Professor haitiano destaca oportunidade de seguir estudos na UFMS |
Nelson Urt
Os haitianos escrevem diferentes roteiros entre
nós: dramas, conflitos, superação, racismo, preconceito, sobrevivência,
desconfiança. Quase nada falta na vida de um migrante que deixa o seu país para
buscar novos sonhos e compromissos em um mundo estranho. Nada que seja privilégio
dos haitianos, porque neste momento há milhares de outros migrantes na mesma
situação, em outros países, inclusive brasileiros, que passam pelas mesmas privações
e provações nos Estados Unidos da América e na Europa.
Só para atualizar a memória: o brasileiro Jean Charles de Menezes morreu assassinado pela polícia inglesa – a Scotland Yard – ao ser confundido com um terrorista, no metrô de Londres. Sua morte, em 2005, reacendeu a discussão em torno da discriminação contra os migrantes, e virou filme.
Promovida pelo Ministério Público Federal (MPF), uma audiência pública neste 3 de agosto na unidade 3 da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), no Porto Geral, discutiu a situação e elaborou propostas para o acolhimento de migrantes haitianos em Corumbá – até julho era cerca de 300. Não muito tempo atrás qualquer que fosse o migrante era tratado como uma ameaça para a segurança nacional, mas a nova Lei da Migração tratou de corrigir esse atentado contra a cidadania. Hoje o migrante é respaldado pela mesma lei que assegura os direitos a um cidadão brasileiro.
Só para atualizar a memória: o brasileiro Jean Charles de Menezes morreu assassinado pela polícia inglesa – a Scotland Yard – ao ser confundido com um terrorista, no metrô de Londres. Sua morte, em 2005, reacendeu a discussão em torno da discriminação contra os migrantes, e virou filme.
Promovida pelo Ministério Público Federal (MPF), uma audiência pública neste 3 de agosto na unidade 3 da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), no Porto Geral, discutiu a situação e elaborou propostas para o acolhimento de migrantes haitianos em Corumbá – até julho era cerca de 300. Não muito tempo atrás qualquer que fosse o migrante era tratado como uma ameaça para a segurança nacional, mas a nova Lei da Migração tratou de corrigir esse atentado contra a cidadania. Hoje o migrante é respaldado pela mesma lei que assegura os direitos a um cidadão brasileiro.
Circuito de Apoio ao Imigrante pede capacitação em idiomas |
Esse foi o tema central da audiência pública: MPF,
MPE, Defensoria Pública, Circuito de Apoio ao Imigrante da UFMS, Pastorais da
Mobilidade e do Imigrante, Comissão Provisória de Apoio aos Refugiados
Haitianos da OAB/MS – cada entidade, representada na mesa de debates, procura fazer a sua parte para que os direitos dos migrantes sejam respeitados.
Uma das propostas mais interessantes – e com
necessidade urgente – seria a criação de um centro provisório de acolhimentos
para centralizar os serviços aos migrantes, já que as instituições sociais não
estão devidamente aparelhadas. A Casa de Passagem, por exemplo, possui apenas
22 leitos. Mesmo assim informa que atendeu 407 pessoas de janeiro a julho deste
ano. Já o Centro POP da Prefeitura, criado para atender a população de rua, agora
atende os migrantes mas faltam recursos e instalações apropriadas.
Os haitianos estão espalhados por pousadas e casas de famílias. Uma senhora chegou a abrigar mais de vinte haitianos em sua modesta casa no bairro Centro América.
A comunicação é um dos principais entraves no diálogo e inclusão dos migrantes haitianos, que falam os idiomas criolo e francês. Os que antes de chegar ao Brasil permanecem por algum tempo no Chile já conseguem se comunicar em espanhol.
Um deles virou tradutor e professor em Campo Grande: Wadner Absalonk. de 29 anos. Há quatro anos no Brasil, Wadner conclui o curso de Letras na UFMS, já fala o português fluentemente e dá aulas de francês dentro de um projeto da faculdade. É também o tradutor do criolo, idioma falado pelos haitianos. “Se formos ver claramente, o problema dos haitianos é pequeno frente aos dos outros migrantes pelo mundo”, afirmou Wadner. “Sem contar a afinidade que temos com o Brasil: os haitianos gostam muito do país e quase todos torceram pela seleção brasileira na Copa do Mundo”.
Os haitianos estão espalhados por pousadas e casas de famílias. Uma senhora chegou a abrigar mais de vinte haitianos em sua modesta casa no bairro Centro América.
A comunicação é um dos principais entraves no diálogo e inclusão dos migrantes haitianos, que falam os idiomas criolo e francês. Os que antes de chegar ao Brasil permanecem por algum tempo no Chile já conseguem se comunicar em espanhol.
