quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Agronegócio financia lobby para censurar livro didático


Nelson Urt/Navepress

Não bastasse a voracidade com que devastam a Amazônia, o Pantanal e outros biomas nativos brasileiros, em nome do avanço do agronegócio que garante os pomposos números de exportação na balança comercial do Brasil, agora o setor que mais consome e usa agrotóxico no mundo quer, com negacionismo, apagar sua imagem negativa dos livros didáticos escolares de todo o País. E, por extensão, das mentes dos jovens estudantes brasileiros. Mais uma tentativa de tratar o brasileiro como um imbecil.

É isso mesmo: o agronegócio financia um lobby (palavra de origem inglesa que designa influência, pressão, jogo de interesses particulares sobre o poder público) para patrulhar e censurar os livros didáticos. Para tanto, um grupo de políticos e empresários do setor criou uma associação chamada “De olho no material escolar”, agora conhecida como “Donme”.

Criada em São Paulo, a Donme tem ligações com secretarias de Agricultura e Educação do Estado e mantem diálogos com a cúpula do Congresso Nacional, na tentativa de influenciar a formação do Plano Nacional de Educação (PNE), que será definido em 2025 com validade para os próximos dez anos. Entre suas ações, promove excursões a feiras de agronegócio com professores, alunos e editores, e se reúne com parlamentares chaves na Câmara e no Senado.

O vice-presidente da associação é Christian Lohbauer, cientista político e um dos fundadores do Partido Novo. Dezenas de corporações e empresas do agronegócio estão por trás do grupo fundado em 2021 pela pecuarista Letícia Jacintho, atual presidente da associação.

O financiamento é pesado, e conta com cerca de 70 empresas. Na lista estão siglas do porte da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), que representa companhias como a JBS, Cargill, Itaú BBA e Cosan.

Como se sabe, a JBS substituiu a Vale (que se foi) e explora o minério de ferro e o manganês do maciço do Urucum, em Corumbá, mas seu ramo original é o agronegócio.

A Donme também é financiada pela Coplife Brasil, representante das maiores fabricantes multinacionais de agrotóxicos e que era presidida por Christian Lohbauer (o do Partido Novo) até 2023, quando ele deixou o cargo para assumir como vice-presidente da Donme.

Neste trecho de uma reportagem publicada no dia 30 de outubro deste ano pela ONG Repórter Brasil, fica claro como o grupo Donme pretende “domar” o Ensino e interferir no aprendizado das crianças usando como artifício o negacionismo:

“O que as crianças e os adolescentes estão aprendendo que vai ser bom para o mundo do trabalho?”, perguntou Christian Lohbauer, vice-presidente da associação De Olho No Material Escolar, a uma plateia de políticos e empresários reunidos na capital paulista, no início de outubro. Ele discursava durante evento do Lide, grupo criado pelo ex-governador de São Paulo João Dória.

“Ela não pode aprender, todos os dias, em todos os materiais, há 30 anos, que tem trabalho escravo na cana-de-açúcar. Ela não pode aprender que o alimento brasileiro está envenenado com agrotóxicos. Ela não pode aprender que a pecuária é responsável pela destruição da Amazônia, porque não é verdade”, o próprio Lohbauer respondeu. 

Como se observa, trata-se de um grupo que se apresenta interessado em contribuir com o desenvolvimento do Ensino educacional brasileiro, mas que na verdade defende puramente os interesses das multinacionais do agronegócio e do agrotóxico.

Não interessa para esse grupo a diversidade de temas, conceitos e informações nos livros didáticos, mas sim a hegemonização desses livros em torno de conceitos que as companhias multinacionais defendem, ou seja, o lucro acima de tudo.

A Donme afirma o seguinte em seu site: “Somos uma entidade que busca a atualização do material escolar com base em conteúdo científico, equilibrado e que gere perspectivas positivas para os estudantes”.

