quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Até a crise 'dançou' no Carnaval de Corumbá

Bloco dos Palhaços fechou desfiles do Carnaval de Corumbá
Vejam que frase memorável, digna de intensas reflexões: “a identidade de Mato Grosso do Sul está em Corumbá”. Ela foi dita pelo secretário de Estado do Turismo, Nelson Cintra, no camarote da imprensa, durante o desfile do Grupo Especial do Carnaval corumbaense. Trata-se de um reconhecimento histórico. Cintra lembrou que a divisão do Estado trouxe enormes prejuízos e nos roubou a identidade, agora resgatada por Corumbá. Entendo o recado que Cintra quis passar: Corumbá dá a resposta em nome de todo o Mato Grosso do Sul. Hoje a cidade representa a fina flor da cultura sul-mato-grossense, não só por organizar o melhor Carnaval do Estado. Muitos corumbaenses ainda não acreditam nesse potencial, mas isso virá com o tempo. Desafiando a fria lógica dos números e da economia, que tirou o Carnaval oficial de 33 cidades do Estado, Corumbá decidiu bancar investimentos em um dos seus maiores produtos culturais, apelou para a iniciativa privada, e apostou certo. E o que é o Carnaval senão a maior manifestação cultural brasileira, ao lado do futebol? 
Hélènemarie Fernandes: luxo na avenida e alta no turismo
O balanço do Observatório de Turismo, que será anunciado pela Fundação de Turismo, vai revelar números amplamente favoráveis. Em primeira mão, posso anunciar um deles: o aumento de 10% de entrada de turistas via aérea, um dos portais pesquisados. Cresceu também o número de turistas paraguaios, argentinos e chilenos, impulsionados pela queda do valor do real diante da moeda deles, sem contar, é claro, o explosivo fluxo de bolivianos, nos hotéis, restaurantes, lojas, em todo o comércio. Outro dado que o Observatório de Turismo vai revelar é que os hotéis tiveram 90% de vagas ocupadas no período de Carnaval. "Estamos avançando e atraindo cada vez mais turistas do Centro-Oeste e interior de São Paulo, e no Estado somos imbatíveis", constatou Hélènemarie Fernandes, diretora da Fundação de Turismo de Corumbá, falando do Carnaval.
Tanabi como "a Tia": 40 carnavais
E onde está a crise? Ela, de fato, existe, mas foi devidamente sufocada pelo tratamento adequado dado à cultura e ao turismo. O clima ajudou, choveu pouco, os índices de violência foram reduzidos, os ventos foram tão favoráveis que espalharam alegria por todos os cantos da cidade e até o prefeito Paulo Duarte foi visto sambando ao lado dos garis da limpeza pública, a turismóloga Hélènemarie brilhou na ala das baianas da Vila Mamona e o gestor de cultura José Antonio Garcia, o Tanabi, cumpriu a tradição de levar para o bloco Cibalena seu maior personagem, "a Tia". Enfim, tudo é Carnaval, tudo é cultural. Só mesmo as mentes dualistas ou fundamentalistas ainda insistem em enxergar nestes dias de folia dionisíaca a face diabólica do mal, escondida atrás das máscaras de pierrôs, arlequins e colombinas no Bloco dos Palhaços - e palhacinhos. E aí eu pergunto: se tudo isso é o mal, onde estará o bem?