Neste livro publicado em 2013, há exatos dez anos, pelo sociólogo corumbaense Lejeune Mirhan, tem se a sensação de que acaba de ser escrito para esses tempos. A história se repete, com todos os seus requintes de perversidades. "E se Gaza cair..." começa descrevendo "o ataque do exército israelense na Faixa de Gaza no final dos anos 2008". E prossegue: "ocupação, cerco, bloqueio, ataque maciço de artilharia, testes de novas armas de fabricação israelense, restrição de água...este é o menu servido no cardápio do cotidiano israelense para a população palestina".
O livro reúne 47 textos dos mais expressivos autores da literatura e imprensa independente e autônoma e lança luz sobre o vergonhoso sistema criado em 1962 e que tem seu apogeu no cerco à Faixa de Gaza, transformada em uma prisão a céu aberto.
Corumbaense descendente de sírios e hoje um dos articulistas da geopolítica internacional mais requisitados do país, Lejeune descreve assim os acontecimentos de 2008: "a guerra desencadeada por 22 dias de forma ininterrupta contra uma área densamente povoada como Gaza não foi contra o Hamas. Isso foi um mero pretexto. Não é uma guerra de Israel contra o Hamas, mas um massacre, uma limpeza étnica contra o povo palestino, dentro de um projeto neocolonial. E isso vem desde muito antes da existência do Hamas e mesmo da OLP (Organização para Libertação da Palestina), surgida em 1964".
O livro esclarece que estamos diante de uma guerra permanente, com o objetivo de extermínio de um povo. Em 2008, conforme relata Lejeune, 53 escolas foram arrasadas, inclusive duas da ONU, onde morreram 40 crianças. E pelo menos dois hospitais foram inteiramente destruídos. Mais de 1500 mortos. Qualquer semelhança com os ataques recentes não é mera coincidência, mesmo porque o bloqueio permanece desde aqueles tempos, com novos e sistemáticos ataques e novas armas, como a munição à base de fósforo branco, que causa graves e prolongadas queimaduras na pele.
Em 2014, conforme lembrou Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, novo bombardeio israelense causou graves danos a 40% das habitações de Gaza, deixando 90% da população sem água adequada. "A população de Gaza vive uma situação análoga a um campo de concentração", constata Ualid Rabah nos dias de hoje. E enquanto Gaza é reduzida a pó, perguntas permanecem sem resposta: quem são os responsáveis por esses crimes de guerra? Quando e por quem serão julgados?
E se Gaza cair...Lejeune Mirhan (org.), coletânea de 47 textos de autores independentes, 278 páginas. Editora Anita Garibaldi, São Paulo, 2012.
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