Disseminar conteúdos que negam ser o Brasil o maior consumidor de agrotóxicos do mundo (dados comprovados em estatísticas oficiais) é uma das principais estratégias da Donme. Tanto que a organização criou a Agroteca, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), uma biblioteca virtual com publicações sobre o agronegócio, e nela encontram-se conteúdos negacionistas e que tentam implantar uma imagem positiva do setor quando o mundo sabe que a aplicação de agrotóxico é um malefício para a saúde.

Senão, vejamos: segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil lidera, e com folga, o ranking de consumo de pesticidas, quando considerados os dez países cm as maiores áreas da lavoura no mundo. A média no Brasil é de mais de 12 quilos aplicados por hectare; na sequência estão a Indonésia (6,5 quilos por hectare), a Argentina (5,9) e os Estados Unidos (com 3).

O que as crianças e adolescentes precisam aprender com clareza é que existe um outro tipo de agricultura, real e sustentável, capaz de produzir alimentos sem o uso de pesticidas nocivos à saúde, sem agredir o meio ambiente. Essa agricultura, que pode ser chamada de familiar ou agroecológica, e que surge a partir de assentamentos em todo o Brasil, e inclui sítios e pequenas plantações, fornece hoje cerca de 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa – ou até mais. E nós, brasileiros, que não somos nada imbecis, temos o direito e o dever de fazer a nossa escolha. A vida não está à venda.

(Com informações da ONG Repórter Brasil/Charge: Latuff)


domingo, 13 de outubro de 2024

Punkcururu do Duo Chipa dá nova pegada à viola de cocho


 Nelson Urt/Navepress

Encerrando turnê com apoio do Fundo de Investimento Cultural (FIC) na Estação Cultural Teatro do Mundo, neste sábado, 12, em Campo Grande, o trio Duo Chipa deixa um rastro de coragem e inovação ao fazer uma releitura e dar nova pegada à música raiz.

Definido pelo escritor, músico e produtor cultural Rodrigo Teixeira como punkcururu, a nova proposta consegue associar elementos do punk ao ritmo de dois acordes da viola de cocho, o instrumento criado pelos povos originários do Pantanal e que serve como base para as cantigas de roda do cururu e do siriri presentes hoje em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Na apresentação de Audria Lucas (voz e viola de cocho), Cleozinhu Oliveira (voz, violão e viola de cocho) e Rafael Omar (viola de cocho, ganzá e mocho), o cururu ganha outra dimensão ao se associar a elementos do punk, como nas interpretações furiosas do trio para Tramelado e Marrequinha na Lagoa, canções originárias de comunidades de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

As outras nove músicas do álbum Lugar Distante, lançado nesta turnê e disponível na plataforma Spotify, são autorais do trio, com destaque para Polca do Desprezado, Feitiço e Noite Crua.

Estabelecido atualmente em São Paulo, o Duo Chipa começou em 2020 com o paulistano Cleozinhu e a campo-grandense Audria Lucas e em 2022 o grupo recebeu a adesão do corumbaense Rafael Omar.

Até chegar aqui, o grupo havia lançado cinco álbuns pela internet. O repertório do quinto álbum, Lugar Distante (Curupah, na língua da etnia guarani e como Corumbá era chamada pelos indígenas) teve um concerto de lançamento no auditório do Moinho Cultural, outro no Resistência Rock Bar e no dia seguinte um show especial para alunos da Escola Gabriel Vandoni.

O Duo Chipa aproveitou a apresentação em terra sul-mato-grossense para realizar a pré-estreia de “Mestre Sebastião Entre Causos e Toadas”, documentário feito pelo próprio grupo durante os dias que passaram convivendo em Ladário com o mestre Sebastião Brandão, de 80 anos, o mais importante cururueiro e tocador de viola de cocho da região.

Desde novembro de 2023, com incentivo cultural da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, está aberta em Ladário a Casa de Memória Sebastião Brandão, com exposição dos instrumentos e a oficina onde o mestre cururueiro ensina a qualquer interessado o modo de fazer da viola de cocho. “Foi uma emoção incrível se apresentar para uma plateia que tinha o mestre Brandão na primeira fileira”, destacou Rafael Omar.

