domingo, 18 de outubro de 2015

A bailarina e o poeta: só o amor salva o Pantanal

Márcio e Aline: encontro na noite quente de Corumbá (Foto: A.Ardaya)
Testemunhei uma cena emocionante na mormacenta noite de sexta-feira, 16 de outubro, ali no Porto Geral, às margens do rio Paraguai, em Corumbá. O abraço do poeta e da bailarina. A foto do incansável produtor cultural Arturo Ardaya caiu na rede social, ganhou a projeção que devia, mas faltava escrever algo sobre ela, e aqui estou eu para cumprir meu dever de repórter, depois de enviar uma reportagem sobre o Pantanal Poética para o jornal O Estado de MS, de Campo Grande. Nem sentado nem em pé, de coque - como algum ancestral indígena - lá estava eu para ver a apresentação da bailarina revelação do Moinho Cultural, Aline do Espírito Santo, de 17 anos. Doce, meiga e suave como uma pluma, como sempre, deslisa os passos da sua coreografia, aplaudida bem de perto pelo compositor e cantor Márcio De Camillo, do trio Hermanos Irmãos. Era uma peça do espetáculo O Segredo da Brincadeira, inspirado no poeta Manoel de Barros. No final da dança, Aline se aproxima de Márcio e ganha um abraço apertado, intenso, emocionante, e mais aplausos da plateia naquele Bulixo Cultural, no Sesc Corumbá. Autor do espetáculo Crianceiras, Márcio De Camillo acabava de voltar de uma expedição à Serra do Amolar pelo programa Pantanal Poética, ao lado de outros 35 compositores, músicos e pesquisadores ambientais que gravaram um DVD com sete músicas com o tema da preservação da natureza. A bailarina Aline do Espírito Santo, acadêmica do curso de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), pensa em trocar de curso e fazer Artes Cênicas em Campo Grande, para certamente seguir carreira na dança e no teatro. Além de Aline e Márcio, outros talentos passaram pelo Bulixo Cultural, como Rodrigo Teixeira e Jerry Espindola, do grupo Hermanos Irmãos, e o compositor e cantor argentino Ruben Goldin, um dos mais aplaudidos da noite. É incrível como algumas pessoas que ainda não conhecem o Pantanal, quando ganham essa chance, voltam com a impressão de ter pisado em um novo planeta, como no caso da compositora paraguaia Daniela Rojas, do projeto Arte Viva. Pois é, enquanto isso uma parte desta sociedade capitalista gasta bilhões em pesquisas para procurar água em Marte, ao invés de investir em projetos de preservação da nossa querida Terra. Mais preocupante ainda foi o que me revelou a bióloga da Embrapa, Débora Calheiros, sobre um projeto do governo federal de instalar mais de 160 hidrelétricas nos rios do Pantanal, 20 só em Coxim. "Se colocarem barragens em Coxim, acabam os peixes e acaba a cidade, que vive da pesca", alerta Débora. É para deter esse tipo de ameaça que esses músicos e ambientalistas vieram ao Pantanal. Não foi a passeio. Como me contou o jornalista, cantor, compositor e escritor Rodrigo Teixeira, é uma experiência louca passar três dias isolado entre as águas do rio Paraguai, as matas da planície pantaneira, olhar para o céu e ver estrelas cadentes. Com um detalhe: sem qualquer sinal de internet. “Velho, é um milagre você poder pensar na proteção do Pantanal neste mundo cada vez mais individualizado”, me resumiu Rodrigo, na noite quente, poética e emocionante de Corumbá. E concluo: só o amor salva o Pantanal, os peixes, as onças, os pescadores, enfim, todos nós, do modelo de desenvolvimento mercantilista apregoado no mundo. 

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