Márcio e Aline: encontro na noite quente de Corumbá (Foto: A.Ardaya) |
Testemunhei uma cena emocionante
na mormacenta noite de sexta-feira, 16 de outubro, ali no Porto Geral, às margens do rio Paraguai, em Corumbá. O abraço do poeta e da bailarina. A foto
do incansável produtor cultural Arturo Ardaya caiu na rede social, ganhou a
projeção que devia, mas faltava escrever algo sobre ela, e aqui estou eu para
cumprir meu dever de repórter, depois de enviar uma reportagem sobre o Pantanal Poética para o jornal O Estado de MS, de Campo Grande. Nem sentado nem em pé, de coque - como algum ancestral indígena - lá estava eu para
ver a apresentação da bailarina revelação do Moinho Cultural, Aline do Espírito
Santo, de 17 anos. Doce, meiga e suave como uma pluma, como sempre, deslisa os passos da sua coreografia, aplaudida bem de perto pelo compositor e cantor
Márcio De Camillo, do trio Hermanos Irmãos. Era uma peça do espetáculo O
Segredo da Brincadeira, inspirado no poeta Manoel de Barros. No final da dança,
Aline se aproxima de Márcio e ganha um abraço apertado, intenso, emocionante, e
mais aplausos da plateia naquele Bulixo Cultural, no Sesc Corumbá. Autor
do espetáculo Crianceiras, Márcio De Camillo acabava de voltar de uma expedição
à Serra do Amolar pelo programa Pantanal Poética, ao lado de outros 35
compositores, músicos e pesquisadores ambientais que gravaram um DVD com sete
músicas com o tema da preservação da natureza. A bailarina Aline do Espírito Santo,
acadêmica do curso de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul (UFMS), pensa em trocar de curso e fazer Artes Cênicas em Campo Grande, para
certamente seguir carreira na dança e no teatro. Além de Aline e Márcio, outros
talentos passaram pelo Bulixo Cultural, como Rodrigo Teixeira e Jerry
Espindola, do grupo Hermanos Irmãos, e o compositor e cantor argentino Ruben
Goldin, um dos mais aplaudidos da noite. É incrível como algumas pessoas que ainda
não conhecem o Pantanal, quando ganham essa chance, voltam com a impressão de
ter pisado em um novo planeta, como no caso da compositora paraguaia Daniela
Rojas, do projeto Arte Viva. Pois é, enquanto isso uma parte desta sociedade capitalista gasta bilhões em pesquisas para procurar água em Marte, ao invés de investir em projetos de preservação da nossa querida Terra. Mais preocupante ainda foi o que me revelou a bióloga da Embrapa, Débora Calheiros, sobre um projeto do governo federal de instalar mais de 160 hidrelétricas nos rios do Pantanal, 20 só em Coxim. "Se colocarem barragens em Coxim, acabam os peixes e acaba a cidade, que vive da pesca", alerta Débora. É para deter esse tipo de ameaça que esses músicos e ambientalistas vieram ao Pantanal. Não foi a passeio. Como me contou o jornalista, cantor, compositor e escritor Rodrigo Teixeira, é uma experiência
louca passar três dias isolado entre as águas do rio Paraguai, as matas da planície pantaneira, olhar para o céu e ver estrelas cadentes. Com um detalhe: sem
qualquer sinal de internet. “Velho, é um milagre você poder pensar na proteção do Pantanal
neste mundo cada vez mais individualizado”, me resumiu Rodrigo, na noite quente, poética e emocionante de Corumbá. E concluo: só o amor salva o Pantanal, os peixes, as onças, os pescadores, enfim, todos nós, do modelo de desenvolvimento mercantilista apregoado no mundo.
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