Um deles virou tradutor e professor em Campo Grande: Wadner Absalonk. de 29 anos. Há quatro anos no Brasil, Wadner conclui o curso de Letras na UFMS, já fala o português fluentemente e dá aulas de francês dentro de um projeto da faculdade. É também o tradutor do criolo, idioma falado pelos haitianos. “Se formos ver claramente, o problema dos haitianos é pequeno frente aos dos outros migrantes pelo mundo”, afirmou Wadner. “Sem contar a afinidade que temos com o Brasil: os haitianos gostam muito do país e quase todos torceram pela seleção brasileira na Copa do Mundo”.
Haitianos Dulcé e Wadner: casos de superação e sucesso |
Se Wadner representa o papel sonhado por todo
migrante, o caso de Dulcé Du Verlus, de 42 anos, se enquadra no roteiro de drama, sofrimento e superação. Pedreiro de formação,
ele já estava trabalhando havia dois anos em Santa Bárbara do Oeste, interior
de São Paulo, quando decidiu voltar ao Haiti para buscar a família. Na viagem
de volta, já ao lado da esposa Roselene e d filho Deuvensley, foi chantageado e
perdeu tudo o que tinha no ônibus – dinheiro e documentos. Chegou nesta
quinta-feira a Corumbá para recomeçar do zero. “Quero voltar para Santa Bárbara
onde já tenho contatos e posso trabalhar como pedreiro”, contou.
Tanto Wadner, que hoje é presidente da Associação dos Haitianos em Campo Grande, como o pedreiro Dulcé são exemplos latentes de que a oportunidade gera transformação, em pouco tempo, na vida dos migrantes. Parece haver de cada representante de entidade e do poder publico um esforço de alteridade, um olhar de compreensão sobre o próximo. Assim vai ficar mais fácil atender o que eles pedem. “Não nos vejam apenas como migrantes ou problemas, mas como um braço a mais no crescimento do Brasil”, afirmou um haitiano, tradutor de idiomas há quatro anos em Mato Grosso do Sul.
Tanto Wadner, que hoje é presidente da Associação dos Haitianos em Campo Grande, como o pedreiro Dulcé são exemplos latentes de que a oportunidade gera transformação, em pouco tempo, na vida dos migrantes. Parece haver de cada representante de entidade e do poder publico um esforço de alteridade, um olhar de compreensão sobre o próximo. Assim vai ficar mais fácil atender o que eles pedem. “Não nos vejam apenas como migrantes ou problemas, mas como um braço a mais no crescimento do Brasil”, afirmou um haitiano, tradutor de idiomas há quatro anos em Mato Grosso do Sul.
MPF aponta propostas
Leia trecho com conclusões do MPF de MS sobre a audiência
pública:
Defensoria Pública da União, Ordem dos Advogados do
Brasil, Ministério Público Estadual, Polícia Federal, Receita Federal, UFMS,
poderes executivo e legislativo municipal, poder executivo estadual: todos
estiveram representados e fizeram questão de pontuar as atribuições que lhe
cabem, tanto a título de esclarecimento quanto, de certa forma, prestação de
contas. Mas foram os representantes da sociedade civil que despertaram as
reações mais efusivas dos presentes. A dona de casa que, de março para cá,
abrigou mais de 300 haitianos debaixo do próprio teto, contando apenas com
algumas doações. A dona de hotel que abrigou outras centenas, oferecendo teto e
refeição, inviabilizando o próprio negócio diante de tantas pessoas acolhidas
no saguão e no estacionamento. O padre que viabilizou boa parte disso tudo,
angariando doações, recebendo, organizando e garantindo o mínimo de dignidade a
essas pessoas. Esses três casos, dentre tantos outros, ilustram a gravidade da
situação e levantam os dois principais problemas enfrentados pelos imigrantes:
abrigamento e regularização de documentos. Foram esses os pontos mais debatidos
durante a audiência pública e que nortearam os encaminhamentos dela. Das
discussões, resultou a possibilidade de fortalecimento de uma rede que permita,
daqui em diante, o enfrentamento das dificuldades decorrentes de um novo fluxo
migratório inesperado. Segundo a procuradora da República Maria Olívia Pessoni
Junqueira, a audiência terminou com uma série de propostas concretas. “Houve
algumas propostas de utilização de recursos oriundos de Termos de Ajustamento
de Conduta, do Poder Judiciário, houve propostas de parceria entre
universidades e o poder público para oferecer, por exemplo, um intérprete, para
sanar a dificuldade linguística, propostas de inclusão do movimento negro e dos
próprios haitianos no debate, a utilização eventual de recursos humanos das
forças militares nos momentos de crise para atendimentos de saúde. Esses foram
alguns dos encaminhamentos práticos da audiência”.
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