quinta-feira, 15 de maio de 2014

Quando a vida começa aos 60

Imaginei que chegaria aos 60 descansando em uma cadeira de balanço, de bermuda e chinelo havaiana, contando os minutos para assistir à novela das oito, cercado pelas brincadeiras dos netinhos. Deu tudo errado. Mas recebi outros tipos de bênçãos que me fazem adotar estilo de vida diferente, e a permanecer nessa estrada como uma metamorfose ambulante. Acho que carrego o espírito dos caçadores e coletores, nômades por natureza e primeiros habitantes do planeta. Nem imaginava passar os primeiros minutos da madrugada deste abençoado 15 de maio circulando e dando minhas tacadas em torno de uma mesa de sinuca, ali na rua Cabral, centro de Corumbá, coração do Pantanal, ao lado de colegas do curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Pois é, aos 60, decidi voltar à vida acadêmica, inspirado na atitude do meu amigo e ex-editor no jornal O Estado de MS, Cláudio Amaral, que aos 64 anos é estudante de História na FMU da Liberdade, em São Paulo. Um curso que traz a magia da Antropologia, da Arqueologia e da Sociologia, que me ensinam a cada nova aula que a verdade está muito mais no meu olhar do que naquilo que é olhado, o que me ajuda a compreender o outro e a respeitar os seus valores. Nessa mesma estrada tenho a missão como dirigente em Corumbá da Arte Mahikari, que este ano completa 50 anos no Brasil. Mahikari é um caminho que percorro há 30 anos, desde que prestei o seminário básico em 1984 no místico bairro oriental da Liberdade, em São Paulo, indicado por uma pessoa que está ao meu lado, em todas as horas, há 35 anos, Vera Lúcia. Mahikari é um movimento espiritualista que me ajudou a melhor interpretar as religiões, a encontrar a verdade e a luz, e a seguir os princípios divinos. É só o que também desejo aos meus amigos, por isso vivo convidando-os para conhecer os ensinamentos no seminário de três dias (em outubro haverá um em Corumbá!). Em abril, estive na Sede Superior da Mahikari, na rua Paracatu, bairro da Saúde, em São Paulo (na imagem, ao lado dos amigos Marcos Akira e Luís Roberto Caprioli) durante a celebração dos 50 anos da Mahikari. Na mesma estrada sobrevivo como jornalista correspondente do diário O Estado de MS, de Campo Grande, e presto serviços como assessor de imprensa aos parceiros Instituto Moinho Cultural e Instituto Homem Pantaneiro (IHP), organizações não-governamentais com sede no Porto Geral, em Corumbá. O Moinho ensina dança, música e educa 360 crianças para a vida. O IHP, com projetos e ações, defende a preservação do Pantanal. Sessenta anos já se foram, e agora fazem parte da memória do gravador espiritual da vida. Recomeço do zero, e o que conta agora são os novos anos que virão, guiados pelas bênçãos e a vontade divina. Espero que sejam anos de muita luz, energia, pesquisas e novos conhecimentos. Como pesquisador, começo a preparar um trabalho sobre os 100 anos do Centro Espírita de Ladário. E descubro que aquele homem conhecido como "o curandeiro que benzia pessoas do outro lado do rio”, é um dos fundadores da entidade. O nome dele: Abdo Urt. Meu tio Abdo. Era um dos quatro irmãos Urt que vieram de Jerusalém, na Palestina, e se estabeleceram em Ladário: ele, meu avô Jamil, Isaac e Isaías. A história bem contada carrega o poder de resgatar o passado para que possamos entender o presente e preparar o futuro. Por isso escolhi História, porque por meio dela me sinto feliz com essa incessante busca da verdade.
PS.: tenho três filhos, todos bem encaminhados, mas nenhum neto.






quinta-feira, 1 de maio de 2014

Erasmo, o Rei e a Democracia

Erasmo Carlos, 72 anos, aprendeu que a vida se renova a cada gesto. Trocou o uísque pela água mineral, fez as pazes com o parceiro Roberto Carlos, montou uma big banda responsável por novos e modernos arranjos para seus velhos sucessos e está aí na estrada, comemorando 50 anos de trabalho. No show da noite de abertura do Festival América do Sul, nesta quarta, 30 de abril, em Corumbá, o Tremendão ainda homenageou o Rei ao apresentar no palco o cover Robson Carlos, que tal qual Roberto atirou rosas vermelhas para a platéia, tocou as mãos no lado esquerdo do peito e sussurrou “são tantas emoções” ao se despedir. Um show completo, digno do seu nome, “Gigante Gentil”, na medida certa para sacudir um festival que também precisa se renovar e se modernizar, reavivando o diálogo, a discussão sociocultural em torno dos principais temas que afligem nossa sofrida América do Sul, inclusive com a temática indígena. O festival criado na gestão Zeca do PT se distanciou culturalmente no findar da era Puccinelli, e precisa portanto ser recriado, para não cair no esquecimento e se tornar um mero produto capitalista, empresarial e político, como quase tudo hoje em dia no País. Na noite de Erasmo e de Roberto cover, foram justamente os políticos os responsáveis pelo maior mico da festa. E sobrou para o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, que viu seu secretário de Obras, Carlos Marun, responder ao xingamento de um cidadão cambaleante que da platéia chamava todo mundo de incompetente, desfiando sua ira contra o sistema. Ao perceber o descontrole do secretário, Puccinelli o conteve e o empurrou para o fundo do palco – um cala-boca público que envolveu de constrangimento as demais autoridades, entre elas os prefeitos Paulo Duarte e José Antonio Assad. Para piorar, um assessor de Marun ainda desceu do palco e partiu para o confronto diante do cidadão pançudo e que tentava, a seu modo, exercitar o livre direito de democracia – palavra, aliás, muitas vezes repetida pelo governador no discurso de abertura do festival. Enquanto isso o governador seguia seu discurso democrático que ressaltava a integração dos povos sul-americanos, diante de uma plateia diminuta e cinco policiais escoltando um cidadão tropego para fora do recinto público. Não era bem a despedida que o governador queria na décima primeira edição do evento. Ainda bem que o festival, na sua essência, é maior do que qualquer atitude para se fazer silenciar e ordenhar um povo.