segunda-feira, 27 de julho de 2015

É hora de conter a evasão e fortalecer a universidade

Alunos e professores debateram a evasão no Campus Pantanal
A evasão nos cursos da UFMS Campus Pantanal atinge índices alarmantes, há um crescente desinteresse pelas ciências humanas, principalmente pela licenciatura, e muitos dos que entram na faculdade ainda não sabem exatamente que rumo tomar ou se de fato escolheram o curso certo. A crise socioeconômica avança, o MEC corta R$ 4 bilhões da educação e este quadro pode ganhar contornos mais graves ainda. Por isso, reunidos no Bloco H da universidade, professores, alunos e técnicos da UFMS Campus Pantanal e IFMS decidiram encaminhar propostas para provocar uma reviravolta neste panorama sombrio. E duas delas talvez sejam as de maior impacto: moradia gratuita para os que vem de fora e refeitório a preços populares. O modelo não é novo e já está implantado com sucesso em outros campi. Essas conquistas, se aprovadas, compensariam o alto custo de vida de Corumbá. Outra proposta é a migração de cursos como forma de combater a evasão, ou seja, se o aluno não está satisfeito com História poderia se transferir no mesmo Campus Pantanal para Geografia, por exemplo. É sempre bom lembrar que existe apenas um aluno – isso mesmo, um – matriculado no primeiro semestre do curso de Geografia. E a média de alunos que vão do começo ao fim e se formam na UFMS é de apenas 50%. Teste vocacional para alunos do ensino médio fazerem uma melhor escolha de cursos e formação de centros acadêmicos reforçariam, com certeza, o interesse pela faculdade. O movimento Greve pela Educação luta não só por 27,3% de recomposição salarial por perdas inflacionárias dos professores, mas pela universidade pública democrática, gratuita, laica e de qualidade. E a luta é de todos.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Greve pela Educação aquece debates democráticos

Assembleia Unificada reuniu técnicos e professores na UFMS
A estratégia da política neoliberal, que domina cada vez com seus tentáculos o mundo ocidental capitalista, agora globalizado, é esvaziar os cursos universitários de ciências humanas que ajudam o ser humano a pensar, refletir e questionar, como história, psicologia, sociologia, antropologia, ciências sociais. O jogo é privatizar as universidades federais, entregá-las a empresários da educação e reduzir os universitários a meros reprodutores dos interesses capitalistas dominantes. No mesmo alvo estão os cursos ligados à ciências exatas e biológicas, ao meio ambiente, à preparação do homem saudável. É mais fácil formar profissionais apenas com o objetivo mercantilista do que em propor mudanças que possam afetar a indústria farmacêutica, de fertilizantes, de alimentos. A humanidade está sendo envenenada, mas existem profissionais, muito bem pagos, para defender que não existem produtos cancerígenos infestando as prateleiras dos supermercados. Por que formar doutores que denunciem o fracasso do modelo da educação, da saúde, da medicina, do agronegócio? Que denunciem a devastação da Amazônia? Então, cabe a nós, cidadãos que ainda lutam pela liberdade e a democracia, remar contra a maré e buscar fortalecer e consolidar o ensino público universitário, livre e gratuito, com acesso a todas as camadas da população. E a greve, por mais que afete o calendário estudantil, é um instrumento para pressionar o poder público e mostrar que ainda existe um cidadão brasileiro que pensa e fala, questiona e provoca. A greve dos professores da UFMS não poderia ser diferente. Ela traz à tona debates e embates sobre os principais problemas que hoje ameaçam o sistema de ensino público do País: a terceirização de setores, a estratégia neoliberal de privatização da educação, a enorme evasão universitária, a perda do interesse dos alunos pela faculdade, o corte de recursos federais para projetos, pesquisas de doutorados, corte de bolsas e de auxilio permanência para alunos, entre outros. Em um balanço de quase 40 dias de greve, constata-se que, em Corumbá, o movimento conseguiu unificar categorias de professores universitários, técnicos administrativos da UFMS e professores da IFMS – unificação nunca antes alcançada. Nesta segunda, 20, houve uma assembléia unificada no auditório Salomão Baruki. Quatro representantes participam da Marcha dos Servidores Federais em Brasília. Só falta ganhar maior adesão dos alunos. Quem passa em frente à UFMS nesse mês de julho pode imaginar uma universidade esvaziada, mas lá dentro transcorre uma programação selecionada pelos professores do Comitê de Greve. Nesta quarta-feira, às 14h, no auditório do Bloco H, o tema da mesa redonda  Debates e Embates é a crescente evasão estudantil. Menos da metade dos que entram na UFMS hoje concluem os cursos. O que fazer para manter o interesse dos alunos pela faculdade? O microfone está aberto. É hora de apontar e discutir soluções, propor ações, usufruir a liberdade e exercer os direitos democráticos. É para isso que viemos.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

