Nesses rincões do Centro-Oeste, onde despontam poetas como Chumbo
Grosso, Lobivar Matos e Manoel de Barros, cantores e compositores como Dary
Esteves, Almir Sater, Paulo Simões e Geraldo Roca, músicos da nova geração carregam um peso enorme de responsabilidade.
Nesse aspecto, Rodrigo da Matta pede passagem e surge como a voz emergente de
Corumbá. Com 20 anos de estrada como vocalista da banda Exilados, o cantor
corumbaense apresenta um repertório eclético de rock balada que inclui Raul
Seixas, Beatles, Legião, Cazuza, aquelas boas canções que sempre fazemos
questão de voltar a ouvir. E na voz vigorosa e melódica de quem se torna
referência na música contemporânea de Corumbá. Em mais uma noite dos 12 anos de
movimento do Resistência Rock Bar, na rua Portocarrero, Rodrigo da Matta foi a
dose certa e aclamada, com casa cheia na celebração deste 18 de novembro. Para
os próximos sábados, o professor de História José Lourenço Santiago, âncora do
bar, com assistência de Igor Punk e Paulo Baroah, mantem a diversidade
libertária na programação incluindo um ato de manifesto pelos 40 anos do
assassinato do líder indígena guarani Marçal de Souza. E a novidade da casa:
uma vitrola para você ouvir seus discos de vinil. Acompanhe a programação pelo
facebook: resistenciarockbar.
domingo, 19 de novembro de 2023
Rodrigo da Matta no Resistência Rock Bar: a voz de Corumbá
sexta-feira, 20 de outubro de 2023
Livro descreve extermínio de Gaza desde os anos 60
Neste livro publicado em 2013, há exatos dez anos, pelo sociólogo corumbaense Lejeune Mirhan, tem se a sensação de que acaba de ser escrito para esses tempos. A história se repete, com todos os seus requintes de perversidades. "E se Gaza cair..." começa descrevendo "o ataque do exército israelense na Faixa de Gaza no final dos anos 2008". E prossegue: "ocupação, cerco, bloqueio, ataque maciço de artilharia, testes de novas armas de fabricação israelense, restrição de água...este é o menu servido no cardápio do cotidiano israelense para a população palestina".
O livro reúne 47 textos dos mais expressivos autores da literatura e imprensa independente e autônoma e lança luz sobre o vergonhoso sistema criado em 1962 e que tem seu apogeu no cerco à Faixa de Gaza, transformada em uma prisão a céu aberto.
Corumbaense descendente de sírios e hoje um dos articulistas da geopolítica internacional mais requisitados do país, Lejeune descreve assim os acontecimentos de 2008: "a guerra desencadeada por 22 dias de forma ininterrupta contra uma área densamente povoada como Gaza não foi contra o Hamas. Isso foi um mero pretexto. Não é uma guerra de Israel contra o Hamas, mas um massacre, uma limpeza étnica contra o povo palestino, dentro de um projeto neocolonial. E isso vem desde muito antes da existência do Hamas e mesmo da OLP (Organização para Libertação da Palestina), surgida em 1964".
O livro esclarece que estamos diante de uma guerra permanente, com o objetivo de extermínio de um povo. Em 2008, conforme relata Lejeune, 53 escolas foram arrasadas, inclusive duas da ONU, onde morreram 40 crianças. E pelo menos dois hospitais foram inteiramente destruídos. Mais de 1500 mortos. Qualquer semelhança com os ataques recentes não é mera coincidência, mesmo porque o bloqueio permanece desde aqueles tempos, com novos e sistemáticos ataques e novas armas, como a munição à base de fósforo branco, que causa graves e prolongadas queimaduras na pele.
Em 2014, conforme lembrou Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, novo bombardeio israelense causou graves danos a 40% das habitações de Gaza, deixando 90% da população sem água adequada. "A população de Gaza vive uma situação análoga a um campo de concentração", constata Ualid Rabah nos dias de hoje. E enquanto Gaza é reduzida a pó, perguntas permanecem sem resposta: quem são os responsáveis por esses crimes de guerra? Quando e por quem serão julgados?
