domingo, 31 de agosto de 2014

Delinha, tango e rasqueado em Corumbá

Costumo dizer aos amigos que “a sexta-feira é minha”, um jargão que criei nos tempos em que varava as madrugadas de São Paulo percorrendo os cinemas, os teatros, casas de shows e as mesas de sinuca das ruas Augusta e Major Quedinho. Nesta sexta quente de Corumbá, não tive tantas opções como na noite paulistana, mas recebi a benção de ver de bem perto um show de Delinha, a rainha do rasqueado de Mato Grosso do Sul. Mais que isto, tive o privilégio de conversar com ela durante quase uma hora no camarim, enquanto aguardávamos o início do show na Noite da Seresta, no coreto da Praça da Independência. Desfrutei da singela companhia da cantora de 77 anos e tomei um gole quando me ofereceu sua bebida favorita antes de cada show: conhaque com guaraná. João Paulo, o único filho que teve com o ex-marido e parceiro Délio, acerta o som e abre o show com um repertório regional, enquanto pouco a pouco todas as cadeiras vão sendo ocupadas na praça. No show, Delinha canta “O Sol e a Lua”, consagrada ao lado de Délio, agora com João Paulo, “Por onde andei" e outros hits de mais de 50 anos de trajetória. Se dessemos mais atenção às raízes da nossa música e à história de nossos compositores, um show como o de Delinha, gratuito, em praça pública, seria capaz de paralisar Corumbá, mas não é o que acontece, porque no Brasil a cultura é vista como artigo de segunda linha, fragmentada. Grandes compositores e intérpretes como Delinha são esquecidos, em detrimento dos hits populares descartáveis que o público canta em um ano e no seguinte não se lembra mais – seguindo a linha do capitalismo e sua economia de consumo. Quem ainda se lembra de "Ai se eu te pego", de Michel Teló? Pois as composições de Delinha são eternas e há quem saiba dar-lhe o devido valor e colocar no lugar que merece. A Fundação de Cultura, em um gesto ousado, bancou a sua vinda a Corumbá. A mesma Delinha que, em 2012, foi apresentada para um grande público como estrela da música de raízes sul-mato-grosssense no Festival de Chamamé de Corrientes, na Argentina. “Não fiquei rica, mas não sou pobre, moro na mesma Velha Casinha (que virou música) e carrego dentro de mim a riqueza dos grandes momentos”, resume, pouco antes de cantar o tango "Corrientes". Acesse o canal Reportagem para ler mais sobre a trajetória de Delinha e veja a apresentação dela em Corrientes no link 
http://www.youtube.com/watch?v=KAZ9eY7_ckU

domingo, 24 de agosto de 2014

Agosto da Dama da Viola

Agosto, para muitos, pode ser o mês do desgosto. Mas para outros tantos, como eu, é o mês do prazer. Prazer pela boa música. Por exemplo, a música de Helena Meirelles, que se estivesse viva completaria 90 anos no dia 13. Autodidada, benzedeira, lavadeira e parteira que ficou conhecida mesmo como Dama da Viola, o fenômeno brasileiro eleito pela revista Guitar Player como uma das melhores instrumentistas do mundo, comparada a Keith Richards, do Roling Stores, e Eric Clapton, isso em 1993, aos 69 anos. Estrela com reconhecimento tardio, Helena fugiu de casa aos 15 anos, teve o primeiro dos onze filhos aos 17 e três casamentos. Deixou o segundo marido para morar na zona, quando passou a tocar viola nos bordéis do Porto 15 e Presidente Epitácio, Mato Grosso do Sul. Só em 1992, aos 68 anos, apareceu pela primeira vez em um programa de televisão, com Enezita Barroso. A história completa da Dama da Viola, que virou documentário produzido pela GNT (http://www.youtube.com/watch?v=_ljCRJN7t4M) você confere no canal Reportagens desde blog.