terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Jorge Aragão e o dom de Deus
Algumas cidades nascem com o dom da hospitalidade, e Ladário é uma delas. Mais de 20 mil pessoas, sem exagero, passaram pela cidade na noite de 4 de fevereiro para assistir ao show do sambista carioca Jorge Aragão (no palco, nesta foto de Leonardo Cabral). Um mar de gente invadiu a avenida 14 de Março e o centro da cidade se transformou em um grande estacionamento – com a diferença de que não havia flanelinhas nem cobrança de taxa. O show a céu aberto, em noite de luar e calor moderado, abriu com todas as honras o Carnaval ladarense, e entrou para a história como o recorde de público em eventos gratuitos promovidos por uma administração – por isso no camarote o sorriso do prefeito José Antonio abria-se de orelha e orelha, e o sempre comedido executivo arriscou passos de samba quando Jorge Aragão cantou com toda a galera o imortal “Vou Festejar”, que tanto sucesso fez na voz de Beth Carvalho. Fim de show, precisamente às 2h53 da madrugada, e o turbilhão de pessoas se desfez, de volta ao lar, para um sono reparador. Nem todos, é claro. Para mim, particularmente, por dever de ofício, era apenas o começo da segunda jornada. Fui para a mesa do meu computador e ali fiquei até o dia clarear, lá pelas 6h15, escrevendo a história do megashow, baixando e editando as fotos que instantaneamente os internautas puderam ver em todos os sites da cidade. Só depois cai na cama e deixei o sono chegar mansamente, ainda com o ressoar do balanço, da poesia e de uma confidência que Jorge Aragão nos fez no camarim: quando seu coração enfraqueceu e ele precisou passar por uma cirurgia de safena, pensou que era o fim de sua história. Não foi. “Deus prolongou meu caminho e me reservou esses momentos com vocês. Só mesmo Deus para fazer com que tanta gente dê atenção a um velhinho de 62 anos cantando samba. Esta é minha segunda vida, por isso eu vivo cada segundo como se fosse o último”.
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