbável da bucólica Ladário. Fecho a noite com uma aula de Educação Especial ao lado dos colegas do curso de História na UFMS e, em casa, um bolo de aniversário entre família. A saúde vai bem, mas há um coração entristecido diante deste medonho momento político do País, que vive um penoso processo de desconstrução de suas conquistas sociais e democráticas, vitimado por algozes do sistema chamado de neoliberalismo. Sistema com a benção de uma grande ala da imprensa que se rendeu ao mercantilismo, ou seja, quem manda é o capital e os interesses de mercado do empresário da comunicação. Imprensa chapa branca, como diziam na época em que o Estadão era reconhecido como o paladino da democracia e o regime militar torturava jornalistas supostamente de esquerda e “caçava” comunistas. Hoje os tempos são outros. Vigora uma democracia disfarçada que tortura o trabalhador. Nunca se plantou tanta notícia, nunca se forjou tanta opinião, nunca houve tanto prejulgamento na história das comunicações como nesta segunda década do século XXI. Aos neoliberais de direita vale tudo para varrer do mapa petistas, simpatizantes ou qualquer outra corrente que lute pelas causas sociais do trabalhador, do homem do campo, do indígena, do quilombola, do homem sem emprego, do pobre. Após o golpe, o Estado desmantela conquistas que o País conservava desde o governo trabalhista de Vargas, remodeladas e revigoradas pelos governos petistas. Direitos da Previdência, Base Nacional Curricular da Educação (leia-se Ciências Humanas), direitos indígenas, direitos dos trabalhadores, direitos civis estão indo literalmente para o ralo. Como cidadão, não tenho motivos para comemorar este 15 de maio pós-dia das mães. O que vejo é uma Nação de luto, gente que se veste de preto e vai para as ruas se manifestar e exigir a manutenção de suas conquistas e direitos civis, e contra a criminalização dos movimentos sociais, enquanto é repelida com bombas de gás. Ou, como fazem os indígenas, pintados para a guerra. Preocupante ainda é ver que uma legião de trabalhadores pobres compactua, ingenuamente, com este jogo orquestrado para fortalecer as elites, os donos do poder. Trabalhadores pobres de direita, que reproduzem o discurso simplista das classes dominantes, de que tudo está errado e deve mudar para acabar com a com a corrupção. Encerro com as palavras da historiadora e ativista britânica Mary Beard: “O sucesso dos ricos era uma dádiva concedida pelos pobres”, diz, referindo-se à Roma antiga, tentando por analogismo compreender o comportamento do homem moderno. Pois esta é a máxima que norteia o neoliberal Brasil de hoje. Uma pena. O neoliberalismo ajuda a tirar o que temos e o que não temos. Não somos o Reino Unido. (Leia reportagens no site www.navepress.com.br





terça-feira, 2 de maio de 2017

Candidatos a diretor debatem carências do Campus Pantanal

Momento político histórico no Campus Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Mais de quinhentos acadêmicos de todos os cursos lotaram o anfiteatro Salomão Baruki na noite desta terça, 2 de maio, para acompanhar o debate entre os quatro candidatos a diretor do campus, os professores Aguinaldo Silva (Geografia), Jorge de Souza Pinto  (Ciências Contábeis), Marcelo Dias (Matemática) e Waldson Diniz (História). Eles disputam os votos de professores, técnicos administrativos e alunos na eleição deste dia 4 de maio. Debate que transcorreu em alto nível, com respeito e espírito democrático, cada candidato preocupado em mostrar suas propostas para a melhoria do CPAN, missão nada fácil nesses tempos de regime de exceção e estrangulamento da Constituinte Cidadã. 

A crescente evasão de alunos (350 dos matriculados desistiram ou migraram para outros centros), as deficiências na infraestrutura (o Bloco C da unidade 1, recém construído, foi interditado) e a falta de uma discussão política que aumente a representatividade do Campus Pantanal diante da reitoria da Capital foram os pontos mais relevantes tocados pelos candidatos. Outro ponto muito criticado foi a desigualdade do sistema eleitoral, hierarquizante e burocrático, que dá aos votos de estudantes e técnicos apenas o peso 15% na proporção com os votos dos professores, com peso 70%. (Atualizado para correção em 03/05, 08h47)