O adeus da professora Malu Urt

Com os netos Alex e Glória em Campo Grande
Conversei longamente, por telefone, com minha tia e primeira professora, Lila Urt, na fria e tristonha noite desta quinta-feira. Ela em Campo Grande, eu em Ladário. Algumas horas atrás acabava de falecer minha prima Maria Luiza Urt, a Malu, aos 67 anos, ex-aluna do Colégio Imaculada Conceição, ex-professora do Colégio São Miguel e escolas de Corumbá. E passamos algum tempo recordando as principais virtudes dessa guerreira que nos deixa ainda cedo, como seus outros irmãos, a inesquecível Helô Urt, ex-diretora presidente da Fundação de Cultura de Corumbá, e Zezinho, o mais velho dos irmãos, um exemplar Fuzileiro Naval. Ladarense, filha de Edith, da família Costa, e de Demétrio, da família Urt, que aportou na cidade há 101 anos, proveniente de Jerusalém, da originária e legítima Palestina. Na Ladário dos anos 60, costumávamos nos reunir na sala da casa de nossos avós, Maria e Jamil, para ouvirmos Malu, tão bela quanta talentosa, tocar piano ou acordeón. Malu também compôs o fabuloso time de vôlei de Ladário, que tinha a liderança de nossa tia, Myrtes, e outros destaques como Margareth, Leonice, Cicinha, Biga, e disputou os Jogos Noroestinos. Recordo-me da última vez que Malu veio a Corumbá: na platéia na praça Generoso Ponce, com o brilho nos olhos, orgulhosa como todas as vovós, via os netos Glória e Alex se apresentarem no palco Moinho in Concert, o show anual de dança e música do Moinho Cultural. São momentos gravados em nossas mentes e corações dessa notável ladarense que agora nos deixa para brilhar entre as estrelas. Em homenagem à você, querida Malu, professora de todos nós, reescrevo um pensamento do filósofo indiano Dipak Chopra: "Somos todos viajantes de uma jornada cósmica - poeira de estrelas, girando e dançando nos torvelinhos e redemoinhos do infinito. Nós paramos um instante para encontrar o outro, para nos conhecermos, para amar e compartilhar. É um momento precioso, mas transitório. Trata-se de um pequeno parêntese na eternidade. A vida é eterna". 



