Nelson Urt
Navepress
Se o projeto do
trem Ferrogrão for tocado em frente, teremos um dos maiores colapsos ambientais
na Amazônia – somando-se a outros tantos, como o garimpo e as marcas deixadas
pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte em terras indígenas.
A reportagem publicada pelo site UOL neste dia 3 de
julho ficou poucas horas na tela, mas serviu para mostrar o tamanho do estrago
que o Ferrogrão irá causar se o governo Lula não acordar e perceber que estará repetindo
um erro do passado.
Alguém precisa assoprar no ouvido do presidente da
República e seu ministro dos Transportes que o Ferrogrão, se aprovado, pode associar
este governo dito progressista e emancipador a um dos maiores desastres
ambientais da história, depois de Belo Monte.
Lembre-se que o projeto da Belo Monte, a terceira
maior hidrelétrica do mundo, inaugurada em 2016, foi aprovado e concluído
durante o governo Dilma Roussef, apesar de pressões de todas as frentes ambientalistas.
A barragem de Belo Monte simplesmente estancou o
poderoso rio Xingu, importante afluente do rio Amazonas, vital para a
sobrevivência de milhares de comunidades indígenas e ribeirinhas. Em torno de
20 mil pessoas ficaram desabrigadas.
Aprovar Ferrogrão hoje seria repetir o erro do
passado, deixar de fazer uma autocrítica e assinar um atestado de incompetência
de um governo que ficará manchado por mais um desastre ambiental.
Ou será que este governo ficará permanentemente refém
da ditadura de mercado de exploração da natureza a qualquer custo imposta pelas
empresas do agronegócio? E o que vamos dizer em salas de aula aos nossos
alunos? E como explicar tamanha incoerência entre a prática e o discurso para
uma população que se sente representada? E o que dizer aos que defendem a causa
indígena?
A Ferrogrão vai ter 933 km e ligar Sinop, no Mato Grosso,
a Miritituba, no Pará, cortando boa parte do território amazônico, região onde
estão 102 assentamentos e 16 terras indígenas que sequer foram ouvidos sobre a
execução do projeto.
``O objetivo não declarado da ferrovia é a expansão da
área plantada no seu entorno´´, estima o engenheiro e secretário executivo do
GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental, Sergio Guimarães.
A ferrovia vai desmatar 49 mil km quadrados - área 11%
superior a todo o Estado do Rio de Janeiro e 64% superior à devastação recorde
de toda a Amazônica em 2022, que foi de 17,7 mil km quadrados. Só em Mato
Grosso essa devastação pode chegar a 2 mil km quadrados, área superior à cidade
de São Paulo.
O custo da
ferrovia está estimado em R$ 8,4 bilhões, valor que será arcado por empresas
particulares, todas evidentemente ligadas ao agronegócio, principal interessado
na expansão da fronteira agrícola em território indígena amazônico.
Formulado por três empresas comercializadoras
agrícolas, esse projeto foi encampado pelo governo Dilma, depois abraçado por
Temer e aprovado por Bolsonaro – e agora, acreditem, está sendo tocado pelo
Ministério dos Transportes, mesmo com ressalvas do ministro Alexandre Moraes,
que recomenda uma solução dada via STF e Congresso.
Um projeto que mais uma vez contempla o agronegócio e
derruba qualquer retórica discursiva sobre sustentabilidade e preservação da
Amazônia e de todas e todos aqueles que dependem dela para sua sobrevivência.
Queremos a volta dos trens, sim, mas não para fazer
sangrar ainda mais o coração da maior floresta tropical do mundo. (Com
informações de Wanderley Preite Sobrinho, do UOL São Paulo)
Leia mais sobre o desastre provocado pela usina de
Belo Monte no link do site Mongabay.com:
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