Nelson
Urt
Campanhas
de preservação do meio ambiente chegam a perder o sentido diante de tantas tragédias
anunciadas e o mar de lama que cobre o Brasil. É até constrangedor hoje em dia pedir
a uma criança que plante uma árvore quando
recente relatório divulgado pelo Greenpeace mostra que de agosto de 2017
a julho de 2018 o País perdeu 1 bilhão de árvores na Amazônia, onde o
desmatamento continua avançando vorazmente, no ritmo desenfreado da economia de
mercado.
Hoje
quem lida honestamente com a preservação dos bens naturais corre risco de ser
comparado a personagens de filmes de ficção futurista como o recém lançado IO,
exibido pela Netflix. O filme narra a persistência e a coragem de uma solitária
e jovem cientista, Sam, em salvar um planeta moribundo, distópico, dado como causa
perdida pela civilização que já se mandou daqui para viver em colônias
espaciais. O último que ficar apaga a luz. E Sam decide ficar, por ser uma
menina perdidamente apaixonada pelo planeta terra.
Sim,
ainda temos muitas Sam e pessoas sãs por aqui. Embora um bando de perversos empresários
e políticos insistam em manter a alta lucratividade mesmo que para isso tenham
de sacrificar a natureza, no outro extremo dessa cadeia ambiental há brasileiros
que sentem diretamente na pele os efeitos da devastação e gritam por socorro. Chico
Mendes foi um deles. Mas há quem ignore Chico Mendes.
Em
Corumbá e Ladário, representantes das comunidades que vivem no entorno das minas
que são exploradas pelas mineradoras e, portanto, das barragens com rejeitos,
em Maria Coelho, Urucum, Mato Grande e Albuquerque, protocolaram neste dia 12
de fevereiro no Ministério Público Federal (MPF) e Ministério Público Estadual (MPE)
pedido de Audiência Pública para esclarecimento de segurança e riscos de
acidentes ambientais.
Ou
seja, querem saber até que ponto eles, produtores rurais, pescadores, donos de
balneários e pousadas, moradores que vivem e transitam no entorno dessas
barragens podem ter certeza se não serão as próximas vítimas de tragédias como
as de Mariana e Brumadinho. Lá
como aqui, há pelo menos uma barragem categorizada como de alto risco. E em
todas elas existe risco, pela própria estrutura em que são montadas.
Outras
audiências públicas foram anteriormente realizadas para que Vale e Vetorial,
as mineradoras que exploram as minas de Corumbá e Ladário, em pleno Pantanal, e
nas proximidades de cidades que somam uma população de 130 mil pessoas, pudessem
esclarecer dúvidas sobre impactos ambientais provocados pela mineração nas
morrarias e arredores.
E
esses impactos, comprovadamente, não foram poucos desde que as mineradoras se
instalaram na nossa região com a contrapartida de trazerem mais empregos e crescimento
econômico. Nascentes e cachoeiras foram comprometidas, córregos secaram e nunca
mais os moradores do Urucum, Maria Coelho e Mato Grande puderam desfrutar da
mesma quantidade e qualidade da água mineral que em outros tempos, até a década
de 70 do século passado, eram limpas e abundantes.
Valeu
a pena o custo-benefício deste desenvolvimento? Os impactos e riscos compensam
os impostos da exploração mineral pagos às duas cidades? Compensam o número de
empregos criados? Ou é hora de Corumbá e Ladário reverem suas matrizes
econômicas e definitivamente investirem no turismo ecológico como fez Bonito? As
respostas devem ser dadas em mais esta Audiência Pública.
“Violação de direitos humanos”
Organizações
globais de direitos humanos e meio ambiente, incluindo o Greenpeace Brasil,
pediram neste mesmo dia 12 de fevereiro à ONU (Organização das Nações Unidas)
que a Vale seja excluída do Pacto Global, maior rede de responsabilidade social
corporativa do mundo, com mais de 9 mil empresas. Em carta enviada à ONU,
entidades denunciam que no rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego
do Feijão identifica-se “séria violação de direitos humanos” e “graves danos
ambientais” pela mineradora, o que fere os princípios do Pacto Global. De
acordo com as organizações a Vale falhou ao não avaliar adequadamente os riscos
e ao deixar de tomar medidas preventivas e de mitigação. No documento, a Vale
também é apontada como violadora persistente, citando o caso do rompimento da
barragem da Samarco, uma joint venture da Vale e da australiana BHP Billiton,
em Mariana em 2015. Para as entidades, se trata de um “caso sem precedentes de
má conduta corporativa” e o pior acidente trabalhista da história do Brasil.
(Fonte: Greenpeace Brasil)