E se Gaza cair...Lejeune Mirhan (org.), coletânea de 47 textos de autores independentes, 278 páginas. Editora Anita Garibaldi, São Paulo, 2012.
sexta-feira, 13 de outubro de 2023
O Fantástico Relógio da Rute: onde o tempo gira a nosso favor
O Fantástico Relógio da Rute, livro infantojuvenil lançado dia 13 de outubro na Biblioteca Helô Urt, em Corumbá, leva a assinatura da pedagoga campo-grandense Eva Vilma, escritora revelação do Mato Grosso do Sul. Com ilustrações de Paulo Alaor, o livro é endereçado ``para toda criança, grande ou pequena, que em cada canto do mundo descobre no tempo um amigo, não um senhor´´. Rute achou o relógio no baú de lembranças da vó Regina. Rute com o relógio tem o tempo a seu favor. O relógio com a Rute aprendeu sobre o amor. Para além da poesia que exalta as qualidades do tempo como companheiro nas horas certas e incertas, os olhos de cronista de Eva vão encontrar na periferia de Campo Grande uma menina que vive em um bairro alagado pelas chuvas: a Sara dos lábios de mel, uma amiga de Rute. A personagem é inspirada na garotinha Sarah Arruda Rocha Cantero, de 12 anos, que a escritora conheceu na Rua Poética, em uma comunidade periférica frequentemente afetada pelas enxurradas, e transportou para as páginas do livro. Enquanto olhava para as crianças durante o lançamento do seu livro no bairro Nova Corumbá - o bairro que abriga o lixão municipal de Corumbá – a escritora podia estar diante de outras Saras que vivem os mesmos tormentos tão comuns nas periferias esquecidas. Nada, porém, suficientemente forte para tirar dessas meninas e meninos a dignidade, o talento, a criatividade. Nada que lhes tire os bons predicados do tempo. De uma das garotinhas presentes a escritora ganhou um desenho feito a lápis preto ali mesmo, naquele tempo, um desenho do seu rosto. O Fantástico Relógio da Rute é um livro irretocável, admirável e transformador. Nele, Eva Vilma se descreve como ``uma fantástica menina que tem mil relógios mágicos para dividir seu tempo entre o chão da sala de aula para alfabetização, a missão de ser mãe, a atividade na roda de capoeira, a escrita de livro infantis e de poesias e o ativismo cultural pelo Coletivo Tarja Preta de Literatura Independente´´. Dessa forma, ela sempre teve vontade de achar um relógio mágico com um tempo em que coubessem todas as suas vocações. E conseguiu. Não por milagre, mas por resistência, luta e dedicação.
Serviço: O Fantástico Relógio da Rute, literatura infantojuvenil, ancestralidade, emoções, Avá Editoria, 2023. Textos: Eva Vilma Souza Barbosa. Ilustrações: Paulo Alaor. Preço de capa: R$ 30,00.
A estudante Rayanne e a escritora Eva: tempo de desenho |
quinta-feira, 13 de julho de 2023
Quando o ouro não Vale o quanto pesa
O ouro brasileiro
deixou buracos no Brasil, templos em Portugal e fábricas na Inglaterra. A frase
é do escritor Eduardo Galeano e resume o que representou o ciclo da exploração
de ouro, que se tornou a maior fonte econômica brasileira entre os séculos 17 e
18. Mas, lendo até o final, vocês verão que, passados 300 anos, o ouro continua
fazendo misérias em solo brasileiro, além da já conhecida garimpagem.
Ao lado de
Minas Gerais e Goiás, nosso Mato Grosso detinha uma das maiores jazidas no
ciclo do ouro, lá por volta dos anos 1700. Foi um ciclo vigoroso que
influenciou até a mudança da capital federal de Salvador para o Rio de Janeiro
para que houvesse maior rigor na fiscalização pela Coroa portuguesa, que
abocanhava 20% de toda a produção brasileira. Havia muita sonegação e venda
clandestina.
Passados
mais de 300 anos, o ouro continua sendo explorado no Brasil e em torno dele
gravitam gravíssimas questões como o garimpo desenfreado que tantos impactos provocam
na Amazônia e aos povos originários. O Brasil é um dos dez maiores produtores de ouro do mundo, com a movimentação de 106 toneladas. E para onde vai tanto ouro? Para fazer funcionar seu aparelho celular, por exemplo.
Não bastasse
tanta ganância e sequelas provocadas pelo metal, recentes investigações de comissões parlamentares de inquérito
no Pará acabam de constatar que a mineradora Vale vendeu ouro para fora do
Brasil sem pagar royalties por pelo menos dez anos.
O minério,
segundo as CPIs, era extraído de duas minas de cobre exploradas pela empresa
nos municípios de Canaã dos Carajás e Marabá no sudeste paraense.
De acordo
com as CPIs, a empresa deixou de pagar R$ 446 milhões referentes à Compensação
Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) pela exploração de ouro não contabilizada
nas duas cidades.
Experimente você, caro contribuinte, ficar sem pagar seu imposto de renda sobre o seu salário à Receita Federal, uma vez sequer, para ver o que acontece.
CFEM é o
tributo conhecido como royalty da mineração. É o mesmo imposto que a Vale
pagava aos municípios de Corumbá e Ladário quando explorava ferro e manganês no
Urucum, e o mesmo que pagam as mineradoras que a sucederam na exploração das
minas.
