quinta-feira, 30 de abril de 2015

Café com Augusto César Proença

Augusto e suas obras no Café Literário (Foto: Agência Navepress)
O escritor, roteirista e pesquisador de história e cultura pantaneira Augusto César Proença, de 77 anos, abriu o quadro “Conversando com o Escritor”, lançado neste final de abril pelo Café Literário, evento mensal promovido pela Academia Corumbaense de Letras, no Sesc Corumbá, no Porto Geral.  Augusto reapresentou suas obras literárias e o filme “O caso de Joanita”, rodado em Corumbá e baseado em um de seus contos, com direção e produção de Reynaldo Paes de Barros. “Dia de Visita” e “Nessa poeira não vem mais seu pai”, outros contos do autor, também ganharam roteiros para o cinema. “Minha linguagem é literária, mas sem perder a essência da história”, define o escritor.
Com 17 obras publicadas, Augusto é um dos escritores mais lidos do País, referência em teses de mestrado e doutorado em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. O conto “O menino de lixão”, em que descreve o brutal cotidiano que uma criança que depende da coleta do lixo para sobreviver, é hoje citado em livros didáticos adotados pela rede de ensino  de São Paulo. Que tal se as escolas de Mato Grosso do Sul fizessem o mesmo? “É um exemplo e estímulo para a nova geração de escritores”, ressalta o escritor Benedito C.G.Lima, criador do Café Literário.
Augusto deixou Corumbá aos 15 anos, formou-se em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da Região dos Lagos, em Cabo Frio, Rio de Janeiro, e regressou a Corumbá em 1990, já como autor consagrado, para voltar a morar na casa da família na rua 15 de Novembro. É sobrinho do professor, poeta e radialista Clio Proença, autor da crônica “Janela Aberta para a Cidade”, que por muitos anos fez parte do cotidiano corumbaense pelas ondas da Rádio Difusora AM. “Nasci em um casa na avenida General Rondon e vivi muito tempo na fazenda da família no Pantanal, que inspirou contos, crônicas e o romance Raízes do Pantanal”, conta o escritor.
Com “Raízes do Pantanal” ele ganhou o Prêmio Brasília de Ficção e o direito de publicar o livro pelo fundo do Ministério da Cultura pela editora Itatiaia, em Belo Horizonte, em 1989. “Pantanal, Gente, Tradição e História”, “Não matem os jacarés”, ‘Memória Pantaneira, “Rodeio a Céu Aberto” são outras obras dentro da vertente da natureza. “Considero-me um ser mais biodegradável do que biografável, pois nasci em Corumbá, cidade-natureza”, define-se.
Um dia
"Um dia eu não quis mais sair de casa, evitei paixões, amores, sexo, não briguei com ninguém e concordei com tudo. Um dia fiz da TV minha única companheira, me queixei do vento, do frio, da chuva e da má sorte. Um dia acordei e não abri a janela para ver o sol, preferi o escuro em vez do claro. Um dia não consegui ler um livro, escutar uma música, olhar um quadro na parede, não encontrei graça em mim mesmo. Um dia quase morri de raiva, tive ódio, tive nojo, me rebucei na cama, não quis ouvir conselho de ninguém. Um dia o passarinho do galho entrou pela janela, pousou no meu caixão e perguntou quem eu era. Disseram a ele que eu era um ninguém, apenas um morto que tinha morrido há muito tempo e não sabia". (Crônica inédita de Augusto César Proença)