sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Vem aí o I Festival Cultural do Mercosul

Hermanos Irmãos no show de setembro em Ladário (Agência Navepress)
Vocês devem estar lembrados do grande show protagonizado pela banda Hermanos Irmãos, em setembro, em Ladário, dentro das celebrações do aniversário da cidade e da Semana América do Sul. Com Rodrigo Teixeira, Jerry Espíndola e Márcio de Camillo, esse mesmo trio campo-grandense representa o Brasil no I Festival Cultural do Mercosul, nos dias 6 e 7 de novembro em Assunção, capital do Paraguai. O Festival Cultural do Mercosul conta com patrocínio dos governos federais, no caso brasileiro do Ministério da Cultura, e vai girar entre os países integrantes do Mercosul. Foi aprovado na II Reunião de Artes, em maio, no Rio de Janeiro, como forma de promover a circulação de artistas e da cultura regionais pelo continente, dando visibilidade à extensa diversidade cultural dos países sul-americanos. Criou-se o Comitê Coordenador Regional (CCR) para sua realização regular nos países do bloco. O festival oferece dois dias de programação, e contará também com Diego Drexler, do Uruguai; Tonolec, da Argentina; e o grupo Legado Regional de Misiones, da Argentina, além de ciclo de cinema, exposições e poetas repentistas argentinos, uruguaios, chilenos e brasileiros. Entre as atrações paraguaias aparecem Efrén Kamba’i Echeverría, Pynandi, Tekove, Sixto Corbalán y Pedro Martínez Trío, Tribu Sónica, Ovejas Negras, Banana Pereira y la República, Ballet Nacional de Paraguai e Conjunto Folclórico da Orquesta Sinfónica Nacional. Os shows serão no Teatro do Hotel Guarani Esplendor de Assunção. No festival, serão declarados como Patrimônio Culturais do Mercosul o Recital de Poetas e as Missões Jesuíticas Guaranis, Moxos e Chiquitos. O Mercosul (Mercado Comum do Sul) foi criado em 1991 com a assinatura do Tratado de Assunção para formar o bloco econômico dos países da América do Sul entre Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela e agora também com a Bolívia. Sobrevive, apesar da constante pressão do imperialismo norte-americano, mantendo acesa a chama da integração dos povos descendentes das nações originárias da América.


sábado, 24 de outubro de 2015

N.S.dos Remédios: para quem acredita na paz

Procissão Fluvial percorreu o rio Paraguai (Fotos: Marilene Rodrigues)
Badalam os sinos do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios anunciando, à meia-noite deste sábado, o final da Festa da Padroeira. Foram treze dias de festa que viveram seu auge com a Procissão Luminosa e o show do padre-cantor Antonio Maria. A fé cristã, a mensagem de paz e a solidariedade foram mais uma vez marcas das celebrações em Ladário. Em um mundo sufocado por desacordos, guerras, atentados, catástrofes, conflitos sociais, polarizado entre o bem e o mal, mensagens de ódio, preconceito e intolerância, a Pérola do Pantanal deixa lições opostas. Acompanhei a Procissão Luminosa que percorreu na noite de sábado as ruas centrais, saindo do Santuário, passando pela rua Riachuelo, as avenidas Getúlio Vargas e 14 de Março até subir de novo a Riachuelo e retornar ao Santuário. Pelo caminho, idosos que não podem mais caminhar estavam na porta de casa com seus terços e imagens da santa, para acompanhar os cânticos na passagem da procissão. À minha frente, um fiel ignorava a dor da vela que derretia e escorria sobre sua mão. Havia como sempre gente de todas as partes do Brasil. Pela manhã, as águas do rio Paraguai e os ribeirinhos de Corumbá e Ladário também foram abençoados durante a Procissão Fluvial. A imagem acima, capturada pela repórter-fotográfica, cronista e poeta Marilene Rodrigues retrata o exato momento que padre Celso Ricardo, de chapéu e batina pretos, debaixo do sol escaldante, chega ao porto de Ladário e entrega a imagem a um missionário. Marilene acabava de retornar de Belém do Pará onde acompanhou o tradicional Círio de Nazaré, que levou mais de 1 milhão de pessoas às ruas, e pôde notar a diferença: "No Círio quase tudo é comercializado, vendem até vagas em camarotes, enquanto em Ladário a relação é fraternal, é uma festa pensada para o povo", comparou. E não vai demorar muito para a imagem da santa padroeira de Ladário seja tombada como patrimônio histórico e religioso de Mato Grosso do Sul. Por iniciativa de devotos ladarenses, um documento com o história da santa, da imagem e da Festa da Padroeira percorre as outras 77 cidades do Estado para colher assinaturas que mais tarde serão entregues ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão responsável pela avaliação. Odilon Lisboa de Macedo, idealizador da proposta, conta que os apoios estão vindo de todas as partes e que em breve o documento também vai percorrer cidades da Bolívia.


