No Moinho Cultural, poetas contam lições de vida para o público |
Nesta mormacenta
manhã de domingo, debaixo de pingos quentes de chuva, aqui nas barrancas do rio Paraguai, na sede do Instituto
Moinho Cultural, em Corumbá, o segundo dia do Quebra-torto com Letras do Festival América do Sul começa
com um toque do hit de Frejat: “Por você, eu dançaria tango no teto/Eu
limparia os trilhos do metrô/Eu iria a pé do Rio a Salvador/Eu
aceitaria a vida como ela é/Viajaria a prazo pro inferno/Eu
tomaria banho gelado no inverno/Por você eu deixaria de beber/Por
você eu ficaria rico num mês/Eu dormiria de meia pra virar burguês”.
Ora, mas aí vocês podem perguntar o que tem a ver Frejat com o Quebra-torto com
Letras. Bem, quem conta a história é o próprio autor do poema, um dos
convidados da mesa redonda, Mauro Santa Cecília, carioca de 54 anos. Ele
escreveu essa poesia inspirada em uma vizinha de quem estava apaixonado e queria conquistar, e a
mostrou para Frejat, seu amigo desde os tempos de colégio, que resolveu
transformá-la em letra de música. “Por você” explodiu nas paradas, pela banda
Barão Vermelho, e mudou a vida de Mauro Santa Cecília, que virou letrista e
passou a viver de direitos autorais. Esse é apenas um dos segredos da poesia,
que pode, sim, render uma grande música. Mais uma vez, os poetas conseguem mostrar ao público o potencial transformador da
literatura.
No mesmo caso se
enquadra outro escritor convidado, Emmanuel Marinho, poeta e ator douradense, que
produz e vende CDs com suas poesias musicalizadas. Quase tudo o que compõe vira
música, e ele já gravou dois CDs, Teré e Encantares. Mas ele também é conhecido
por ser uma voz de protesto na sociedade com poemas como “Etanol” e autor de
performances como o “Poeta Palhaço”, “Porã” e “O Encantador de Palavras”. Usa
macacão por considerar-se um “operário da palavra”. Outra contribuição veio do
escritor e jornalista paulista Bruno Molinero, repórter da Folha de S.Paulo,
ganhador do Prêmio Guavira de Literatura com o livro do poemas “Alarido”. E o
que faz Bruno de tão extraordinário, podem perguntar? Ora, ele apenas transforma
em linguagem poética os perfis das pessoas que entrevista em suas reportagens,
quase sempre figuras invisíveis da periferia paulistana. Mauro, Emmanuel e
Bruno comprovam que, por meio da literatura, podemos realizar sonhos e projetos
considerados impossíveis. Porque a poesia é como nossa própria vida. "Por você, eu mudaria até o meu nome/eu viveria em greve de fome/desejaria todo dia a mesma mulher". Querem saber o final da história, não é: Mauro não conquistou a vizinha, mas a poesia dele conquistou o País.
Emmanuel, de macacão: 'operário das palavras' |
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