quarta-feira, 19 de abril de 2017

O adeus de Benedita, a guerreira do Taquari


Benedita ao lado de Jane Contu, ex-secretária de Assistência Social
Benedita não quis esperar pela festa dos seus 95 anos, dia 11 de maio, véspera do dia das mães. Decidiu partir mais cedo. A missão estava cumprida. A mulher que nasceu no Pantanal do Taquari já havia se transformado na supermãe, na avó, na bisavó. Formou uma pequena legião de descendentes: cinco filhos, três netos, quatro bisnetos.
 Era conhecida como a idosa mais velha da Aappil (Associação dos Aposentados e Pessoas Idosas de Ladário), mas também por seu jeito extrovertido, alegria que irradiava nos salões de baile de todas as sextas-feiras na associação.
No adeus de Benedita Alves de Lima, aos 94 anos, nesta terça-feira, 18 de abril, em Ladário, estavam presentes todos os amigos, colegas e familiares, as filhas Jorgina, Jorgelina, Selice, Juventina e o filho Jorge.
Benedita só parou mesmo de frequentar o almoço dançante das sextas-feiras na Aappil porque teve uma queda e fraturou o braço, e os cuidados da família sobre ela redobraram, ultimamente se dedicava às sessões de fisioterapia e ao tratamento médico. O estado de saúde dela se agravou nas últimas semanas: os médicos constataram um tumor. Ela faleceu na tarde desta terça.
Devota de Santo Antônio, Benedita frequentava as missas e eventos da comunidade. Gostava de se sentar ao portão da casa, no bairro Santo Antônio, em Ladário, para apreciar o movimento na rua Afonso Pena.
“Foi uma guerreira que tomou conta e educou todos os filhos, principalmente depois que ficou viúva: papai teve enfarto aos 51 anos”, contou uma das filhas, Jorgina. “Nos ensinou a trabalhar na roça, valorizar o que é nosso, nos ensinou como educar nossos filhos”. Enfim, Benedita foi uma brava guerreira do Pantanal que soube valorizar cada minuto da vida. E deixou seu legado.







sexta-feira, 31 de março de 2017

Erasmus Mundus, o desafio de um planeta sustentável

Equipe de mestrandos visitou o Moinho Cultural neste final de março
Eles vêm de diferentes pontos do mundo em busca de intercâmbio e aprendizado. Estudam para ser mestres, especialistas em sustentabilidade, uma palavra que hoje em dia expõe o ser humano a enormes desafios. Afinal, como se discutir e defender sustentabilidade em um planeta poluído, à beira de um colapso, com centenas de desastres ecológicos pipocando nos continentes. Mas assim é o ser humano, nunca desiste, em busca de seus projetos de vida. Com a palavra, Caterina, Janine, Dao Thu, Felipe e Vicent.
O Instituto Moinho Cultural Sul-Americano, pelo quinto ano, recebeu a visita de intercâmbio dos alunos do último semestre da quinta turma do Programa Erasmus Mundus – Mestrado Internacional em Desenvolvimento Territorial Sustentável, em parceria com o programa de pós-graduação em Desenvolvimento Local em Biotecnologia – Mestrado e Doutorado da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), neste dia 27 de março.
O programa é promovido no Brasil pela UCDB em consórcio com três universidades europeias: Universidade Pantheon-Sorbonne Paris 1 (França), Universidade de Estudos de Pádua (Itália) e Universidade de Louvain (Bélgica). Os mestrandos cursaram os três primeiros semestres na Europa e agora iniciam estágio de seis meses no Brasil para o trabalho de conclusão de curso.
Eles vieram acompanhados pela assessora de Relações Internacionais da UCDB e diretora acadêmica do Master Erasmus Mundus, Cleonice Alexandre Le Bourlegat, e pela doutora Dolores Pereira Ribeiro Coutinho, docente e pesquisadora do programa de pós-graduação em Desenvolvimento Local da UCDB. Foram recepcionados pela diretora executiva do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano, Márcia Rolon. “É muito importante essa troca de experiências e a oportunidade de conhecerem o trabalho do Moinho, que tem como base a arte que transforma vidas”, destacou Márcia. “Cada vez que venho sinto algo diferente e especial”, contou o secretário do programa de Mestrado e Doutorado da UCDB, Renato Diacopolus.
No Moinho, os mestrandos assistiram a uma apresentação especial dos bailarinos da Companhia de Dança do Pantanal, que acaba de ser criada pelo Moinho como forma de abrir espaço para dançarinos de toda a comunidade. Citados como exemplos de transformação, ex-beneficiários do Moinho agora compõem a Cia da Dança ou se tornaram professores do instituto e de outras instituições de Corumbá, Ladário e na Bolívia.
Cinco mestrandos do Erasmus Mundus compõem o grupo que visitou o Moinho: Caterina Dada (Itália), Janine Alisha Gölz (Alemanha), Dao Thu Trang (Vietnã), Felipe Thornberry Giraldo (Colômbia) e Vicent Vasseur (Bélgica). Suas pesquisas e dissertações abrangem as áreas de ciência lingüística, gestão internacional, arquitetura, ciências sociais e engenharia comercial. Também participa do intercâmbio Miguel Mendoza, acadêmico de Letras da Universidade Silva Henriquez do Chile, bolsista na UCDB.
Pesquisas
 “Minha pesquisa é na área de resíduos sólidos, venho ao Brasil pela primeira vez e percebo extremos: gente muito conectada com a natureza mas uma grande agricultura industrial e produção de carne”, ressaltou a alemã Janine Golz, de 25 anos. “A diversidade me encanta, o Brasil parece ter vários países dentro de um”, afirmou a vietnamita Dao Trang, que como todos os demais tem fluência em francês e inglês (uma exigência do curso), e se esforçou para entender o português de uma pequena integrante do Moinho durante o lanche.
O Moinho mantém 280 beneficiários em aulas de música, dança, apoio escolar, educação ambiental, cidadania e tecnologia no contraturno escolar e conta com o patrocínio máster da Vale, patrocínio da Cielo, parceria da J.Macedo e tem como parceiros institucionais a Prefeitura de Corumbá, Prefeitura de Ladário e a Prefeitura de Puerto Suarez (Bolívia).
Projetos do IHP
Na mesma tarde, os mestrandos visitaram a Casa Vasquez, sede do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), integrante da Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar. No IHP, ficaram conhecendo seus principais projetos e programas: o Curso de Estratégia para a Conservação da Natureza, a Plataforma de Diálogo e a Plataforma GeoPantanal.