Aplaudido de pé no final da turnê em Campo Grande, o Duo Chipa provavelmente terá uma volta triunfal à região para fazer o show de abertura do Quebra Torto com Letras, o famoso encontro literário do Festival América do Sul em Corumbá.

Show no Resistência Rock Bar em Corumbá



sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Gaza brasileira: nem casas de reza escapam ao massacre contra indígenas em Douradina


Nem as casas de reza dos povos indígenas estão escapando dos ataques dos jagunços (agora conhecidos como milicianos), a mando de fazendeiros que se recusam a aceitar a lei de demarcação, temerosos em perder suas terras. De 2019 e 2023, foram queimadas ou destruídas 13 dessas Oga Pissy, o nome em guarani das casas de reza. Desse total, 9 ataques criminosos ocorreram em Mato Grosso do Sul.

No momento, a comunidade indígena de Douradina é alvo de um massacre intermitente, ataques com uso de balas de chumbo (e não apenas de borracha, como se imaginava), uso de potentes holofotes para impedir que os indígenas durmam à noite (um verdadeiro ato de tortura pós-ditadura), emprego de tratores para destruir moradias e plantações, além do uso de queimadas como forma de espantar os moradores.

Esses ataques ocorrem desde agosto do ano passado e ganharam mais intensidade enquanto as autoridades discutem se aprovam ou não o Marco Temporal, um projeto de lei criado para impedir novas demarcações de terras mas que está prestes de ser derrubado. Os ataques são uma forma de fazendeiros pressionarem os políticos parlamentares a aprovarem o Marco Temporal e protegerem suas propriedades que se encontram em terras indígenas.

Douradina fica no sul do Estado e possui pouco menos que 6 mil habitantes, sendo o menor município de Mato Grosso do Sul em área territorial, fazendo divisa com Dourados. Foi uma cidade criada por fazendeiros, proprietários dos latifúndios naquela região antes pertencente aos povos originários.

Quando os povos indígenas foram expulsos a toque de caixa de suas terras, no começo do século passado, o Governo criou a Reserva Indígena Guarani Kaiowá, em Dourados, como forma de aldear e apaziguar os nativos. Com o passar do tempo, a região tornou-se um ponto de conflito e manifestações, quando houve um despertar da consciência e os povos indígenas passaram a reivindicar a retomada de suas terras que ficam no entorno dessa reserva, cansados de esperar por novas demarcações. Douradina é apenas um desses pontos.

As Oga Pissy não são simplesmente casas de reza, mas locais de encontros sociais, culturais e políticos das comunidades indígenas. Ali são discutidas as principais questões que afligem a comunidade. Queimar e destruir Oga Pissy é uma tentativa de o oponente apagar os principais traços culturais do povo, trata-se de um atentado às tradições seculares. As Oga Pissy são consideradas centros sagrados pelos indígenas, que nelas guardam apetrechos de seus rituais.

O fato é que o movimento das retomadas em TI (Terras Indígenas) está escancarando uma onda de violência que vem crescendo na medida em que os fazendeiros, megaempresários do agronegócio brasileiro, sentem-se ameaçados em perder bens e lucros acumulados desde a instalação da República, quando a ordem vigente passou a ser desalojar indígenas de suas terras e repassá-las aos produtores rurais com a formação dos enormes latifúndios.

E o governo progressista permanece neutro, apesar do massacre. Tanto é que, em vídeo gravado por agências de notícias independentes, fica claro o tom conciliador com que a ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara, trata a questão durante sua visita à Douradina, ao solicitar que as vítimas do massacre fossem “mais pacíficas”.

A Força Nacional também esteve presente, mas a barbárie continua, tanto é que no fim de semana de 3 e 4 de agosto dois novos ataques com armas de fogo foi perpetrado, deixando 11 indígenas feridos, dois deles com gravidade, na cabeça e no pescoço.