As informações
foram levantadas pela CPI da Vale na Assembleia Legislativa do Pará e pela CPI
do Salobo na Câmara de Vereadores de Marabá.
Essas
mesmas CPIs do Pará também calculam que a omissão das vendas de ouro pela Vale
resultou num rombo de R$ 20 bilhões na balança comercial brasileira.
E como anda o pagamento dos impostos CFEM pelas mineradoras aos municípios de Corumbá e Ladário diante do grande volume de exploração e movimentação de caminhões que tomam conta das avenidas 14 de março e Rio Branco? A Câmara de Vereadores está atenta à contrapartida de todo esse impacto ambiental?
A
reportagem completa foi publicada neste 13 de julho de 2023 pelo site UOL que
você pode conferir no link abaixo:
CPI
acusa Vale de vender ouro e pagar tributo como subproduto de cobre (uol.com.br)
terça-feira, 4 de julho de 2023
Ferrogrão é prenúncio de mais um colapso na Amazônia
Nelson Urt
Navepress
Se o projeto do
trem Ferrogrão for tocado em frente, teremos um dos maiores colapsos ambientais
na Amazônia – somando-se a outros tantos, como o garimpo e as marcas deixadas
pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte em terras indígenas.
A reportagem publicada pelo site UOL neste dia 3 de
julho ficou poucas horas na tela, mas serviu para mostrar o tamanho do estrago
que o Ferrogrão irá causar se o governo Lula não acordar e perceber que estará repetindo
um erro do passado.
Alguém precisa assoprar no ouvido do presidente da
República e seu ministro dos Transportes que o Ferrogrão, se aprovado, pode associar
este governo dito progressista e emancipador a um dos maiores desastres
ambientais da história, depois de Belo Monte.
Lembre-se que o projeto da Belo Monte, a terceira
maior hidrelétrica do mundo, inaugurada em 2016, foi aprovado e concluído
durante o governo Dilma Roussef, apesar de pressões de todas as frentes ambientalistas.
A barragem de Belo Monte simplesmente estancou o
poderoso rio Xingu, importante afluente do rio Amazonas, vital para a
sobrevivência de milhares de comunidades indígenas e ribeirinhas. Em torno de
20 mil pessoas ficaram desabrigadas.
Aprovar Ferrogrão hoje seria repetir o erro do
passado, deixar de fazer uma autocrítica e assinar um atestado de incompetência
de um governo que ficará manchado por mais um desastre ambiental.
Ou será que este governo ficará permanentemente refém
da ditadura de mercado de exploração da natureza a qualquer custo imposta pelas
empresas do agronegócio? E o que vamos dizer em salas de aula aos nossos
alunos? E como explicar tamanha incoerência entre a prática e o discurso para
uma população que se sente representada? E o que dizer aos que defendem a causa
indígena?
A Ferrogrão vai ter 933 km e ligar Sinop, no Mato Grosso,
a Miritituba, no Pará, cortando boa parte do território amazônico, região onde
estão 102 assentamentos e 16 terras indígenas que sequer foram ouvidos sobre a
execução do projeto.
``O objetivo não declarado da ferrovia é a expansão da
área plantada no seu entorno´´, estima o engenheiro e secretário executivo do
GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental, Sergio Guimarães.
A ferrovia vai desmatar 49 mil km quadrados - área 11%
superior a todo o Estado do Rio de Janeiro e 64% superior à devastação recorde
de toda a Amazônica em 2022, que foi de 17,7 mil km quadrados. Só em Mato
Grosso essa devastação pode chegar a 2 mil km quadrados, área superior à cidade
de São Paulo.
O custo da
ferrovia está estimado em R$ 8,4 bilhões, valor que será arcado por empresas
particulares, todas evidentemente ligadas ao agronegócio, principal interessado
na expansão da fronteira agrícola em território indígena amazônico.
Formulado por três empresas comercializadoras
agrícolas, esse projeto foi encampado pelo governo Dilma, depois abraçado por
Temer e aprovado por Bolsonaro – e agora, acreditem, está sendo tocado pelo
Ministério dos Transportes, mesmo com ressalvas do ministro Alexandre Moraes,
que recomenda uma solução dada via STF e Congresso.
Um projeto que mais uma vez contempla o agronegócio e
derruba qualquer retórica discursiva sobre sustentabilidade e preservação da
Amazônia e de todas e todos aqueles que dependem dela para sua sobrevivência.
Queremos a volta dos trens, sim, mas não para fazer
sangrar ainda mais o coração da maior floresta tropical do mundo. (Com
informações de Wanderley Preite Sobrinho, do UOL São Paulo)
Leia mais sobre o desastre provocado pela usina de
Belo Monte no link do site Mongabay.com:
terça-feira, 10 de janeiro de 2023
Que viva a memória de Di Cavalcanti!
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