O equilíbrio do Pantanal também corre riscos diante da economia de mercado |
Nelson Urt
Navepress
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Esta é uma imagem que captei na
BR-262 no momento em que regressava pelo Pantanal do Mato Grosso do Sul, no
caminho que liga a capital Campo Grande à minha cidade natal, Ladário, à beira do rio Paraguai, na linha de fronteira com a Bolívia. O fato é que há uma tênue linha invisível separando o
que se vê e o que se sente neste pôr do sol e o que a sociedade de consumo nos
impõe externamente. Mesmo o Pantanal, com sua beleza que
parece infinita, corre tantos riscos quanto a Amazônia de perder seu equilíbrio
e sua harmonia, e os que dependem dele para sobreviver também são passíveis de ameaças - há mineradoras trabalhando por perto.
Nesse sentido, a economia de mercado,
com todos os seus tentáculos, visando o acúmulo de capital e o lucro a qualquer
preço, tornou-se uma máquina muito cruel contra os homens e a natureza. E o preço maior
está sendo pago pelas camadas mais pobres da população. Negros, jovens e pobres, mais precisamente.
Vejam os números do Atlas da
Violência 2019, divulgados neste começo de agosto pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Números oficiais, científicos, nada de achismo, propaganda ou
especulação política.
O Brasil atingiu pela primeira vez em
sua história o índice de 31,6 homicídios por 100 mil habitantes, correspondente
aos 65.602 homicídios registrados em 2017. São 179 mortes por dia. O correspondente a uma guerra a cada ano.
E, mais uma vez, a pesquisa comprova
que o homem jovem, negro, com até sete anos de estudo, compõe o perfil das
pessoas mais sujeitas a esse tipo de morte violenta intencional. A taxa de
negros vítimas de violência cresceu 33% entre 2007 e 2017, em dez anos. Em
2017, eram pretas ou pardas 75,5% das pessoas vítimas de homicídio.
Quase 5 mil mulheres mortas violentamente no ano
O Ipea leva em conta um fator crucial
para tanta disparidade: há um abismo de desenvolvimento humano entre os
municípios mais violentos e os mais pacíficos do Brasil. E o que fazer para
encurtar essa diferença? Esta é a questão que muitos preferem responder e combater de modo
simplista, elegendo o tráfico e o consumo de drogas como maiores vilões da
sociedade. Dentro desse raciocínio, basta aumentar as forças militares, aumentar o número de presídios e
colocar mais polícia na rua para buscar a solução. Mas houve solução?
Muitos outros, como nós, defendem
outro ponto de vista e dentro de uma nova postura. Uma educação de qualidade para todos, o acesso
de todas as classes sociais às moradias
e aos bens de consumo e culturais, a preservação do meio ambiente, o culto às
tradições históricas e patrimoniais e o respeito aos direitos civis no Brasil – são princípios chaves que precisamos cultivar para reverter esses números constrangedores que
colocam nosso País como um dos mais violentos do planeta.
Campo Grande, a segunda capital mais
segura
Se é que isso possa servir de
conforto para a gente do Mato Grosso do Sul, Campo Grande ocupa hoje o posto de
segunda capital menos violenta do País, com 18,8 homicídios por 100 mil
habitantes, atrás apenas de São Paulo. Entre as cidades com mais de 100 mil
habitantes em MS, Corumbá é a segunda menos violenta, vindo logo atrás da
capital, com 29,6 homicídios por 100 mil, com 30 mortes violentas em 2017,
apesar de se localizar na linha da fronteira. Ladário ficou com taxa estimada
de 20,6, com 4 homicídios em 2017.
Os municípios mais violentos de MS
ocupam a faixa da fronteira com o Paraguai: são eles Paranhos (índice de 91,3),
Antônio João (90,8), Ponta Porã (48) e Itaquiraí (67,8).
Para se ter uma
ideia desse abismo de desenvolvimento humano, entre os dez municípios menos violentos do País, todos do interior de
São Paulo, os índices vão de 2,7 de Jaú até 8,5 de Sertãozinho.
Leia mais sobre o tema nesta reportagem do Universa:
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/08/08/mulheres-com-filhos-mortos-pela-policia-vivem-medo-pelos-que-estao-vivos.htm
Leia mais sobre o tema nesta reportagem do Universa:
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/08/08/mulheres-com-filhos-mortos-pela-policia-vivem-medo-pelos-que-estao-vivos.htm
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