quinta-feira, 9 de junho de 2022

O Brasil alimenta o mundo. E passa fome.

Foto: Marcello Casal Júnior/Agência Brasil

                                                       Nelson Urt


"O Brasil alimenta mais de 1 bilhão de pessoas pelo mundo com agricultura de ponta, mecanizada, e com tecnologia incomparável em todo o mundo. O mundo hoje, ouso dizer, depende muito do Brasil para sua sobrevivência",

Palavras de Bolsonaro durante encontro com Biden na Cúpula das Américas nos Estados Unidos, reproduzidas pelo portal G1 e Jornal Nacional neste dia 9 de junho.

O presidente do Brasil estava sendo bastante sincero. De fato, o mundo afora beneficia-se da política internacional de exportação agropecuária seguida a ferro e fogo pelo sistema do nosso País. A produção do nosso agronegócio abastece irrestritamente o mercado lá fora. E que produtividade: a fronteira agrícola se expande cada vez mais em terras antes consideradas intocáveis da Amazônia e do Pantanal. Plantio de soja transgênica avança enquanto se derrubam matas virgens. Vastas áreas do Pantanal sendo devastadas a queimadas para aumentar a pastagem para o gado e o plantio de soja.

Enquanto isso, aqui entre nós, 33 milhões de brasileiros passam fome. Esses números foram divulgados neste dia 8 de junho pelos principais jornais e sites do País, inclusive a Agência Brasil, órgão de comunicação governamental.

O levantamento divulgado é da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) e indica que 33 milhões de pessoas não têm o que comer no Brasil. O número de novos brasileiros em situação de fome aumentou 14 milhões em pouco mais de um ano.

Além disso, mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau – leve, moderado ou grave – segundo a pesquisa. Ou seja, quem come hoje mas não sabe se terá o que comer amanhã.

Em números absolutos, os dados apontam que 125,2 milhões de brasileiros passaram por algum grau de insegurança alimentar.

Segundo a pesquisa, o Brasil retornou ao patamar equivalente ao da década de 1990.

Não cabe aqui condenar ou inocentar este ou aquele governo. Fica claro que o sistema capitalista adotado pelos governantes do Brasil – ora com uma política de bem-estar social, ora imerso no neo-liberalismo, e em algumas vezes condensando ambos os princípios – vem condenando milhares à miséria e contemplando uma minoria a viver confortavelmente na fartura.

A fala de Bolsonaro na Cúpula das Américas é um exemplo claro de que vivemos em dois Brasis, entre a segurança e a insegurança alimentar, da elite do agronegócio exportador e do brasileiro que luta pelo prato de comida. A isso podemos chamar de democracia de fachada, legitimada por uma oligarquia que legisla em causa própria.

A partir desse flagelo, outras anomalias são desencadeadas no País que acumula recordes negativos em quase todas as áreas: na violência doméstica, nas ruas e no campo, no racismo estrutural, no sistema de saúde desestruturado, na agressão ao meio ambiente, na desigualdade social e habitacional, no tratamento às pessoas vulneráveis.

Enquanto isso, na maior cara de pau, candidatos se aproximam com aquele largo sorriso, te dão dois tapinhas nas costas e dizem que tudo vai melhorar após as próximas eleições.