terça-feira, 7 de março de 2017

MPF aciona ALL, IPHAN e DNIT por degradação da ferrovia


Antes e depois: estação privatizada e abandonada em MS
Um patrimônio em ruínas, resultado da falta de respeito com o patrimônio histórico e cultural de Mato Grosso do  Sul. O Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul (MPF) ajuizou ação civil pública contra a empresa América Latina Logística (ALL) pelo abandono de 14 estações ferroviárias localizadas entre os municípios de Três Lagoas e Água Clara. Os prédios, construídos no início do século XX e tombados por lei estadual como patrimônio histórico e cultural, estão em estágio avançado de degradação pelo efeito do tempo e da ação humana.

Este é o resultado da negligência quando se trata de má administração de um bem público que cai nas mãos de empresas privadas. Coincidentemente, a ferrovia foi relegada ao abandono no período de maior desenvolvimento da indústria automobilística e a pavimentação das rodovias estaduais, entre elas a BR-262, que liga Corumbá a Campo Grande. Este trecho também foi abandonado pela ALL. Querem provas? Basta dar um passeio pela esplanada ferroviária de Corumbá. E o Trem do Pantanal virou lenda.

Na ação ajuizada, o MPF busca medidas efetivas para a conservação do bem público, reparação dos danos causados ao patrimônio histórico e cultural e preservação da memória da ferrovia em Mato Grosso do Sul. Na visão da instituição, “não cuidar desses bens é relegar as próprias origens dos municípios e desprezar a história do desenvolvimento do Bolsão sul-mato-grossense, importante região do Estado”.

Na demanda do MPF, além da ALL Malha Oeste e ALL Holding (controladora da ALLMO), são réus: o Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT), a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a União. Os órgãos e instituições foram considerados, pelo Ministério Público, inertes e negligentes na fiscalização do patrimônio ferroviário.

À Justiça Federal, o MPF pediu, liminarmente, que a ALL, concessionária dos serviços de ferrovia no estado, seja obrigada a efetuar a limpeza e a dedetização das estações ferroviárias e oficinas que estão sob seus cuidados; adote medidas de conservação e vigilância em tempo integral; repare os danos causados ao patrimônio público e devolva ao DNIT as unidades ferroviárias que não estiverem sendo efetivamente utilizadas.



