domingo, 29 de junho de 2014

Sob as bênçãos de São Pedro

No dia consagrado a São Pedro, mais um santo se juntou à festa da comunidade em Corumbá: São Benedito. A imagem sempre acompanha o grupo de cururueiros e tocadores de viola de cocho de Cuiabá, que o veneram como protetor. Antes de qualquer apresentação é indispensável que um deles dê uma volta completa na pista com a imagem de São Benedito, filho de escravos africanos, nascido na Itália, um dos santos mais queridos do Brasil. Os cururueiros mato-grossenses apresentaram em Corumbá a arte da dança do siriri ao som da viola de cocho, instrumento típico dos pantaneiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Com o talento natural desses ilustres convidados, que herdaram os traços culturais dos seus ancestrais, Corumbá sediou pelo segundo ano consecutivo o Festival da Viola de Cocho, trazendo da antiga capital o Grupo Folclórico Raízes Cuiabanas, além de gente de Poconé, Cáceres, Livramento e Nova Mutum. Enfim, o que a ditadura militar rachou ao meio em 1977, ao dividir Mato Grosso, vai aos poucos sendo reintegrado por meio do laço cultural que sempre uniu os dois Estados pantaneiros, e apenas havia sido sufocado. De sua parte, Corumbá recriou os grupos de cururu, siriri e viola de cocho, valorizou mestres como Agripino Soares e Sebastião Brandão, e aos poucos reconstrói nacionalmente sua imagem como território onde se respira e vive a cultura pantaneira, e há lugar e alegria para todos os santos. Como cantava a devota Ivone Torres, que há mais de 50 anos percorre as ruas da cidade com a Bandeira de São Pedro coletando donativos para a festa: “Quando São Pedro chegar, eu quero estar no meu lugar/com meus amigos/com a minha gente/com quem da vida já descansou/a semear e espalhar sementes/na terra onde Deus abençoou”. São Pedro, por sua vez, é a esperança dos pescadores numa terra em que os recursos pesqueiros são cada dia mais raros. Inclusive, políticos inescrupulosos criaram um anteprojeto de lei prevendo moratória de cinco anos para a pesca no Pantanal. Querem preservar o pescado e ao mesmo tempo extinguir os pescadores. Se proibirem a pesca, o pescador Paulo da Conceição jura que vai colocar seu barco no alto da ponte do rio Paraguai e interromper o tráfego na BR-262 até que a presidente Dilma apareça com seu helicóptero para dar uma satisfação. E olhem que palavra de pescador sempre tem as bênçãos de São Pedro. 
http://www.oestadoms-flip-page.com.br/flip/30-06-2014/22.pdf


     







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