Haitianos participaram de evento social no ILA em Corumbá |
Nelson Urt
“Caridade não é apenas doar, mas saber enxergar
e acolher o outro”, afirmou a produtora cultural e atriz Bianca Machado, na
abertura da Boemia Cultural, nesta quinta-feira, no Instituto Luiz de
Albuquerque (ILA). Ali os corumbaenses, ladarenses e bolivianos enxergaram e
acolheram os cerca de 300 haitianos que estão em Corumbá, alguns há um mês, outros
há uma semana ou recém-chegados. Eles aguardam a regularização da documentação
como migrantes ou refugiados para seguir em frente. “Vamos para São Paulo, para o Rio, Minas,
onde tivermos familiares, amigos, contatos, enfim, o que for melhor para nós”,
me conta um haitiano, enquanto assiste ao show da banda “Imigrantes de Marte”,
na Boemia Cultural no ILA. Conversei com outros quatro haitianos na Casa de
Passagem de Corumbá, na rua Edu Rocha, durante pesquisa para o Mestrado de Estudos Fronteiros. Jovens, bem vestidos,
com um sorriso de esperança no rosto, planejavam continuar os estudos e trabalhar
na construção civil em São Paulo. É de enorme importância o trabalho do
Circuito de Apoio ao Imigrante, com a liderança do professor dr. Marco Aurélio
Machado de Oliveira, da UFMS, nesse momento de acolhimento e transição dos
haitianos pela fronteira. E da irmã dele, a atriz Bianca Machado, que coloca a cultura a serviço das causas sociais e dos invisíveis.
Banda Vinil, um dos destaques na Boemia Cultural |
A parceria do Circuito de Apoio do Imigrante com a Boemia Cultural serviu
para que esse “enxergar e acolher” os haitianos se materializasse por meio do evento
beneficente que não só apurou com a venda de ingressos na bilheteria como
também recebeu a doação de produtos de higiene e alimentos para a subsistência
dos migrantes em Corumbá. Cinco deles estão na Casa de Passagem, outros hospedados
em pequenos hotéis e pousadas. Uma só senhora corumbaense acolhe 25 haitianos, que dividem
o quarto com seus filhos, em uma casa modesta, sem piso e reboco, no bairro
Centro América em Corumbá. Para os que insistem em catalogar a fronteira como zona de conflito, violência e tráfico, uma boa lição de solidariedade e diálogo que só uma fronteira humana e humanizada pode proporcionar.
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