quinta-feira, 1 de maio de 2014

Erasmo, o Rei e a Democracia

Erasmo Carlos, 72 anos, aprendeu que a vida se renova a cada gesto. Trocou o uísque pela água mineral, fez as pazes com o parceiro Roberto Carlos, montou uma big banda responsável por novos e modernos arranjos para seus velhos sucessos e está aí na estrada, comemorando 50 anos de trabalho. No show da noite de abertura do Festival América do Sul, nesta quarta, 30 de abril, em Corumbá, o Tremendão ainda homenageou o Rei ao apresentar no palco o cover Robson Carlos, que tal qual Roberto atirou rosas vermelhas para a platéia, tocou as mãos no lado esquerdo do peito e sussurrou “são tantas emoções” ao se despedir. Um show completo, digno do seu nome, “Gigante Gentil”, na medida certa para sacudir um festival que também precisa se renovar e se modernizar, reavivando o diálogo, a discussão sociocultural em torno dos principais temas que afligem nossa sofrida América do Sul, inclusive com a temática indígena. O festival criado na gestão Zeca do PT se distanciou culturalmente no findar da era Puccinelli, e precisa portanto ser recriado, para não cair no esquecimento e se tornar um mero produto capitalista, empresarial e político, como quase tudo hoje em dia no País. Na noite de Erasmo e de Roberto cover, foram justamente os políticos os responsáveis pelo maior mico da festa. E sobrou para o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, que viu seu secretário de Obras, Carlos Marun, responder ao xingamento de um cidadão cambaleante que da platéia chamava todo mundo de incompetente, desfiando sua ira contra o sistema. Ao perceber o descontrole do secretário, Puccinelli o conteve e o empurrou para o fundo do palco – um cala-boca público que envolveu de constrangimento as demais autoridades, entre elas os prefeitos Paulo Duarte e José Antonio Assad. Para piorar, um assessor de Marun ainda desceu do palco e partiu para o confronto diante do cidadão pançudo e que tentava, a seu modo, exercitar o livre direito de democracia – palavra, aliás, muitas vezes repetida pelo governador no discurso de abertura do festival. Enquanto isso o governador seguia seu discurso democrático que ressaltava a integração dos povos sul-americanos, diante de uma plateia diminuta e cinco policiais escoltando um cidadão tropego para fora do recinto público. Não era bem a despedida que o governador queria na décima primeira edição do evento. Ainda bem que o festival, na sua essência, é maior do que qualquer atitude para se fazer silenciar e ordenhar um povo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário