sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

O tráfego insustentável de carretas na BR-262: colapso anunciado


Congestionamento na chegada a Corumbá: muitas carretas para pouca estrada (Navepress, 25/01/24

Nelson Urt/Navepress

E inevitável conversar sobre os tempos antigos sem sentir uma ponta de nostalgia e lembrar das viagens demoradas mas imperturbáveis do Trem do Pantanal, mesmo com a travessia da balsa. Agora, viajar pela a rodovia BR-262 no trecho entre a ponte sobre o rio Paraguai e a entrada para as mineradoras é correr riscos em uma pista perigosa e precária, interdições, congestionamentos de carretas e, em breve, até a uma paralisação total.

Minha viagem Campo Grande-Corumbá nesta quinta, 25 de janeiro, durou 1 hora e meia a mais do que o previsto. Devia chegar às 18h mas só conclui a viagem às 19h30 após ficar retido na rodovia BR-262 em uma fila de mais de 2 quilômetros, entre carretas, ônibus e carros de passeio, na entrada do distrito Maria Coelho. Os bitrens que não conseguiam acesso à entrada das minas do Urucum bloquearam a pista no sentido a Corumbá e provocaram um engarrafamento gigante, que para nossa sorte não se prolongou por muito mais tempo: a noite caia no Pantanal e os mosquitos estavam avançando.

Este, porém, é apenas um detalhe nos problemas provocados pelo super tráfego de carretas que podem se tornar frequentes e levar o transporte rodoviário de Corumbá a um colapso nesta temporada de férias e de Carnaval, quando muitos turistas estão sendo aguardados na cidade e outros milhares de corumbaenses, ladarenses e bolivianos retornam de férias.

O trecho de 50 km entre a ponte sobre o rio Paraguai e o posto Lampião Aceso da PRF continua bastante castigado, com ondulações, buracos e deformações, em um trajeto inseguro e perigoso, que requer atenção redobrada e redução de velocidade. Recentemente, parlamentares alertaram que as operações tapa buracos não são mais suficientes naquele trecho da entrada construída nos anos 80 e que agora carece de uma revitalização completa para se adaptar à nova realidade.

Mais ou menos 200 caminhões bitrens cruzam diariamente esse trecho da estrada levando em média 50 toneladas de minério em direção ao porto de Santos. São mais de 10 mil toneladas de minérios transportadas diariamente pela estrada, cada vez mais castigada pelo sobrepeso, mesmo em trechos em que receberam recapeamento completo.

E incrível como a ponte sobre o rio Paraguai trepida e balança quando passa uma carreta bitrem. Pude sentir pessoalmente essa trepidação enquanto aguardava com meu carro, sobre a ponte, a passagem de outros veículos, já que estrutura de concreto passa por reparos e também tem interdições. Com o tráfego pesado das carretas da mineração, o concreto da ponte não iria resistir por muito tempo. E para fevereiro, conforme anunciou a Agesul (Agencia de Gestão de Empreendimentos em Mato Grosso do Sul), devem ocorrer interdições totais em espaços de 24h, 48h e até 72 horas, o que exigirá o bloqueio total das duas pistas da BR 262. A Agesul não determinou as datas, que devem ser marcadas, provavelmente, após o Carnaval.

Neste caso de interdição total, os veículos de passeio terão como única opção a Estrada Parque (de terra) e a balsa para a travessia dos veículos no Porto Morrinho, sistema que foi utilizado até 2001, antes da construção da ponte. Só que as balsas não vão comportar as carretas da mineração e nesse período as mineradoras terão de suspender o transporte rodoviário de minério e se concentrarem no transporte hidroviário pelos três portos em funcionamento: Granel Química, Gregório Curvo e Porto Correa (este último reativado em 2023 pela Vetorial). Boa oportunidade para governantes, empresários e parlamentares voltarem a discutir sobre a revitalização da malha ferroviária, abandonada.