domingo, 12 de julho de 2015

Tenda de umbanda celebra São José

Na tenda, Patricia Fontoura e a imagem de São José (Agência Navepress)
Os grupos de dança Anjos Dourados e Oficina de Dança da Fundação de Cultura se apresentaram no Arraial de Nhô José, neste domingo, na Tenda Espírita São José, do Pai Hamilton. Marcada pelo sincretismo, a festança aconteceu ali na rua Poconé, bairro Universitário, ao lado da UFMS, e foi promovida pela Tenda Espírita São José, famoso terreiro de umbanda dirigido há trinta anos pelo pai-de-santo Hamilton da Costa Garcia, de 52 anos. Minha visita à tenda de umbanda foi monitorada pela atenciosa Patrícia Fontoura, que pacientemente me explicou o significado de cada uma das centenas de imagens cultuadas na tenda, desde São Jorge, o padroeiro da umbanda, a Nossa Senhora da Candelária, a Iemanjá umbandista. Há imagens de  São José, São Sebastião e Jesus Cristo, venerado como Oxalá ao lado do Caboclo da Pena Branca. A tenda de umbanda se prepara para organizar uma grande festa, dia 8 de agosto, sábado, a partir das 21h, em celebração ao Tranca Rua das Almas, um dos conhecidos exus da umbanda, conforme explica Patrícia Fontoura e pai Hamilton. São esperadas pelo menos 300 pessoas para a festa na rua Poconé. “Os exus correspondem à classe que trabalha com o povo da terra e são responsáveis pela segurança da casa, protege à todos, sem distinção, do pobre ao milionário”, afirma pai Hamilton. “O Tranca rua das almas é venerado no país inteiro”, acrescenta, ao lado da imagem do exu, logo na entrada do terreiro. O preconceito e a intolerância impedem que a umbanda ganhe mais adeptos, projeção e respeito, segundo pai Hamilton. “A umbanda não é um antro de perdição ou maldade como muitos apregoam”, ressalta Hamilton, seguidor de dona Carlinda, famosa mãe-de-santo do bairro Cristo Redentor. “Nem as autoridades dão o valor que merecemos e só aparecem na hora de pedir votos, perto das eleições”, reclama. Pai Hamilton e sua comunidade desceram com o andor de São João para o banho da imagem no rio Paraguai , dia 23 de junho, mas ele é devoto de São José, o Xangô da Justiça, padroeiro da família, daí a razão da festa deste 11 de julho. Ele também é dirigente da Seccional de Culto Afrobrasileiro de Corumbá e Ladário.



quinta-feira, 9 de julho de 2015

Café Literário: Chaplin inspirou Manoel de Barros

Professor Galharte focaliza poeta pantaneiro (Agência Navepress)
O Café Literário, evento mensal promovido pelo Sesc e a Associação dos Poetas e Escritores de Corumbá, trouxe um especialista no poeta Manoel de Barros, o professor doutor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), o corumbaense Julio Augusto Xavier Galharte. Com o tema Manoel de Barros e o Cinema, Galharte mostrou a influência de Charles Chaplin, Luis Buñuel e Pier Paolo Pasolini nos versos do poeta pantaneiro. Deixa claro que Manoel é um poeta universal. Apesar de ter vivido muito tempo no Pantanal, esteve também em Nova York, Paris e países da América do Sul, de onde tirou suas referências. Foi durante algum tempo comunista e chegou inclusive a fundar o PC em Corumbá, mas abandonou o partido desgostoso com a ligação de Prestes, presidente nacional, com Getúlio Vargas e por imposições feitas pelos camaradas. Nos versos dos livros de Manoel há citações de Chaplin e influências de outros gênios do cinema e da literatura. Ele também teve influência do zen budismo, de São Francisco, era admirador do cineasta japonês Akira Kurosawa e lia muito o romancista russo Dostoivski, conforme afirma Galharte em sua brilhante oratória no Sesc Corumbá. Manoel via o divino na natureza, e por isso os insetos e outros animais ganham força e forma em seus versos. Admirava os mais fracos, puros e oprimidos. Vejam algumas das frases geniais de Manoel pesquisadas por Galharte:
“Um dia me chamaram de idiota...e eu chorei. Sou fraco para elogios”. 
“Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma, e que você não pode vender no mercado como, por exemplo, o coração verde dos pássaros, serve para poesia”. 
“A gente vai desaparecendo igual quando Carlitos vai desaparecendo no fim da estrada”.
O Café Literário mais uma vez abriu espaço para novos escritores, como a poeta Hildyanne Teixeira, de 17 anos, que tem seus trabalhos publicados semanalmente no jornal Correio de Corumbá e cursa Ciências Sociais na UFGD, em Dourados. Em agosto, o Café Literário completa um ano de produção e em outubro haverá uma programação em homenagem ao centenário do poeta corumbaense Lobivar de Matos.