Os venezuelanos Richardi e Jesus tocaram na Praça da República |
Nelson Urt
Do
que gostei na feira? – perguntam-me no grupo do Circuito Imigrante, organizador da Feira do Imigrante em Corumbá, em parceria com a UFMS, MPF, Pastoral da Mobilidade Humana e Fundação de Cultura e Patrimônio Histórico. Ah, gostei
de um monte de coisas. Cheguei antes das 8h, ainda havia sombras
escondendo nosso astro rei neste começo de primavera, 28 de setembro.
Gostei da
salteña do Arturito que foi meu café da manhã. Entre mordidas na salteña via as meninas de esticarem numa sessão de yoga dirigida pela professora Claudia Natacha.
O grafiteiro e desenhista Helker Hernany, de chapéu de palha, chegou em seguida para dar sua oficina de stencil debaixo da copa de uma árvore.
Helker ensinou desenho stencil às crianças |
Gostei do vory vory paraguaio,
que foi o meu almoço. Vory vory é um cozido de frango e bolinas de queijo preparado por dona Anuncia Ayala, presidente do Asilo São José.
Gostei da poesia do Acelino Chumbo Grosso, meu poeta preferido.
Comprei o livro Um Texto Meu, da Bruna Souza Arruda, ela já usa aquela
maquininha que facilita o troco. Troquei com a escritora algumas palavras. Ela prepara
o oitavo livro, essa menina vai longe. Ao lado da Bruna estava a poeta e
ativista argentina Vivi Mendez, que expos seus livros na escadaria do monumento
aos heróis da guerra do Paraguai.
Gostei da dança paraguaia do Anjos Dourados,
grupo da minha terra Ladário. Gostei do play list da Caroline Leandro, que me
atendeu e tocou até Mercedes Sosa, a rainha da música latino americana.
Gostei da
poesia do Anibal Monzon e do Virgilio Miranda, integrantes do grupo Argos de
teatro. Gostei de ver o Varal de Cartões do Eneo da Nóbrega – cartões e capas
de livros desenhados com a boca ou os pés por uma comunidade de paraplégicos paulistas.
Grupo Anjos Dourados levou dança paraguaia à praça |
Gostei do Varal de Poesias do mestre Benedito C.G. Lima, que dividiu
seu tempo e energia entre a feira e o projeto de todos os sábados na Praça da
Independência, Passa na Praça que a Arte te Abraça.
Gostei da declamação de
Vitória Toledo, poetisa estreante. Gostei de ouvir violino e trompete dos
venezuelanos Jesus Zacarias e Richardi Urbano. Gostei dos geladinhos da Andri
Rodrigues e seu atraente carrinho cor-de-rosa.
Gostei da locução vibrante de Arturo
Ardaya na apresentação dos convidados. Gostei da presença solar da estilista Ju
Gamboa. Gostei de rever o professor de educação física Carlo Golin. E de rever o boliviano Guzman
ao lado de filhas e netos – ele um imigrante pendular, com serviços de turismo em
Corumbá e Puerto Quijarro.
Professora Natacha deu aula experimental de yoga |
Enfim, gostei do novo espaço, a histórica e charmosa
Praça da República, de onde se avista os prédios centenários da Igreja Candelária e
do Instituto Luiz Albuquerque, e do lado norte vemos a ladeira que desemboca nas
barrancas do rio Paraguai. Isso só Corumbá tem. Cenário ideal para as próximas feiras.
Feira do
Imigrante que se consolida nos corações e mentes de todos aqueles que veem nela
um novo caminho para encontros e reencontros, divertimento, reflexões, discussões e maior entendimento sobre o que de fato é a fronteira e as relações fraternas e democráticas
entre os povos da América do Sul.