História da ferrovia



A história da ferrovia em Mato Grosso do Sul se mescla com a história da constituição do Estado. Não por acaso, várias estações ferroviárias foram tombadas pela Lei estadual nº 1.735/97 como patrimônio histórico e cultural. Construída no início década de 20, a ferrovia carrega a história do desenvolvimento político, social e econômico do Bolsão sul-mato-grossense.

Nos anos 90, com a privatização da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), a exploração do transporte ferroviário de cargas foi repassada, por meio de contratos de concessão, a empresas particulares. Em MS, o serviço foi concedido a Ferrovias Novoeste, hoje América Latina Logística Malha Oeste (ALLMO).

Com essa nova configuração, os bens da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil – de propriedade da União e tutelado pelo DNIT - foram arrendados para a ALL, a qual tem o dever contratual de cuidá-los. O que se tem visto, no entanto, é o abandono do patrimônio público.


sábado, 11 de fevereiro de 2017

Harley-Davidson traduz modo de vida, doação e liberdade


O harleyro Glauco, de 60 anos, conversou com crianças do Moinho
Parece incrível, mas a moda de motorizar bicicletas, comum nas ruas de Ladário e Corumbá, está relacionada com a criação, há 103 anos, das potentes motos Harley-Davidson. Dois jovens dos Estados Unidos, Harley e Davidson, tiveram a ideia de colocar um motor no aro de uma bicicleta para se divertir, sem noção de que estavam criando uma das máquinas mais cobiçadas e incrementadas do mundo moderno. Hoje, mais do que um meio de transporte ou sonho de consumo, essas máquinas significam para milhares de pessoas um estilo vida despojado, a mais pura manifestação de liberdade. Quem compra uma Harley, nova ou usada, por preços que variam de 30 a 60 mil reais, entra automaticamente para clubes com sócios e filiais em todo o planeta. Ser harleyro é um estado de espírito.

Um desses clubes, o Harley Owers Group (HOG Pantanal), passou neste fim de semana por Corumbá arrancando suspiros dos fãs e sorrisos afetuosos das crianças do Moinho Cultural. Com sede em Campo Grande, ponto de concentração, os rapazes e garotas do HOG romperam os 420 km da Capital até Corumbá e foram recebidos com todas as honras no Moinho, para de cara saborearem um quebra-torto, prato típico da culinária pantaneira, e assistirem a uma apresentação de dança e música pelos integrantes do Moinho. Para alguns como Glauco Oliveira, de 60 anos de idade e mais de 30 de estrada, ser chamado de rapaz é força de expressao. "Andar sem regras, sobre moto, é minha paixão", diz.

Harleyros recebidos no Moinho com quebra-torno e música
É a terceira vez que o grupo vem a Corumbá para o HOG Pantanal Weekend, mas é a primeira vez que escolhem o Moinho como parceiro para doação. A filantropia é uma das missões do grupo. Todo o dinheiro arrecadado em leilões de peças originais Harey – suporte de capacete, tanque de combustível e casaco de couro – os harleyros, como são conhecidos, doaram para o Moinho, que mantém 280 crianças, adolescentes e jovens de Corumbá, Ladário e da Bolívia em aulas de dança, música, cidadania, tecnologia e apoio escolar, e anualmente realiza o espetáculo Moinho in Concert.

Criado em 1982 em Campo Grande, o HOG Pantanal Weekend trouxe a Corumbá 120 pessoas, de diferentes pontos do País. Além da Capital, havia harleyros de São Paulo, Cuiabá, Maracaju, Dourados e Santa Cruz de la Sierra (Bolívia). Para o próximo encontro, em 2017, o diretor do HOG, Reinaldo Castilho, pretende trazer pelo menos 150 harleyros.

Grupo HOG visitou Moinho dia 10 de fevereiro
Entre o grupo estão advogados, comerciantes, empresários, publicitários, sozinhos ou formando casais, alguns com crianças. O advogado Sebastião Rolon Neto e a terapeuta ocupacional Alessandra trouxeram a filha Luana mas a família vai receber em breve mais duas meninas. Alessandra está grávida de gêmeas e desta vez, por precaução, não veio na garupa da moto do marido, preferiu o carro. “Sou parceira dele em todas as viagens de Harley-Davidson e não podia deixar de vir de novo a Corumbá”, afirmou a gaúcha Alessandra. “Sempre me emociono muito quando venho ao Moinho e vejo as crianças”, acrescentou.

