Bismark e o título de doutor honoris causa |
Um maratonista na pista e na
gestão portuária
Aos 53 anos, Bismark Rosales participa
da Maratona de Nova York e, como gestor, põe Canal do Tamengo na rota dos
grandes terminais de exportação pelo Atlântico
Nelson Urt
Ele correu, aos 53 anos, a Maratona de
Nova York de 2019 em 4 horas e 37 minutos em um frio de 4 graus. E agora se
prepara para a mesma prova, que neste ano de pandemia será disputada em
novo formato em novembro: cada atleta correrá em sua própria cidade,
monitorado por um aplicativo acionado a um relógio de
pulso que medirá a localização
e vai cronometrar o tempo, da saída à chegada, sob controle remoto dos
organizadores em Nova York.
Em Nova York, desafio na maratona |
Não se trata de um desafio para qualquer um. São 42
quilômetros
de corrida por cinco diferentes bairros de Nova York, normalmente disputada sob
temperatura baixíssima no
inverno dos Estados Unidos. Para se ter uma ideia, o brasileiro mais bem
colocado na prova do ano passado foi Fredison Costa, um dos 29 maratonistas a
cobrir o percurso em menos de 3 horas.
Ficou em 28º lugar.
Bismark foi um dos 50 mil competidores de 125 países na prova.
Para um desempenho seguro, o boliviano
Bismark Rosales treina diariamente, em Corumbá, onde é residente permanente e mora com
a família. Sai
para correr às 4h da manhã do Centro ao Lampião Aceso, posto
rodoviário da BR-262, ou na esteira rolante na própria
casa. “Com
minha idade, tenho de tomar uma série de
precauções porque a maratona exige um esforço sobre-humano e um preparo físico impecável para não
afetar o coração”, diz
Bismark. “Até para os
atletas de ponta não se permite disputar mais do que duas maratonas por ano”, acrescenta.
Nas ruas de Nova York: suor e frio |
ADMINISTRADOR Nº 1
Não só no
esporte, mas também nos negócios, os
resultados revelam que a vida de Bismark é uma maratona bem
sucedida. É que por trás do atleta amador que desafia o peso da idade
existe um profissional de enorme capacidade de persistência e
superação. Ele acaba de receber da Organização Mundial dos Defensores de Direitos
Humanos OMDDH - Pacto ONU-Nações Unidas, o título de Doutor Honoris Causa pelos serviços prestados no
desenvolvimento portuário da
Bolívia, país que desde a
perda da saída para
o mar no conflito com o Chile vive um impasse para escoar produtos de
exportação pelo Pacífico.
A ideia de Bismark de oferecer o porto
do Canal do Tamengo como saída pelo Atlântico para escoar a produção do país vizinho acabou
sendo aceita e se tornou realidade. Bismark
estudou na Escola de Pós-graduação da Armada Boliviana, é diplomado em Interesses
Marítimos, Fluviais e Lacustres, entre outros cursos da área. A parte mais difícil ele
conseguiu com apoio da UNCTAD, braço do comércio e desenvolvimento da
Organização das Nações Unidas (ONU), com que sempre teve ótimas
relações. Como parte do programa como instrutor de Gestão Moderna de Portos, o objetivo
dele era provar que esse serviço poderia ser feito por um porto privado, no caso o Complexo Portuário Jennefer, da qual é gestor,
em Puerto Quijarro, fronteira com Corumbá.
Como Mestre em Gestão e planificação portuária e intermodalidade pelo Portos do Estado da Espanha, com selo de Universidades de Coruña, de
Cadiz, de Oviedo e Politécnica de Madrid, o
desafio de Bismark foi montar uma estratégia para
desenvolver na Bolivia a capacidade de escoar sua produção pelo porto do Canal
do Tamengo. O primeiro passo foi convencer as autoridades bolivianas a quebrar
a antiga regra de que só o Estado podia realizar comercio exterior via portos.
“A normativa da Bolívia não permitia que portos privados realizassem comércio exterior, exceto indústrias com
próprios portos para exclusivamente escoar sua própria produção”, conta
Bismark. “Ocorre
que em 80% dos países o
comércio internacional é por via marítimo fluvial.
Somos um país
mediterrâneo e por isso a Bolivia não é competitiva
no mercado internacional. Sempre faltou uma logística apropriada. E o transporte
terrestre é muito mais caro. Por que então
não investir no Canal do Tamengo e usar a saída para o Atlântico?”
Para receber a resposta positiva e
concessão oficial do governo boliviano, o porto foi
desenhado de acordo a normativas bolivianas
e internacionais. Hoje o Porto Jennefer está incluído no mapa mundial dos negócios de
exportação. O curioso e gratificante, segundo Bismark, é que
boa parte da mão de obra em prestação de
serviços utilizada no porto é brasileira. “São 14 empresas
terceirizadas brasileiras e bolivianas atuando na prestação de serviços. Como
estamos na fronteira, é mais fácil adquirir produtos de Campo
Grande e Corumbá, do que de Santa Cruz”, conta.
CANAL DE LUXO
O terminal hidroviário Jennefer
possui 105 hectares, o equivalente a 100 quadras de uma pequena cidade. “Temos de ser
muito eficientes para competir com dois gigantes como Brasil e Argentina e
conseguir uma fatia no mercado internacional de exportações”, diz. E hoje,
enfim, o Tamengo poderia ser transformado num “canal de luxo”, como diz
Bismark: são apenas 7,5 quilômetros que se convertem na única saída da Bolívia para o mar.
A nova concessão
hidroviária proporciona os primeiros resultados, com o aumento do comercio internacional e a elevação do
PIB boliviano.
Com mestrado em Gestão portuária e
intermodalidade na Espanha, o Doutor H.c. Bismark Rosales Rojas agora parte para o curso
de doutorado na mesma área.
Especializou-se num setor que até o século
passado era restrito aos militares das forças armadas. Motivado por esta
honraria e outras menções de louvor recebidas na Sessão Online no dia 25 de
julho, continua motivado junto a sua família, para seguir seu autodesenvolvimento
e o desenvolvimento social desta região de fronteira.
(Veja no canal Reportagens esta publicação em espanhol e inglês)