sábado, 21 de maio de 2011
Para não dizer que não falei de flores
Participei nesta quinta-feira, 19 de maio, do Ato Ecumênico no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, em Ladário, em solidariedade aos funcionários investigados por supostas irregularidades nas licitações da Prefeitura de Ladário, e seus familiares. Durante três dias eles permaneceram detidos na Penitenciária e na Delegacia de Polícia Federal de Corumbá. A Justiça Federal revogou a prisão deles na noite de quarta-feira, ao mesmo tempo em que o inquérito deixou de ser sigiloso e passou às mãos do assessor jurídico da Prefeitura. No processo constam “indícios de irregularidades”. A denúncia só será oferecida ao juiz se houver provas. O inquérito será concluído no dia 27 de maio. Mas enquanto isso uma advogada da OAB, uma professora, três administradores e um contabilista, todos servidores municipais, foram tratados como integrantes de uma quadrilha que fraudava licitações. Foram alvo de um linchamento moral. Com seqüelas em pais, irmãos filhos, netos, amigos. “Para não dizer que não falei de flores”, música de Geraldo Vandré, cantada por todos no Ato Ecumênico em Ladário, foi durante os anos 60 e 70 um hino de resistência à Ditadura militar. Falava do amor e das flores em tempos de guerra, quando muitos eram acusados de terroristas, e torturados, porque defendiam a ideologia da esquerda. E, agora, em tempos de paz e democracia, onde estão as flores e os direitos humanos? Se o inquérito corria em segredo de justiça, as prisões cautelares solicitadas pela Justiça Federal também deveriam ser sigilosas, como forma de defender a integridade dos seres humanos. Suspeito não é criminoso. E prisão cautelar não é condenação. Para reavivar a memória daqueles que ainda possuem resquícios dos ditadores, descrevo uma parte da poesia de Geraldo Vandré: “Caminhando e cantando; e seguindo a canção; somos todos iguais, braços dados ou não”.
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