Quilombolas expressam historicamente a cultura afrodescendente |
Nelson Urt
Neste 20 de novembro, Dia da Consciência
Negra, entramos na nave da História para lembrar que hoje também é dia das quilombolas. Elas representam
nosso elo com a cultura afrodescendente e a herança deixada pelo sistema
escravocrata. Corumbá é o segundo município de Mato Grosso do Sul com maior
número de comunidades quilombolas. São três comunidades, todas na ali na região
portuária, onde poucos costumam descer: Família Ozório, Família Maria Theodora Gonçalves de Paula e Campos
Correia. Visitei uma delas, a Família Ozório, em reportagem para o jornal O
Estado, de Campo Grande, e constatei a dedicação dos moradores à lavoura – e as plantações à beira do rio Paraguai – e o respeito entre eles, quase todos
ligados a um mesmo tronco familiar, descendentes do patriarca Ozório, que
migrou do norte mato-grossense para aqui fincar raízes. São descendentes de antigos
escravizados, que conquistaram reconhecimento oficial por meio da quilombola,
um pedaço de terra à beira do rio onde podem criar seus filhos e transmitir a eles
seus valores culturais. Até bem pouco tempo Corumbá (leia-se a elite corumbaense) resistia em aceitar sua ligação com o sistema escravocrata,
virando as costas e os olhos para a história. Mas graças ao empenho da comunidade negra –
o poeta Benedito C.G.Lima e a presidente do Instituto da Mulher Negra, Ednir de
Paulo à frente, entre outros – a realidade foi colocada a limpo e as reivindicações
quilombolas aceitas. Pesquisadores como as professoras corumbaenses da UFMS Elaine
Cancian e Maria Brazil foram igualmente importantes para este reconhecimento,
contribuindo com a elaboração do conteúdo histórico de uma sala que trata exclusivamente
do sistema escravocrata em Corumbá inaugurada neste 2018 no Museu de História do Pantanal (Muhpan).
Mapa do
MPF - Nioaque é o município com o maior
número de comunidades quilombolas em Mato Grosso do Sul. São quatro: Família
Cardoso, Famílias Araújo e Ribeiro, Família Romano Martins da Conceição e
Família Bulhões. Em terceiro lugar está a capital Campo Grande, com duas
comunidades: Tia Eva (São Benedito) e
Chácara do Buriti. As outras nove comunidades estão espalhadas por nove
municípios, de norte a sul de Mato Grosso do Sul. Estas e outras informações sobre
as comunidades quilombolas de MS, incluindo os procedimentos
que tramitam no Ministério Público Federal (MPF), podem ser encontradas no mapa
interativo disponibilizado pelo órgão ministerial neste 20 de novembro, Dia da
Consciência Negra. Acesse o mapa pelo endereço: www.mpf.mp.br/ms/quilombolas