O cenário é desolador. Brasileiros da Amazônia e
bolivianos de Beni vivem uma tragédia anunciada. No momento em que planeta
clama por sustentabilidade, o modelo de capitalismo tresloucado está fazendo
com que o Ibama dê licenças ambientais para a construção de usinas
hidrelétricas em regiões onde o impacto contra a natureza e o homem é
líquido e certo, como uma sentença de morte. A construção e funcionamento das
usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Estado de Rondônia, provocou
a maior cheia do rio Madeira nos últimos 50 anos, com conseqüências desastrosas
para brasileiros e o país vizinho. São mais de 60 cidadãos mortos na Bolívia,
que conta 55 mil desabrigados em 111 municípios afetados, e perdeu mais de 100
mil cabeças de gado. O rio Madeira, com 18,85 metros em Porto Velho,
ultrapassou o recorde de 17,51 metros registrados em 1997. São mais de 1200
famílias desalojadas só na região de Porto Velho, em Rondônia. Agora é tarde,
mas o Ministério Público Federal (MPF) abriu processo civil para a suspensão da
operação das duas usinas, em conjunto com MPE, OAB e Defensoria Pública da
União e de Rondônia. E pede ao Ibama que casse imediatamente as licenças –
tarde demais – até que novos estudos sobre os impactos das barragens sejam feitos. O MPF cita as empresas Energia
Sustentável do Brasil (Usinas Jirau) e a Santo Antônio Energia (Usina Santo
Antônio) pelo dano moral coletivo, estimado em R$ 100 milhões, e pede
indenização. O dinheiro será revertido para as vítimas das enchentes e reconstrução
das casas, de acordo com o processo. Ou seja, o MPF busca agora corrigir mais
uma grande trapalhada ambiental proporcionada por um governo que pensa no
avanço econômico sem medir os impactos ambientais e humanitários. E desta vez,
com reflexos no país vizinho. De acordo com o governo da Bolívia, desde 2006
processos são abertos contra a construção das usinas hidrelétricas na Amazônia,
com base em estudos de que, por menor que fosse o represamento nos
reservatórios, a vazão do rio Madeira seria afetada no período chuvoso. Com
muita propriedade, o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro compara as ambições
desenvolvimentistas do atual governo à megalomania da ditadura com seu
ideário de "Brasil Grande". O comitê das Nações Unidas pede doações
para socorrer os desabrigados. Você já viu algum posto de arrecadação de roupas
e alimentos? É lamentável o tratamento superficial e quase indiferente dado à Bolívia pelo Jornal Nacional e outros veículos de comunicação de massa se comparados às catástrofes que ocorrem na Europa e Estados
Unidos.
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