sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Céu, suor e Cibalena


Quando sai da avenida General Rondon, por volta da 1h da madrugada deste sábado, 1º de março, percebi que o céu estrelado, como há muito não se via neste chuvoso mês de fevereiro, havia abençoado o desfile do Cibalena, o maior bloco de sujo do Carnaval de Corumbá. Acompanhei o desfile ao lado do amigo Euclides Moreira Fernandes, assessor de comunicação da Câmara, e colhi algumas imagens entre os mais de 20 mil rostos que invadiram a avenida com fantasias irreverentes, atrevidas e debochadas – como reza a tradição formada pelos fundadores do Cibalena. O bloco foi criado há 36 anos por um grupo de amigos que se reunia para beber em um bar da rua Ladário com a Cuiabá, e quando pediam uma cibalena, o dono do bar já sabia que se tratava de uma dose de cachaça misturada com cinzano ou algo assim, dependendo do freguês. O bloco foi crescendo, crescendo até se transformar neste fenômeno chamado Cibalena, uma confraternização que desce a avenida todas as sextas-feiras de Carnaval – os homens de saia, batons, perucas loiras e salto alto, ao lado de meninas de bigode. Foram tantas as transformações que demorei alguns segundos para reconhecer que a Musa Cibalena 2014, vencedora do concurso que todo ano se realiza na carroceria de um caminhão, tratava-se do discretíssimo professor Messias Siqueira, de 70 anos. Na noite das estrelas, Messias foi Carmem Miranda, de verde e amarelo da cabeça aos pés, em homenagem à Copa do Mundo. Carmem, cantora portuguesa radicada no Brasil, reinou nos programas de auditório das rádios cariocas nos anos 50 e foi a primeira a levar a imagem pop cultural do Brasil ao Exterior. 

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Sebastião Salgado, 70 anos

Nascido na vila de Conceição do Capim, em Aimorés, interior de Minas Gerais, Sebastião Salgado fez mestrado em Universidade de São Paulo (USP), engajou-se no movimento de esquerda contra a ditadura militar, mudou-se em 1969 para Paris e se apaixonou pelo fotojornalismo após viagens pela África. Neste sábado, 8 de fevereiro, ele completou 70 anos de idade e 45 de trabalho. Em Genesis, seu novo livro, o repórter-fotográfico retrata paisagens e comunidades ainda não impactadas pelo que chamamos de progresso – como mostra nesta página a imagem produzida por ele na África. Para preparar o trabalho, percorreu mais de 30 países durante oito anos. É o que se pode chamar de profissão repórter, aquele incansável perseguidor do inusitado, do inesperado, do inacreditável. Salgado lançou seu livro durante uma exposição neste começo de abril em Londres. A obra traz de mulheres das aldeias do Parque Nacional de Mago, na Etiópia, até xamãs da tribo camaiurá da bacia do Alto Xingu em Mato Grosso. Belíssimas fotos em preto e branco retratadas pela sensibilidade de um profissional que gastou no projeto 1 milhão de euros por ano, financiados em parte por revistas e jornais – sim, jornais – que publicaram suas reportagens ao longo dos oito anos. Outra parte foi coberta por patrocinadores. Tema de capa da revista Bravo! Salgado revela que sua mulher, Lélia Wanick, tem papel crucial no seu trabalho: é responsável pelo design dos livros e pela curadoria das exposições, sem contar que foi ela quem comprou a primeira câmera fotográfica do casal (uma Leica), quando ainda era estudante de arquitetura. E confessa que só abandonou os filmes de rolo e as câmeras convencionais após o atentado de 11 de setembro de 2001, quando o controle nos aeroportos passou a ser insuportável e ele era obrigado a passar suas caixinhas de filmes pelo raio-x, perdendo qualidade. Hoje usa câmeras digitais Canon. A história da vida de Salgado caberia em mais um livro, porque sabe, como poucos, honrar a profissão de repórter. Profissão, aliás, que acaba de ser apontada como a "pior" dos Estados Unidos em recente pesquisa encomendada pelo CareerCast.com, site norte-americano especializado em empregos. Salgado prova o contrário e mostra que tem o melhor emprego do mundo, pois para ele, aos 70 anos, ser repórter é algo muito especial, já lhe rendeu dez livros e o título de embaixador da Unicef. “Não trabalho com a miséria, mas com as pessoas mais pobres. Elas são muito ricas em dignidade e buscam, de forma criativa, uma vida melhor. Quero com isso provocar um debate. A nossa sociedade é muito mentirosa. Ela prega como sendo única a verdade de um pequeno grupo que detém o poder”, afirma. Veja a obra completa dele no link: http://www.elfikurten.com.br/2011/03/o-olhar-sensivel-de-sebastiao-salgado.html


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Caçadores de Bons Exemplos

Quando encerrarem a etapa sul-mato-grossense da expedição, os Caçadores de Bons Exemplos terão catalogados mais de 900 projetos sociais, percorrido mais de 185 mil quilômetros e visitado mais de 500 cidades brasileiras. E no final de 2014 terão passado por todos os Estados do País. Os mineiros Iara e Eduardo caçam bons exemplos, mas recusam indicações oficiais. Para chegar até eles, ouvem pessoas nas ruas, perguntam se conhecem alguma pessoa ou instituição que busca trocar a maldade do mundo pela boa ação. Chegam de surpresa. Não aceitam dinheiro, recusam patrocínio, não têm vinculo político nem religioso. Iara chora toda vez que fala dos projetos, das ações que mudaram a vida das pessoas, dos exemplos de fé e coragem que encontram pelas cidades do País. Ao seu lado, Eduardo é o sustentáculo, o homem que dirige a caminhonete, que ouve e filma todos os movimentos. Eles estão na estrada desde janeiro de 2011 para uma viagem de cinco anos. Em 2015 pretendem vender a caminhonete Toyota, o único bem que restou, e iniciar a última etapa da jornada, no Exterior. “Aí vamos só comas mochilas nas costas”, contam. Encontrei-os sexta-feira, 31 de janeiro, no Instituto Moinho Cultural, onde conheceram o projeto que completa 10 anos e seus fundadores Márcia Rolon e Ângelo Rabelo, cujas histórias se confundem com as de Iara e Eduardo. O Moinho hoje beneficia 360 crianças e promove a inclusão social, tornando-se o símbolo de bom exemplo de Corumbá que repercute em toda a America Latina. Como os “caçadores” vivem correndo, tínhamos apenas cinco minutos para conversar, mas a reportagem se estendeu por quase uma hora. E mais uma vez, a emoção levou Iara às lágrimas. Leia mais no canal Reportagens deste blog. Para ver a reportagem no jornal O Estado acesse http://www.oestadoms.com.br/flip/03-02-2014/p12b.pdf. E para ver o vídeo: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=UBptkd0zLn4. Foto: Agência Navepress.