quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Os riscos da mineração em Corumbá


Nelson Urt
Campanhas de preservação do meio ambiente chegam a perder o sentido diante de tantas tragédias anunciadas e o mar de lama que cobre o Brasil. É até constrangedor hoje em dia pedir a uma criança que plante uma árvore quando  recente relatório divulgado pelo Greenpeace mostra que de agosto de 2017 a julho de 2018 o País perdeu 1 bilhão de árvores na Amazônia, onde o desmatamento continua avançando vorazmente, no ritmo desenfreado da economia de mercado. 
Hoje quem lida honestamente com a preservação dos bens naturais corre risco de ser comparado a personagens de filmes de ficção futurista como o recém lançado IO, exibido pela Netflix. O filme narra a persistência e a coragem de uma solitária e jovem cientista, Sam, em salvar um planeta moribundo, distópico, dado como causa perdida pela civilização que já se mandou daqui para viver em colônias espaciais. O último que ficar apaga a luz. E Sam decide ficar, por ser uma menina perdidamente apaixonada pelo planeta terra. 
Sim, ainda temos muitas Sam e pessoas sãs por aqui. Embora um bando de perversos empresários e políticos insistam em manter a alta lucratividade mesmo que para isso tenham de sacrificar a natureza, no outro extremo dessa cadeia ambiental há brasileiros que sentem diretamente na pele os efeitos da devastação e gritam por socorro. Chico Mendes foi um deles. Mas há quem ignore Chico Mendes. 
Em Corumbá e Ladário, representantes das comunidades que vivem no entorno das minas que são exploradas pelas mineradoras e, portanto, das barragens com rejeitos, em Maria Coelho, Urucum, Mato Grande e Albuquerque, protocolaram neste dia 12 de fevereiro no Ministério Público Federal (MPF) e Ministério Público Estadual (MPE) pedido de Audiência Pública para esclarecimento de segurança e riscos de acidentes ambientais. 
Ou seja, querem saber até que ponto eles, produtores rurais, pescadores, donos de balneários e pousadas, moradores que vivem e transitam no entorno dessas barragens podem ter certeza se não serão as próximas vítimas de tragédias como as de Mariana e Brumadinho. Lá como aqui, há pelo menos uma barragem categorizada como de alto risco. E em todas elas existe risco, pela própria estrutura em que são montadas. 
Outras audiências públicas foram anteriormente realizadas para que Vale e Vetorial, as mineradoras que exploram as minas de Corumbá e Ladário, em pleno Pantanal, e nas proximidades de cidades que somam uma população de 130 mil pessoas, pudessem esclarecer dúvidas sobre impactos ambientais provocados pela mineração nas morrarias e arredores. 
E esses impactos, comprovadamente, não foram poucos desde que as mineradoras se instalaram na nossa região com a contrapartida de trazerem mais empregos e crescimento econômico. Nascentes e cachoeiras foram comprometidas, córregos secaram e nunca mais os moradores do Urucum, Maria Coelho e Mato Grande puderam desfrutar da mesma quantidade e qualidade da água mineral que em outros tempos, até a década de 70 do século passado, eram limpas e abundantes. 
Valeu a pena o custo-benefício deste desenvolvimento? Os impactos e riscos compensam os impostos da exploração mineral pagos às duas cidades? Compensam o número de empregos criados? Ou é hora de Corumbá e Ladário reverem suas matrizes econômicas e definitivamente investirem no turismo ecológico como fez Bonito? As respostas devem ser dadas em mais esta Audiência Pública. 

“Violação de direitos humanos”

Organizações globais de direitos humanos e meio ambiente, incluindo o Greenpeace Brasil, pediram neste mesmo dia 12 de fevereiro à ONU (Organização das Nações Unidas) que a Vale seja excluída do Pacto Global, maior rede de responsabilidade social corporativa do mundo, com mais de 9 mil empresas. Em carta enviada à ONU, entidades denunciam que no rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego do Feijão identifica-se “séria violação de direitos humanos” e “graves danos ambientais” pela mineradora, o que fere os princípios do Pacto Global. De acordo com as organizações a Vale falhou ao não avaliar adequadamente os riscos e ao deixar de tomar medidas preventivas e de mitigação. No documento, a Vale também é apontada como violadora persistente, citando o caso do rompimento da barragem da Samarco, uma joint venture da Vale e da australiana BHP Billiton, em Mariana em 2015. Para as entidades, se trata de um “caso sem precedentes de má conduta corporativa” e o pior acidente trabalhista da história do Brasil. (Fonte: Greenpeace Brasil)


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