segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Corumbá destes meus sonhos


Era verão de 1971 e resolvi trocar o último ano do ensino médio vespertino da Escola Estadual Maria Leite pelo noturno recém aberto do Colégio Dom Bosco. Matriculei-me, mas nunca apareci. Um dia antes de começar as aulas arrumei as malas e parti para uma viagem sem volta. Por algum tempo, meu nome permaneceu na lista de chamada, como uma amarga recordação para aquela menina que passou a ser a minha ex-namorada. Ela seria minha parceira de sala de aula. Deixei para trás o primeiro amor, os amigos, a vida mansa e gostosa de Corumbá, e parti para o desconhecido, como alguém que vai para a guerra. Por sorte, nos meus caminhos em São Paulo, encontrei novos amores, amigos e mestres, que me ensinaram a escrever e ver a vida com gratidão, como uma dádiva divina, um presente a cada dia. Hoje sou grato a Corumbá dos meus primeiros dias e a São Paulo de 30 anos de lutas e lições. E ao voltar a Corumbá que um dia fez parte dos meus sonhos, volto a sentir o calor, como raio de saudade, dentro do meu coração – repetindo a poesia da marcha de Luiz Feitosa Rodrigues. Em Ladário nasci, cresci e ganhei um doce lar para onde voltei. Em Corumbá aprendi a lutar e a amar, sabendo que um dia deveria voltar para religar o elo com o passado. E eis-me aqui novamente para comemorar mais um aniversário de Corumbá e ver passar, num só desfile, pela General Rondon, o passado, o presente e o futuro de uma cidade abençoada por Deus.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A beleza mora no fundo do quintal


Apresento a mais nova inquilina da casa dos Urt em Ladário. Ela ocupa aposentos no galpão que fica no fundo do quintal. Ela mesma, é claro, teceu seu ninho que repousa sobre uma fiação retorcida e desligada.
Batizei-a como Midori Sam.
Tem a plumagem marrom esverdeada e não é mais virgem. Colibris, como ela, são poligâmicas. Midori acasalou-se e está cuidando do ninho, dos ovinhos e dos filhotes que devem ver em breve a luz do mundo. Se os predadores deixarem. Mas Midori é brava e não deixa ninguém se aproximar do ninho – nem eu. Falo com ela à distância.
O zoom 15 da minha Sony D-50 captou essa imagem de Midori no alto de um galho de uma figueira no fundo do quintal.
Midori Sam, muito prazer. A natureza agradece por esse momento, que vai durar uma eternidade, porque já caiu na internet. E que me perdoem outras aves enormes e feias, mas tamanho não é documento, e beleza é fundamental.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Já raiou a liberdade. De ser feliz.


Assistindo ao desfile do Dia da Independência, na avenida 14 de Março, em Ladário, caiu em minhas mãos uma tira de papel onde cabia exatamente a letra do Hino da Independência. Mais tarde fiquei sabendo que quem mandou distribuir o folheto para a multidão foi o prefeito José Antonio, querendo com isso fazer o povo cantar junto. Não com o propósito de agradar aos militares ou deixar o coral mais bonito, mas para fazer despertar na população o sentimento de liberdade. Essa tão esquecida liberdade, cantada pelo hino já na primeira estrofe: “Já podeis, da Pátria filhos, ver contente a mãe gentil; já raiou a liberdade, no horizonte do Brasil”. Liberdade no sentido de ter luz própria, do direito de escolha, de trilhar um caminho digno e honesto. Diz mais o hino: “Não temais ímpias falanges, que apresentam face hostil; vossos peitos, vossos braços, são muralhas do Brasil”. Se serviu para refletir em tempos de guerra, serve para ter um insight em tempos de paz. Já perceberam como é vistosa uma mulher fardada? Pois é, esta foi mais uma conquista da democracia, do direito de escolha, que permite à mulher, até nas Forças Armadas, ocupar patentes antes só permitida aos homens. Com isso elas se tornam mais independentes e menos submissas. Isso é liberdade. E o direito de ser feliz.