quinta-feira, 28 de março de 2019

A coisificação da mulher


Todos querem saber o que há por trás da violência contra a mulher
Nelson Urt
Navepress
A execução a tiros da vereadora Marielle Franco, no Rio, há um ano, e o assassinato a facadas da professora Nádia Sol, neste dia 10 de março, em Corumbá, escancaram um Brasil cada vez mais violento e que coloca a mulher como ponto vulnerável. Marielle por motivação política e Nádia com causa passional, não importa, o que se vê é uma  naturalização da violência contra a mulher que começa dentro de casa e ganha as ruas, com o assédio e casos de estupro. Levando-se em conta o papel da mulher como mãe, como trabalhadora, como base da formação da família, estaremos então diante de uma situação assustadora. Que modelo de sociedade estamos oferecendo para as futuras gerações? Toda essa violência não estaria agora sendo reproduzida pelos estudantes nas escolas?
“Há uma coisificação da mulher”, alertou o promotor do Ministério Público Estadual (MPE), Marcos Martins Brito, durante palestra na Mesa Redonda com o tema “Assédio não é sedução, é falta de educação”, nesta quarta, 27 de março, no Anfiteatro Salomão Baruki, no Campus Pantanal da UFMS em Corumbá. Brito se fundamenta na tese da socióloga brasileira Heleieth Saffioti para concluir que a violência contra a mulher tem como causa o “modelo de sociedade patriarcal” surgido com a industrialização e o capitalismo. De uma maneira geral, o homem vê a mulher como posse, obrigando-a a seguir suas ordens em todos os aspectos. Trata-se de uma relação de poder.
Promotor do MPE apresenta números assustadores
O auditório do Campus Pantanal recebeu tanta gente que na porta havia um aviso: lotação esgotada. Lá dentro, sentados até nos degraus do corredor, estudantes universitários e secundaristas participaram das discussões e ouviram o promotor do MPE revelar números assustadores: 1011 ações processuais correm na Justiça de Corumbá hoje por conta de casos de violência doméstica contra a mulher. Nos três primeiros meses do ano já são 110 medidas protetivas de urgência concedidas a mulheres vítimas de violência. Pesquisas apontam a ocorrência de 5 casos de feminicídio por dia no Brasil.
Durante o evento, prestou-se homenagem à ex-aluna da UFMS Nádia Sol assassinada no dia em que completava 38 anos. O encontro contou com o apoio da UFMS, cursos de Letras e Pedagogia. Sobre o tema também falou a professora Jane Contu, assessora da Secretaria Especial de Cidadania e Direitos Humanos de Corumbá. A UFMS apoiou a ação e foi representada pelas professoras Cláudia Araújo, do curso de Pedagogia, Heloisa Portugal, curso de Direito, representando o diretor do CPAN, e pela mediadora Rosângela Villa, professora pesquisadora do curso de Letras e do Mestrado em Estudos de Linguagens.

domingo, 17 de março de 2019

E enquanto isso, no Brasil, 5 milhões passam fome


Nelson Urt
Navepress

Para onde caminha este modelo capitalista em que uma minoria acumula fortunas em detrimento de milhares que passam fome ou correm atrás do prejuízo nas filas de desemprego? Vejam o resultado de um sistema que leva a humanidade para o fundo do poço, explora todas as reservas naturais do planeta sem reposição – muito pelo contrário, provocando mais desastres e tragédias como Mariana e Brumadinho – e prega o discurso do ódio, distanciando-se cada vez mais da verdadeira mensagem cristã de amor e solidariedade ao próximo. O resultado é a fome de muitos - quase todos invisíveis, parte de uma sociedade que ninguém quer ver ou mostrar.
Os números divulgados no Relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo-2018” da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostrou que a fome aumentou no mundo. 821 milhões de pessoas passavam fome em todo o planeta em 2017. Pelo terceiro ano consecutivo, este número aumenta, segundo a FAO. 
O relatório cita como as principais causas do avanço da subnutrição os conflitos armados, as crises econômicas e fenômenos naturais extremos, como secas e enchentes. 
No Brasil, 2,5% da população passou fome em 2017. Isso corresponde a 5,2 milhões de pessoas. O Brasil só saiu do mapa da fome em 2014, quando o índice de pessoas ingerindo menos calorias que o recomendado caiu para 3% da população. Para que um país saia do Mapa da Fome, de acordo com a ONU, é necessário que a quantidade de pessoas ingerindo menos calorias do que o recomendado seja inferior a 5% da população. Trata-se, na verdade, de uma questão de direitos humanos - palavra sobre a qual certas autoridades sentem aversão, até pavor. O estudo aponta como riscos para o aumento da fome no País o avanço da pobreza, o congelamento dos investimentos sociais por 20 anos, a alta do desemprego e o corte de pessoas beneficiadas pelo Bolsa Família. (Fonte: Observatório do Terceiro Setor)


domingo, 3 de março de 2019

Escritora luta para transformar vidas na fronteira


Vivi Mendez lançou livro de poemas na Bienal de São Paulo em 2018
Nelson Urt
Navepress

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, o encontro deste blog é com a escritora, poeta e professora Vivi Mendez, uma argentina por nascimento, boliviana por casamento e brasileira por coração. Na linha da fronteira Brasil-Bolívia, Alicia Viviane Mendez Rosales é uma imigrante pendular, com atividades em Corumbá e Puerto Quijarro. Representa a linha de frente na luta pelos direitos humanos, do empoderamento das mulheres e na defesa de minorias, com atuação em comunidades indígenas. É uma mulher em incessante busca pela transformação da sociedade por meio da arte, da literatura, da educação. Um trabalho de formiguinha, como diz.

