sexta-feira, 24 de maio de 2019

Da prensa de Gutemberg ao jornal escolar em Ladário


Projeto Jornal Escolar: professor Stefani e jornalista Nelson Urt na abertura
Jota Etcheverria
Navepress

Esta terra, que viria a ser chamada Brasil, nem havia sido dominada pelas tropas portuguesas quando o alemão Johannes Gutemberg, em 1455, criou na Europa a prensa de tipos móveis que revolucionou o método de se produzir informação em todo o mundo. É o que chamamos hoje de impressão, que deu origem à denominação Imprensa. 
O jornal, agora quase todo eletrônico, agilizou a publicação e multiplicou a informação, tornando seu acesso mais rápido e barato. Hoje a sensação é de que temos o mundo em nossas mãos diante de uma tecla e uma tela de computador ou smartfone. Estamos na era das redes sociais, com a notícia automatizada. Mas e como fica, nesse cenário pós-moderno, o papel do jornal impresso, a origem de tudo, que sempre teve o poder de traduzir a história do nosso cotidiano, da nossa rua, do nosso bairro, da nossa cidade? 

Em Ladário, a resposta a esse questionamento está sendo dada por um projeto de Jornal Escolar criado pelo professor Alex Stefani dos Santos. O projeto tem como tema “Narrativas e histórias populares, escrevendo o cotidiano na Escola Municipal Profº João Baptista". Abre um novo campo de discussões, aprendizado e conhecimento para os alunos do ensino fundamental I e II. 
Na abertura da Oficina do Jornal Escolar, coordenada pelo jornalista Nelson Urt, os alunos foram incentivados a propor os assuntos a serem abordados em suas reportagens. Assim, nos primeiros números, conforme as propostas deles, o jornal vai trazer, além de informações básicas sobre o cotidiano da escola, matérias sobre música, esportes, história, ciências, poesias, crônicas e desenhos (história em quadrinhos, HQ). A periodicidade será mensal, com a impressão inicial de 100 exemplares. 
Na introdução da oficina, Nelson Urt ministrou palestra e apresentou um vídeo sobre a criação da prensa móvel por Gutemberg e tudo o que ela representou para a ampliação do conhecimento universal. Os alunos receberam exemplares de todos os jornais impressos em circulação hoje em Ladário e Corumbá – Pérola News, Correio de Corumbá, Folha de Corumbá, Diário Corumbaense, Jornal da Mulher e até um número do Correio de Ladário, hoje inativo. 
Alunos tomam contato com jornais impressos na região
O objetivo principal, conforme o professor Alex Stefani dos Santos, é tornar o aluno protagonista da história de sua escola, de sua comunidade e sua cidade, despertando o sentimento crítico durante o fazer e escrever o jornal. “O jornal escolar deve ampliar as formas de comunicação já existentes, além de trabalhar internamente a interdisciplinaridade, aproximando as diferentes áreas do conhecimento através da participação integral dos docentes e alunos”, define o autor do projeto. 
O brilho nos olhos dos alunos foi a melhor resposta na abertura da oficina do Jornal Escolar na manhã desta sexta, 24 de maio, no JB, a maior escola pública de Ladário. O resto dessa história será contada em breve nas páginas do jornal.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Com apoio do MPF, luta pela Educação cresce em MS

