No dia consagrado a São Pedro, mais um santo se juntou à festa da
comunidade em Corumbá: São Benedito. A imagem sempre acompanha o grupo de
cururueiros e tocadores de viola de cocho de Cuiabá, que o veneram como
protetor. Antes de qualquer apresentação é indispensável que um deles dê uma
volta completa na pista com a imagem de São Benedito, filho de escravos
africanos, nascido na Itália, um dos santos mais queridos do Brasil. Os cururueiros mato-grossenses apresentaram em Corumbá
a arte da dança do siriri ao som da viola de cocho, instrumento típico dos
pantaneiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Com o talento natural desses
ilustres convidados, que herdaram os traços culturais dos seus ancestrais, Corumbá
sediou pelo segundo ano consecutivo o Festival da Viola de Cocho, trazendo da
antiga capital o Grupo Folclórico Raízes Cuiabanas, além de gente de Poconé,
Cáceres, Livramento e Nova Mutum. Enfim, o que a ditadura militar rachou ao
meio em 1977, ao dividir Mato Grosso, vai aos poucos sendo reintegrado por meio
do laço cultural que sempre uniu os dois Estados pantaneiros, e apenas havia
sido sufocado. De sua parte, Corumbá recriou os grupos de cururu, siriri e
viola de cocho, valorizou mestres como Agripino Soares e Sebastião Brandão, e aos
poucos reconstrói nacionalmente sua imagem como território onde se respira e
vive a cultura pantaneira, e há lugar e alegria para todos os santos. Como
cantava a devota Ivone Torres, que há mais de 50 anos percorre as ruas da
cidade com a Bandeira de São Pedro coletando donativos para a festa: “Quando
São Pedro chegar, eu quero estar no meu lugar/com meus amigos/com a minha
gente/com quem da vida já descansou/a semear e espalhar sementes/na terra onde
Deus abençoou”. São Pedro, por sua vez, é a esperança dos pescadores numa terra
em que os recursos pesqueiros são cada dia mais raros. Inclusive, políticos inescrupulosos
criaram um anteprojeto de lei prevendo moratória de cinco anos para a pesca no
Pantanal. Querem preservar o pescado e ao mesmo tempo extinguir os pescadores. Se
proibirem a pesca, o pescador Paulo da Conceição jura que vai colocar seu barco
no alto da ponte do rio Paraguai e interromper o tráfego na BR-262 até que a presidente
Dilma apareça com seu helicóptero para dar uma satisfação. E olhem que palavra de pescador sempre
tem as bênçãos de São Pedro.
http://www.oestadoms-flip-page.com.br/flip/30-06-2014/22.pdf
Ladário, fundada há 235 anos, bate mais um
recorde na sua história. É na Pérola do Pantanal, como é conhecida a cidade
banhada pelo rio Paraguai, a 420 km da Capital, que fica o Centro Espírita mais
antigo de Mato Grosso do Sul. O Centro Espírita Vicente de Paulo completou
neste 26 de junho 100 anos de fundação. A marca merece agora um registro no
livro do pesquisador Washington Fernandes, a “História Viva do Espiritismo”,
que lista os centros espíritas centenários do Brasil. Um marco da sociedade que busca um mundo melhor para todos. A presidente do centro é a dedicada Maria Iris Bispo Opimi. Para celebrar a data o centro ofereceu uma brilhante palestra da presidente da Federação dos Centros Espíritas de Mato Grosso
do Sul, Maria Túlia Bertoni, que destacou os 150 anos do livro kardecista O Evangelho segundo o Espiritismo, em sua sede na avenida 14 de Março. Fundado em 1914
por Abdo Urt, o
centro tem como finalidade estudar e praticar o espiritismo como religião,
filosofia e ciência, baseando-se nos ensinamentos da doutrina espírita,
codificada por Allan Kardec. Além de promover sessões espíritas e culturais,
pratica e difunde o Evangelho de Jesus Cristo, tratando a filantropia como
princípio e dever da moral cristã. Além de Abdo, o primeiro grupo espírita de
Ladário era integrado por João Anastácio
Rodrigues (o primeiro presidente), Conrado Correa Ribeiro, Manoel Baptista, João Lemos de Barcelos,
Carlos Correa da Costa, Conceição Ribeiro, Anna Luzia da Conceição e Francisco
Nunes da Cruz. As primeiras reuniões foram em uma casa de madeira, cedida por uma voluntária. O prédio do Centro Espírita Vicente de Paulo seria inaugurado em 26 de
agosto de 1925 na hoje avenida 14 de Março, 685, centro de Ladário. O
fundador, Abdo Urt, era natural de Jerusalém, na Palestina, e tinha 23 anos ao
chegar a Ladário em 1913 ao lado dos irmãos Jamil, Isaac e Isaías. Os irmãos
Jamil e Isaac se casaram com duas irmãs, Maria a Margarida Assad, unindo as
duas famílias de origem palestina e síria-libanesa. Em Corumbá, Abdo instalou
uma olaria, denominada Água Branca, onde produzia telhas e tijolos. Dedicou sua
vida à consolidação e expansão da doutrina espírita na região, apesar de todos
os obstáculos e contraposições criados na época. Abdo era tio da saudosa Helô
Urt, que foi diretora presidente da Fundação de Cultura de Corumbá. Era um
grande admirador de São Vicente de Paulo, considerado “o pai dos pobres”, e deu o nome do santo ao Centro Espírita ladarense. São Vicente de
Paulo nasceu em 1581 no sul da França, foi ordenado sacerdote aos 19 anos,
declarado pela Igreja Católica como “o patrono das obras de caridade” e
canonizado em 1737.