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Diário de uma transexual

Com um vestido rosa-choque como homenagem ao Outubro Rosa, a transexual Patrícia Lima subiu ao palco e dublou a cantora Deborah Blando com a música Somente o Sol no play-back. E foi exaustivamente aplaudida. Seria mais uma apresentação para o mundo LGBT não fosse o inusitado cenário: era o palco de show da Festa da Padroeira de Ladário, Nossa Senhora dos Remédios. E naquela noite de 23 de outubro,véspera do feriado católico na cidade, a transgênero quebrava um tabu de mais se um século ao conquistar um espaço em um evento cultural e religioso católico. Antes dela havia se apresentado a Orquestra do Projeto Semear e depois dela subiu ao palco a dupla sertaneja Pedro e Evandro. O show de Patrícia é desfecho de uma luta que vem sendo travada pela Secretaria de Assistência Social de Ladário para preservar os direitos e as escolhas sexuais dos jovens da cidade, promover a inclusão social e entender as diferenças, provocando dessa forma o debate e a reflexão no coletivo estudantil, acadêmico e de toda a sociedade. Uma semana antes do show, entrevistei Patrícia, de 27 anos, que já teve nome e corpo masculinos, mas hoje é chamada pelo nome social em casa e pelos colegas da escola, e os detalhes da nossa conversa você confere no canal Reportagens deste blog ou no link: http://nelsonurt.blogspot.com.br/p/reportagens.html


domingo, 18 de outubro de 2015

A bailarina e o poeta: só o amor salva o Pantanal

Márcio e Aline: encontro na noite quente de Corumbá (Foto: A.Ardaya)
Testemunhei uma cena emocionante na mormacenta noite de sexta-feira, 16 de outubro, ali no Porto Geral, às margens do rio Paraguai, em Corumbá. O abraço do poeta e da bailarina. A foto do incansável produtor cultural Arturo Ardaya caiu na rede social, ganhou a projeção que devia, mas faltava escrever algo sobre ela, e aqui estou eu para cumprir meu dever de repórter, depois de enviar uma reportagem sobre o Pantanal Poética para o jornal O Estado de MS, de Campo Grande. Nem sentado nem em pé, de coque - como algum ancestral indígena - lá estava eu para ver a apresentação da bailarina revelação do Moinho Cultural, Aline do Espírito Santo, de 17 anos. Doce, meiga e suave como uma pluma, como sempre, deslisa os passos da sua coreografia, aplaudida bem de perto pelo compositor e cantor Márcio De Camillo, do trio Hermanos Irmãos. Era uma peça do espetáculo O Segredo da Brincadeira, inspirado no poeta Manoel de Barros. No final da dança, Aline se aproxima de Márcio e ganha um abraço apertado, intenso, emocionante, e mais aplausos da plateia naquele Bulixo Cultural, no Sesc Corumbá. Autor do espetáculo Crianceiras, Márcio De Camillo acabava de voltar de uma expedição à Serra do Amolar pelo programa Pantanal Poética, ao lado de outros 35 compositores, músicos e pesquisadores ambientais que gravaram um DVD com sete músicas com o tema da preservação da natureza. A bailarina Aline do Espírito Santo, acadêmica do curso de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), pensa em trocar de curso e fazer Artes Cênicas em Campo Grande, para certamente seguir carreira na dança e no teatro. Além de Aline e Márcio, outros talentos passaram pelo Bulixo Cultural, como Rodrigo Teixeira e Jerry Espindola, do grupo Hermanos Irmãos, e o compositor e cantor argentino Ruben Goldin, um dos mais aplaudidos da noite. É incrível como algumas pessoas que ainda não conhecem o Pantanal, quando ganham essa chance, voltam com a impressão de ter pisado em um novo planeta, como no caso da compositora paraguaia Daniela Rojas, do projeto Arte Viva. Pois é, enquanto isso uma parte desta sociedade capitalista gasta bilhões em pesquisas para procurar água em Marte, ao invés de investir em projetos de preservação da nossa querida Terra. Mais preocupante ainda foi o que me revelou a bióloga da Embrapa, Débora Calheiros, sobre um projeto do governo federal de instalar mais de 160 hidrelétricas nos rios do Pantanal, 20 só em Coxim. "Se colocarem barragens em Coxim, acabam os peixes e acaba a cidade, que vive da pesca", alerta Débora. É para deter esse tipo de ameaça que esses músicos e ambientalistas vieram ao Pantanal. Não foi a passeio. Como me contou o jornalista, cantor, compositor e escritor Rodrigo Teixeira, é uma experiência louca passar três dias isolado entre as águas do rio Paraguai, as matas da planície pantaneira, olhar para o céu e ver estrelas cadentes. Com um detalhe: sem qualquer sinal de internet. “Velho, é um milagre você poder pensar na proteção do Pantanal neste mundo cada vez mais individualizado”, me resumiu Rodrigo, na noite quente, poética e emocionante de Corumbá. E concluo: só o amor salva o Pantanal, os peixes, as onças, os pescadores, enfim, todos nós, do modelo de desenvolvimento mercantilista apregoado no mundo.