Manifestantes na rua Frei Mariano: "Não somos balbúrdia, somos solução"
Nelson Urt
Neste 15 de maio de manifestações contra os cortes de 30% de recursos da Educação, o presidente do País estava em Dallas, nos Estados Unidos que "ama desde a infância", com recursos bancados pelo contribuinte. E de lá usou a expressão “idiotas úteis” para se referir aos manifestantes brasileiros. “Inteligentes” seriam então os americanos de Dallas, tudo o que é eficiente está nos Estados Unidos, tudo o que é ruim está no Brasil. Este é o velho e verdadeiro complexo de vira-latas que ainda domina certas cabeças daqueles que ainda nos enxergam como ex-colônia herdeira do patrimonialismo. Continuamos, como bem configurou Jessé Souza em A Elite do Atraso (Editora Leya, 2017), sendo tratados como idiotas e imbecis. O corte na Educação é mais um golpe truculento daqueles que querem manter o País no abismo cultural e educacional, como massa de manobra, impedindo que o brasileiro aprenda a pensar, refletir e escolher o que é melhor para seu futuro. Contra essa decisão inconstitucional e arbitrária surge agora a rejeição e a interferência do Ministério Público Federal (MPF), que decretou neste 15 de maio o Dia D em Defesa da Educação. Dois inquéritos foram instaurados pela Procuradoria Regional de Direitos do Cidadão para avaliar os impactos causados à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e ao Instituto Federal (IFMS) pelo contingenciamento e bloqueio orçamentários. Assim também foi feito em outros 20 Estados. O mesmo MPF que acaba de ajuizar na Justiça uma ação em que pede a suspensão imediata e integral do decreto que flexibilizou as regras para o porte de armas no País. Na ação, divulgada neste 15 de maio, os procuradores afirmam que o decreto extrapola o poder de regulamentação privativo do Executivo, desrespeita normas previstas no Estatuto do Desarmamento e "coloca em risco a segurança pública de todos os brasileiros". 
"O governo é contra a Educação porque a Educação derruba desgovernos"
O MPF de um lado, os estudantes e professores do outro, nas ruas, estas são as nossas “armas” para conter a onda de destruição que ameaça sucatear a Educação, a cidadania e os direitos constituídos no País - como mostram essas fotos da Navepress na rua Frei Mariano, em Corumbá-MS.  Em retribuição àquele que me elogiou de "idiota útil" (eu também fui à rua Frei Mariano, neste 15 de maio, data em que completava 65 anos de vida e luta), ofereço estes versos nutridos pela mais pura ironia do poeta pantaneiro Manoel de Barros, em Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo: 
"Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios".




quarta-feira, 1 de maio de 2019

Ataques a indígenas são crimes contra a humanidade


Jovens da aldeia Jaguapiru, de Dourados, na Praça Independência, Corumbá
Nelson Urt
Navepress

Entre os anos 2000 e 2016, foram registrados 24 ataques contra indígenas Guarani-Kaiowá na região sul de Mato Grosso do Sul. Nove indígenas morreram em decorrência direta dos confrontos e dois desapareceram. Todos os casos tratam-se efetivamente de crimes contra a humanidade, enquadrados legalmente pelo Ministério Público Federal (MPF) em MS.

O estudo e o parecer foram solicitados pela força tarefa Avá Guarani do próprio MPF ao Núcleo de Direitos Humanos da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Crimes contra a humanidade são crimes internacionais que os Estados têm o dever de punir.

Entre as características que permitem afirmar que os ataques armados se qualificam juridicamente como crimes contra a humanidade, destacam-se:

1 - A motivação. Todos visam à expulsão forçada dos índios das fazendas que incidem sobre terras reconhecidas como indígenas e “retomadas” pelas comunidades afetadas.

2 - A autoria. Os autores intelectuais e, às vezes, diretos dos crimes são os donos das fazendas ocupadas e seus vigilantes com participação, muitas vezes, de políticos locais.

3 - O elemento discriminatório. Os autores enxergam suas vítimas – “índios” - como seres humanos inferiores e não merecedores de respeito.

O envolvimento de sindicatos rurais ou cooperativas nestes incidentes é bastante frequente, o que demonstra que os ataques são parte da política de um grupo de pessoas unidas por um mesmo propósito.

O parecer destaca que os ataques são ultrajantes e humilhantes, acontecem de surpresa, contra população desarmada, crianças e idosos que têm que sair correndo pelos campos e matos para se esconder dos tiros.

Os indígenas muitas vezes são espancados, carregados à força em carrocerias de caminhões.

O MPF em Dourados, Naviraí e Ponta Porã realizou investigação criminal em todos os casos analisados neste estudo e, até agora, ofereceu denúncia criminal em 11 deles.

Em alguns casos, a Justiça Federal decretou prisão preventiva ou temporária dos acusados. Mas até hoje nenhum acusado cumpriu pena.

Apenas uma sentença foi prolatada em primeiro grau, absolvendo o acusado, da qual o MPF recorreu ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Os demais processos aguardam decisão. (Fonte: MPF/MS)