terça-feira, 11 de março de 2014

Amazônia, catástrofe anunciada

O cenário é desolador. Brasileiros da Amazônia e bolivianos de Beni vivem uma tragédia anunciada. No momento em que planeta clama por sustentabilidade, o modelo de capitalismo tresloucado está fazendo com que o Ibama dê licenças ambientais para a construção de usinas hidrelétricas em regiões onde o impacto contra a natureza e o homem é líquido e certo, como uma sentença de morte. A construção e funcionamento das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Estado de Rondônia, provocou a maior cheia do rio Madeira nos últimos 50 anos, com conseqüências desastrosas para brasileiros e o país vizinho. São mais de 60 cidadãos mortos na Bolívia, que conta 55 mil desabrigados em 111 municípios afetados, e perdeu mais de 100 mil cabeças de gado. O rio Madeira, com 18,85 metros em Porto Velho, ultrapassou o recorde de 17,51 metros registrados em 1997. São mais de 1200 famílias desalojadas só na região de Porto Velho, em Rondônia. Agora é tarde, mas o Ministério Público Federal (MPF) abriu processo civil para a suspensão da operação das duas usinas, em conjunto com MPE, OAB e Defensoria Pública da União e de Rondônia. E pede ao Ibama que casse imediatamente as licenças – tarde demais – até que novos estudos sobre os impactos das barragens sejam feitos.  O MPF cita as empresas Energia Sustentável do Brasil (Usinas Jirau) e a Santo Antônio Energia (Usina Santo Antônio) pelo dano moral coletivo, estimado em R$ 100 milhões, e pede indenização. O dinheiro será revertido para as vítimas das enchentes e reconstrução das casas, de acordo com o processo. Ou seja, o MPF busca agora corrigir mais uma grande trapalhada ambiental proporcionada por um governo que pensa no avanço econômico sem medir os impactos ambientais e humanitários. E desta vez, com reflexos no país vizinho. De acordo com o governo da Bolívia, desde 2006 processos são abertos contra a construção das usinas hidrelétricas na Amazônia, com base em estudos de que, por menor que fosse o represamento nos reservatórios, a vazão do rio Madeira seria afetada no período chuvoso. Com muita propriedade, o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro compara as ambições desenvolvimentistas do atual governo à megalomania da ditadura com seu ideário de "Brasil Grande". O comitê das Nações Unidas pede doações para socorrer os desabrigados. Você já viu algum posto de arrecadação de roupas e alimentos? É lamentável o tratamento superficial e quase indiferente dado à Bolívia pelo Jornal Nacional e outros veículos de comunicação de massa se comparados às catástrofes que ocorrem na Europa e Estados Unidos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário