quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Por que a bicampeã Pesada virou cinzas no Carnaval?

O requinte da Pesada não agradou aos jurados (Agência Navepress)
Era uma vez uma escola de samba que pecou por desfilar como campeã e, em um julgamento equivocado, foi queimada na fogueira da inquisição. Desculpem-me recorrer aos tempos em que a Igreja fazia a caça às bruxas – ou a quem acreditasse que agisse como tal – mas é exatamente assim que vejo e analiso a situação da Pesada, despachada para o segundo grupo do Carnaval de Corumbá após brilhar na avenida como forte candidata ao título de tricampeã. Nesta quinta-feira, ao visitar o barracão da escola, vi a profunda tristeza nos olhos de Nei Colombo, seu presidente. O trabalho de um ano inteiro saiu pelo ralo, lamentava, melancólico. “Dá vontade de abandonar tudo”.. O dia seguinte de Nei a da comunidade Pesada teve as nuvens cinzas do apocalipse, o ar de uma suposta chantagem e o som de uma marcha fúnebre. Para os jurados, a Pesada foi pior que a Marquês de Sapucaí, que fez um desfile apenas discreto para homenagear Valdir Gomes e Picolé, e não cair, mas ganhou notas acima da média, embora não tenha chegado sequer a uma final no Esplendor do Samba, prêmio instituído pela jornalista Rosana Nunes. Entre tantas aberrações, a Mocidade Independente da Nova Corumbá, com um desfile de alto nível em homenagem à Marinha, ainda ficou atrás da Marquês, e escapou de ser rebaixada. Conferi nota por nota na planilha da minha amiga carnavalesca Regina Narciso. São dois jurados para cada quesito. Um dos jurados derrubou a Pesada ao dar-lhe apenas 9 no samba-enredo, o mesmo quesito que deu à escola o prêmio Esplendor do Samba. Estaríamos vendo dois carnavais ou os jurados vieram de outro planeta? Parabéns à Império do Morro e à Vila Mamona, que fizeram, e muito bem, a sua parte, honrando mais uma vez suas tradições. A Império veio com um enredo que sempre toca no coração das pessoas decentes e responsáveis: a preservação do planeta. Mas eu ainda aponto o enredo da Vila Mamona como o melhor deste Carnaval pela coragem de abordar um tema cercado pelo preconceito da elite corumbaense: a umbanda e o candomblé como forma de espiritualidade das mulheres (e famílias) negras. No momento, acho que o Carnaval de Corumbá não está precisando de um sambódromo ou sair da Avenida General Rondon para progredir, como sugerem alguns. Está, isto sim, precisando urgentemente se reorganizar e valorizar a sua própria matéria prima, que são as escolas e seus sambistas. 

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