Atua como professora, escritora, médica e terapeuta. Detém o título de doutora honoris causa em Direitos Humanos concedido em 2018 por uma universidade da Espanha. Seu primeiro emprego como professora foi em uma aldeia indígena na fronteira da Argentina com a Bolívia, onde além de ensinar tinha de resolver conflitos nas comunidades. Um enorme aprendizado.

Ela passou parte da infância e adolescência em Córdoba, interior da Argentina. Casou-se com Bismarck de Rosales, boliviano que conheceu na Universidade Nacional de Salta, na Argentina. Percorreram alguns países antes de se estabelecer em Corumbá para criar os dois filhos, Daniel Matías e Adrián Emanuel, que hoje fazem graduação na Europa. Pensando em guia-los para um futuro melhor ela escreveu “10 deseos para mis hijos”, livro em espanhol também lançado na Argentina, onde moram suas irmãs.

Alicia Viviana Mendez, aos 47 anos, está sempre com um pé do outro lado da fronteira, em Puerto Quijarro, onde comanda projetos de educação, e outro pé em Corumbá. Mas jamais esquece suas raízes da cidade argentina onde nasceu, Tucumán, mesma terra natal da imortal Mercedes Sosa, consagrada como a voz da América do Sul. “Gosto muito de cantar as músicas de La Negra (como Mercedes Sosa era conhecida devido sua ascendência indígena)”, diz. “Criei-me no deleite da arte, fazia teatro e tinha um programa de tevê na Argentina”, conta.

Em Corumbá, Vivi conheceu o poeta e ativista cultural Benedito C.G.Lima, logo que chegou, aos 24 anos, amizade longa que floresce atualmente em ações como o Passa na Praça que a Arte te Abraça, encontro de poetas, contistas, romancistas, artesãos e outros multiplicadores da cultura na Praça Independência, nas manhãs de sábado.

Em 2018, ela lançou os livros de poemas “Poetize-se” na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty-RJ) e “Inspiração em Verso” na Bienal de São Paulo, pela Editora Futurama. Publica seus livros em português e espanhol, e consegue lançá-los alternadamente em Corumbá, na Bolívia, na Argentina, Espanha e até na Inglaterra, onde estudam os filhos.

Na Bolívia, Vivi Mendez estudou Administração Educativa na Universidade Católica. Cursou pedagogia, psicopedagogia, arte-terapia, fotografia e Medicina, com atuação na Cruz Vermelha.

Poucas mulheres como ela tem a capacidade de integrar os jovens bolivianos e brasileiros por meio da arte e educação na fronteira, apesar de tantos entraves. Em Puerto Quijarro, como professora, mantém um Clube de Leitura e promove intercâmbio com poetas corumbaenses. Em Corumbá ela apoia o projeto Novo Olhar, com 83 alunos que saíram da situação de vulnerabilidade.

Na FLIP de Parati em 2018: "Poetize-se"
A poesia de Vivi carrega toda a influência da mãe, que gostava de compor e cantar, e do pai, que tocava violão e “adorava escrever cartas e poesias” em um período de chumbo da ditadura argentina, nos anos 1970, em que quase tudo era censurado ou proibido.

“Meu pai escrevia poesias secretas, ninguém podia ouvir, só a gente, era como se fosse um tesouro, mas também podia ser uma bomba. Nesse tempo a poesia era a única válvula de escape dele. Ele era operário, metalúrgico, viu mortes, sabia onde enterravam os corpos, era um pavor, e não poder se manifestar o levou a escrever poesias. Esse é o peso da poesia que carrego”, conta.

Para Vivi, a luta deve ir muito mais além da defesa dos direitos das mulheres. “Temos que construir uma nova identidade como humanidade porque isso é que está por trás do machismo. Cadê a dignidade da humanidade? Esta é uma área que invisto muito na minha vida”, diz. “Outro aspecto é a justiça, o acesso do cidadão à justiça. Tudo passa pelo poder, nem todos tem dinheiro para se defender. Se você estuda tanto é para semear conhecimento na sociedade, e quando não consegue se angustia", conclui. 

Comentários
Obrigada pelo carinho Nelson Urt, e para esclarecer, ainda continuo estudando, na verdade nunca parei... pois acredito que e o estudo e a única revolução possível por nos mesmos e pelos demás tentando juntos transformar nossa realidade! Se você enxergou essa esperança utópica em mim foi por que você a carrega também! Juntos somos mais! Abraços! (Vivi Mendez, 06/03/2019)

Só quem conhece essa linda mulher, sabe como ela tem um coração lindo, sempre pensando no próximo!! Que Deus a abençoe sempre. Saudades de vocês e dos meus amados sobrinhos. (Irami Maeda, 06/03/2019)

Parabéns nobre amiga Embaixadora da Paz Profª. Dra. Vivi Mendez pelos relevantes serviços prestados as causas Humanitárias e Culturais em defesa de um Povo que precisa de apoio logístico, acessória Jurídica e cumprimento das Leis que amparam e protegem as famílias.(Iguaci Luiz de Gouveia, 06/03/2019)

Tem o dom de ensinar e encantar. Parabéns, mulher!!! (Arlene Inez Costa, 06/03/2019)

Nota do Editor
Os mais de 300 acessos a esta publicação tiveram como origem o Brasil (140), Bolívia (44), Argentina (30), Estados Unidos (6), Inglaterra (4), Austrália, Portugal, entre outros países.