Onça-pintada será tema de um dos livros de Araquém Alcântara |
Engana-se quem imagina que Araquém Alcântara não tem medo de
onça-pintada. O maior fotógrafo de natureza do País, de 64 anos, confessa que
sempre fica trêmulo quando vê o felino, mesmo mantendo uma certa distância. A potente lente de sua câmera digital de 800 milimetros faz com que a fera fique
bem próxima, parece estar a poucos metros do fotógrafo, e aí vem o medo. Foi o
que sentiu em dezembro de 2015, quando esteve no Pantanal da Serra do Amolar
capturando imagens para seu novo livro.
“Foi uma conspiração do destino, se tivesse saído na hora certa teria
perdido ela”, diz. “Era para eu sair às cinco da manhã, mas o carro quebrou e
só consegui sair às oito e meia, e dali a quinhentos metros da porteira lá
estava ela, no capão, eu não tinha visto ela mas ela tinha me visto, estava me
espreitando enquanto eu, distraído, fotografava uma arapuã (ave pantaneira
cantante parecida a uma galinha de angola)”.
Araquém estava no chão, afastado do carro, e foi avisado pelo seu amigo
e assistente Leonello Concha, engenheiro e fotógrafo paulista. “Ela estava
parada, com água até a canela, olhando pra mim. E eu olhando pro lado. Com medo
total. E os caras lá em cima conversando. Eu estava no chão”. Passado o susto,
Araquém disparou a câmera e armazenou as imagens da onça-pintada do capão neste
que chamou de “grande encontro” no segundo dia de viagem, em dezembro passado.
A imagem ilustra esta reportagem e vai estar no próximo livro, Pantanal do
Amolar, patrocinado pelo Instituto Homem Pantaneiro (IHP), gestor da Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar. O livro fica pronto dentro de três anos. “A presença de uma figura enigmática
como Araquém projeta para todo o País a riqueza do Pantanal do Amolar, e nos
ajuda no importante trabalho de preservação", destaca o presidente do IHP,
Angelo Rabelo.
De volta a Corumbá para coordenar um workshop para profissionais e
amantes da fotografia, de 20 a 27 de maio no Pantanal da Serra do Amolar,
Araquém passou pela sede do IHP nesta segunda-feira, 9 de maio de 2016. Ele
ainda sofre muito com o calor de Corumbá, e está sempre em mãos com uma
toalhinha para enxugar as gotas de suor que pingam como cachoeira pela testa. Sabe,
porém, que o calor e os mosquitos do Pantanal são um preço irrisório diante do
espetáculo de vida proporcionado pela natureza. “Além da Serra do Amolar, um
mundo macro do Pantanal, vou percorrer outros pantanais (ao todo, são onze),
passando pela Nheolândia, o Paiaguás. São fisionomias geográficas diferentes. O
Pantanal da Nhecolândia, visto de cima, é um negócio de doido”, exulta o
fotógrafo. “São lagoas redondas, finas, com cores diferentes, às vezes tem
areia e capões, parecem olhos d’água”.
Araquém e seu livro no Porto Geral de Corumbá |
Em busca da Sussuarana, a onça
vermelha, no Paiaguás
O Pantanal do Paiaguás, conta Araquém, é a terra da sussuarana, que
possui o pelo com tonalidade marrom avermelhada. “É a felis concolor, conhecida
como a onça vermelha, é um bicho lindo, parece um leão”, conta Araquém,
revelando conhecimento sobre os nomes científicos das feras que ilustram as
páginas de seus livros. Ele também persegue a onça preta, outro animal cada vez
mais raro de se encontrar na planície pantaneira. Trata-se da mesma onça
pintada, porém com mais pigmentação de melanina.
Tanto fascínio levou Araquém a produzir um livro dedicado às onças, com
o título provisório de “Jaguaretê” (em língua tupi-guarani, onça verdadeira),
que pretende lançar em 2017. Seu livro mais conhecido é Terra Brasil, editado
em 1998, que já vendeu 120 mil exemplares, recorde no País entre as publicações
voltadas à natureza.
Gansos selvagens retratados pelas lentes de Araquém Alcântara |
Passo a passo para quem quer
aprender segredos do mestre
O workshop na Serra do Amolar será o primeiro, por isso Araquém prevê dificuldades durante a capacitação do grupo de fotógrafos, que vão
aprender desde as melhores técnicas, até a maneira de se posicionar na
mata, equacionar distância, enquanto espera-se a passagem dos bichos. É o passo
a passo para quem pretende, por exemplo, fotografar uma onça-pintada tão bem
quanto Araquém. Não custa tentar. Ela pode demorar a aparecer. E quando aparece é preciso controlar a emoção e o medo, para o dedo não tremer.
Para este workshop havia apenas oito vagas, ao preço de R$ 9.800 para
fotógrafos de outros Estados e R$ 8.000 para os locais, por uma semana, com
direito a acomodação e alimentação. Os custos são sempre muito altos, devido à
distância, à locomoção e à logistica, com base em uma pousada no coração do Amolar. “Trata-se de uma imersão na fotografia no Pantanal, um privilégio,
uma semana que vale por meses”, acentua Araquém. E para breve ele pretende
coordenar em Corumbá uma oficina de dois dias com preços mais acessíveis a
iniciantes e profissionais. Afinal, quem ama a fotografia de natureza sonha um dia fotografar ao menos uma inofensiva arapuã.
Serviço: Workshop de Fotografia Araquém
Alcântara no Pantanal do Amolar. De 20 a 27 de maio. Inscrições: Terra Brasil
Editora, telefone 11-3044-1013, e-mail: araquem1@terra.com.br
Leia mais sobre Araquém Alcântara na reportagem "Olhar amoroso sobre a natureza" no canal Reportagens deste blog: http://nelsonurt.blogspot.com.br/p/reportagens.html
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