segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Dois homens e uma onça-pintada no Jacadigo
O calor é abafado, o vento fraco traz as foligens das queimadas no Pantanal, a fumaça invade a paisagem aqui e do outro lado do rio Paraguai. Mal acabo de saborear um cozido no restaurante Panela Velha quando me ligam avisando que uma onça-pintada voltou atacar e fez nova vítima, desta vez na região do Jacadigo. Corro para o Hospital de Caridade e peço permissão para ir até o quarto de Gelson dos Santos, peão de 36 anos. O rosto está todo costurado. Levou pontos também nos braços e nas pernas, mais de 30. Enquanto muitos passeavam, liam ou se resfolegavam nas poltronas na quente tarde de domingo, 28 de setembro, ele se atracava com uma onça-pintada na fazenda Moenda. Eram duas e meia da tarde. "Sorte que estava com um amigo, o Mariano, que gritou, bateu, até ela se assustar e ir embora. Nao fosse ele, estaria morto essa hora", conta, no leito do hospital. Nem se lembra aonde foi parar o facão que levava na mão, enquanto preparava uma cerca no meio do mato. O Ibama proíbe a matança indiscriminada de onças. Mas o governo permite o uso de armas de fogo, desde que registradas na Polícia Federal. "É errado entrar no mato sem ao menos uma espingarda, porque a onça pode aparecer a qualquer momento, e ela pega a traição, quando você está distraído", conta. Resistente, ainda caminhou dois quilômetros para pegar uma caminhonete, que o levou ao hospital. Gelson, valente pantaneiro, não foi salvo por vira-latas, como Gregório. Nem por uma espingarda, nem por um facão. Ele deve a vida a Mariano. E a família, que o visitou no hospital, deu graças a Deus.
sábado, 27 de setembro de 2008
Dois Homens e Um Destino
Parece que as coisas se acalmaram. Aqui de Corumbá, a seis quilômetros da linha da fronteira, o tempo permanece quente, a fumaça das queimadas é sufocante, mas do outro lado eles abriram trégua para o diálogo. Reina uma aparente calma em Arroyo Concepcion - até quando, ninguém sabe. Os separatistas acusam Evo Morales de governar a Bolívia como "um macaco manipulado por Hugo Chavez". Dois homens e um destino. Santa Cruz quer Lula como intermediário entre os dois. Mas não é exatamente sobre a crise na Bolívia que quero escrever neste sábado quente, porque acabo de ler a notícia sobre a morte de Paul Newman. Em 1969, ele e Robert Redford protagonizaram um dos maiores sucessos mundiais de bilheteria com Dois Homens e Um Destino - ou, como queiram, a história de Butch Cassidy e Sandance Kid. Perseguidos nos Estados Unidos, fugiram para a Bolívia, levando consigo a namorada (dos dois) - ela a admirável atriz Katherine Ross. Faroeste, comédia, drama, tudo se mistura. E nem conto o final porque vale a pena revirar a locadora e ver este épico de Hollywood, ganhador de cinco Oscar.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
O homem que escapou da onça-pintada
Não era uma onça qualquer. Era uma onça-pintada. Mas ele escapou. Mesmo desarmado. Foi salvo por meia dúzia de vira-latas, cães fiéis que mantém na sua fazenda na região do Paiaguás, ali perto do adormecido rio Taquari. Ligo do celular e Gregório me conta que está de volta da Capital, onde foi tentar reparar os estragos que as garras da onça fizeram na sua cara. Mais precisamente no olho. No olho esquerdo. A vista não abre mais. Não adianta operar, avisaram os médicos:
- Acho que vou ficar pra sempre assim, meio deformado, com o olho fechado - conta Gregório, resignado, do outro lado da linha, já em sua casa na avenida General Rondón, em Corumbá. Gregório Costa Soares perdeu o olho esquerdo, mas salvou a vida e a honra dos pantaneiros. Virou lenda, aos 66 anos. O homem que escapou da onça-pintada. Sem arma. Mas com a alma que Deus lhe deu.
- Acho que vou ficar pra sempre assim, meio deformado, com o olho fechado - conta Gregório, resignado, do outro lado da linha, já em sua casa na avenida General Rondón, em Corumbá. Gregório Costa Soares perdeu o olho esquerdo, mas salvou a vida e a honra dos pantaneiros. Virou lenda, aos 66 anos. O homem que escapou da onça-pintada. Sem arma. Mas com a alma que Deus lhe deu.
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