O antropólogo paulista Adalto Carneiro veio com sua Harley de Cuiabá, Mato Grosso, prepara um artigo focalizando “a tribo nos motociclistas” e, como historiador, certamente vai se lembrar das aparições de astros do cinema como Marlon Brando e James Dean em cima de uma Harley-Davidson em filmes dos anos 50 que começavam a associar motociclistas à fama de cauboys do asfalto, rapazes rebeldes e amantes da aventura. Menos rebeldes e mais caritativos, os harleyros entram neste século XXI cultivando o velho lema da calça jeans desbotada e o intenso desejo de liberdade.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Em oficina no Moinho, teatrólogo aplica a descolonização do corpo

Iván Nogales (centro) durante roda de conversa no Espaço Motirô
O teatrólogo e escritor boliviano Iván Nogales coordena a oficina “Descolonização do corpo” nesta segunda e terça-feira no Instituto Moinho Cultural. Linhas gerais da oficina estão condensados em três livros lançados por Nogales neste domingo, durante roda de conversa no Espaço Motirô, no Moinho, com representantes do teatro, artes plásticas e visuais, dança, música, assistência social e comunicação de Corumbá.
Nogales dirige a Fundacion Compa, uma das mais atuantes da América do Sul, com sede em El Alto, cidade andina ao lado de La Paz, em um trabalho que envolve crianças, adolescentes e jovens. Em 1989 ele fundou o Teatro Trono, o grupo de teatro boliviano com maior projeção internacional, com extenso diálogo e comunicação cultural com o exterior.
A proposta de Nogales para os povos da América do Sul tem muito a ver com o conceito do poeta e ativista sul-africano Mia Couto sobre a descolonização na questão do continente africano. “Uma coisa é a independência, e outra a descolonização. A descolonização do pensamento ainda não ocorreu. Olhamos para a África com valores europeus. É preciso uma ruptura para mudar a situação”, diz Mia Couto.
A ideia de Nogales se encaixa no objetivo do Instituto Moinho Cultural na integração cultural dos povos sul-americanos. Márcia Rolon, fundadora do Moinho, conheceu Iván Nogales há 13 anos em La Paz e ficou admirada por seu trabalho. “Ivan foi uma pessoa que fortaleceu a ideia de fazer o Moinho integrado com a Bolívia. Queremos fazer com que Corumbá seja um centro sul-americano, fazendo essa ponte, para que nossa cidade seja um laboratório, com troca de experiências”, destacou Márcia.
Iván Nogales propõe um teatro para a comunidade. “Não queremos um teatro muito separado da gente. Por isso fazemos um teatro comunitário, pouco a pouco chegamos a esse conceito de descolonização do corpo. Quando chegaram os colonizadores foi uma época muito difícil, de genocídios e negação das culturas. Agora tentamos superar esses códigos coloniais", afirmou.

O teatrólogo reproduz seus trabalhos em livros
Em seu livro La Descolonización del Cuerpo, Nogales diz: “Apesar do tempo, das constituições republicanas e dos discursos, o inimigo principal do corpo hoje segue sendo a Colônia: uma máquina de planar que passa e repassa sobre nós, recordando-nos a cada dia nossa condição de pessoas inferiores e historicamente negadas”.
Colônia, conforme descrito por Nogales, significa toda forma de uso e abuso do outro ou de usurpação dos domínios do outro, do espaço, do tempo e da energia do outro. “É por isso que descolonização do corpo é uma tarefa de altíssimo interesse estratégico’, diz.

Iván aplicou oficina aos integrantes do Moinho Cultural
Em El Alto, cidade a 4 mil metros de altitude, na Bolívia, Iván mora na casa que pertenceu ao pai dele, Indalecio Nogales, um dos membros da guerrilha boliviana de Teoponte, que defendeu os ideais de Che Guevara após a morte do revolucionário. É para a altiplano andino que Iván segue nesta quinta, 9 de fevereiro, onde traça os novos rumos da excursão da Oficina La Descolonización del Cuerpo e do grupo de teatro Trono. Até o final do ano, ele vai percorrer a Espanha e outros países europeus. Iván conta que ficou órfão aos seis anos de idade após perder o pai, morto na guerrilha. "É um homem que nunca esqueço, seus ideais eu carrego comigo até hoje, me inspiro nele", revela.