Foto: Marcello Casal Júnior/Agência Brasil |
Nelson Urt
"O Brasil alimenta mais de 1 bilhão de pessoas pelo mundo com agricultura de ponta, mecanizada, e com tecnologia incomparável em todo o mundo. O mundo hoje, ouso dizer, depende muito do Brasil para sua sobrevivência",
Palavras
de Bolsonaro durante encontro com Biden na Cúpula das Américas nos Estados
Unidos, reproduzidas pelo portal G1 e Jornal Nacional neste dia 9 de junho.
O
presidente do Brasil estava sendo bastante sincero. De fato, o mundo afora beneficia-se
da política internacional de exportação agropecuária seguida a ferro e fogo pelo sistema do
nosso País. A produção do nosso agronegócio abastece irrestritamente o mercado
lá fora. E que produtividade: a fronteira agrícola se expande cada vez mais em
terras antes consideradas intocáveis da Amazônia e do Pantanal. Plantio de soja
transgênica avança enquanto se derrubam matas virgens. Vastas áreas do Pantanal sendo devastadas a queimadas para aumentar a pastagem para o gado e o plantio de soja.
Enquanto
isso, aqui entre nós, 33 milhões de brasileiros passam fome. Esses números foram
divulgados neste dia 8 de junho pelos principais jornais e sites do País,
inclusive a Agência Brasil, órgão de comunicação governamental.
O
levantamento divulgado é da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança
Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) e indica que 33 milhões de pessoas não têm
o que comer no Brasil. O número de novos brasileiros em situação de fome
aumentou 14 milhões em pouco mais de um ano.
Além
disso, mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com a insegurança
alimentar em algum grau – leve, moderado ou grave – segundo a pesquisa. Ou
seja, quem come hoje mas não sabe se terá o que comer amanhã.
Em
números absolutos, os dados apontam que 125,2 milhões de brasileiros passaram
por algum grau de insegurança alimentar.
Segundo a
pesquisa, o Brasil retornou ao patamar equivalente ao da década de 1990.
Não cabe aqui condenar ou inocentar este ou aquele governo. Fica claro que o sistema capitalista
adotado pelos governantes do Brasil – ora com uma política de bem-estar social, ora imerso no neo-liberalismo,
e em algumas vezes condensando ambos os princípios – vem condenando milhares à
miséria e contemplando uma minoria a viver confortavelmente na fartura.
A fala de
Bolsonaro na Cúpula das Américas é um exemplo claro de que vivemos em dois
Brasis, entre a segurança e a insegurança alimentar, da elite do agronegócio
exportador e do brasileiro que luta pelo prato de comida. A isso podemos chamar de democracia de fachada, legitimada por uma oligarquia que legisla em causa própria.
A partir
desse flagelo, outras anomalias são desencadeadas no País que acumula recordes
negativos em quase todas as áreas: na violência doméstica, nas ruas e no campo,
no racismo estrutural, no sistema de saúde desestruturado, na agressão ao meio ambiente,
na desigualdade social e habitacional, no tratamento às pessoas vulneráveis.
Enquanto
isso, na maior cara de pau, candidatos se aproximam com aquele largo sorriso, te
dão dois tapinhas nas costas e dizem que tudo vai melhorar após as próximas
eleições.
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