A retomada Guaaroka é uma das sete ocupações feitas pelos Guarani Kaiowá dentro da Terra Indígena (TI) Panambi-Lagoa Rica. A área de 12,1 mil hectares já foi identificada e delimitada pela Funai em 2011, mas o processo demarcatório está estagnado desde então.    

Vinculada ao Ministério da Justiça (MJ) e com a atuação criticada pelos indígenas, a Força Nacional delimitou um espaço para cada um dos dois grupos que acampam na área sobre a qual está a fazenda do agropecuarista Cleto Spessato. De um lado, os povos originários na retomada Yvy Ajere. De outro, os ruralistas armados, que contam com o apoio dos deputados federais ligados à bancada do agronegócio.

No início da noite de domingo, 4 de agosto, fazendeiros avançaram com fogo, trator, rojão e tiros, a despeito da presença da Força Nacional, contra a retomada Yvy Ajere.  Segundo relatório do Conselho Missionário Indígena (CIMI), "os agentes se mantiveram atrás da linha de ataque dos jagunços sem esboçar qualquer reação para impedir as agressões". Cenas que, se mostradas em rede nacional pela tevê comercial patrocinada, lembrariam ataques contra palestinos na faixa de Gaza. Mas esse massacre aos povos indígenas continua restrito à cobertura de uma pequena parcela da imprensa independente e a pedidos de socorro das próprias vítimas. 

 

 

 

 


quinta-feira, 4 de abril de 2024

Povos Guarani Kaiowá e Krenak recebem reparação inédita por crimes cometidos pela ditadura militar

 


Em decisão histórica, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), a Comissão de Anistia, vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos, concedeu nesta terça, 2 de abril, a primeira reparação coletiva a indígenas. Com a anistia política, a União deve reconhecer e reparar, por meio de órgãos como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério da Saúde, violações a direitos humanos causados pela ditadura militar aos povos indígenas Guyraroká (Guarani Kaiowá), de Mato Grosso do Sul, e Krenak, de Minas Gerais.


Os pedidos de anistia aos povos originários foram apresentados pelo MPF em 2015. Nos documentos, o órgão apontou que, durante a ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985, as comunidades indígenas sofreram os mais diversos tipos de violações. No caso dos Guarani Kaiowá, políticas federais de povoamento do país levaram agentes estatais a promover traslados compulsórios dos indígenas, provocando mortes e desintegração dos modos de vida da comunidade. Os indígenas foram retirados das vastas áreas que ocupavam e confinados em espaços exíguos, definidos unilateralmente pelo poder público. As terras anteriormente ocupadas por eles foram liberadas à ocupação de terceiros, que tiveram a posse dos terrenos legitimada por títulos de propriedade. O afastamento violento de seus territórios impossibilitou o exercício de suas atividades econômicas, relacionadas principalmente à agricultura.


Os Krenak foram expulsos de seu território, presos e torturados, além de serem submetidos a maus-tratos e ao trabalho forçado pelo poder público. Entre as principais atrocidades estão a criação da Guarda Rural Indígena, a instalação de um presídio chamado de Reformatório Krenak, e o deslocamento forçado para a fazenda Guarani, no município de Carmésia (MG), que também funcionou como centro de detenção arbitrária de indígenas.


De acordo com o MPF, essas violações colocaram em risco a existência desses povos. "A perda do território tradicional teve impactos gravíssimos sobre os indígenas, colocando em risco a própria existência desses povos, inclusive diante da importância do território, do qual foram removidos compulsoriamente, para sua reprodução física e cultural", defendeu o MPF.


Os dois pedidos de anistia haviam sido rejeitados em 2022, pela anterior composição da Comissão de Anistia, no governo passado, mas foram analisados novamente após recursos apresentados pelo MPF. Com as novas decisões, as reivindicações indicadas pelos povos indígenas como medidas reparadoras da violência a que foram submetidos durante o regime militar foram integralmente acatadas.

Medidas de reparação

Em relação aos Krenak, parte das reivindicações aprovadas pela Comissão de Anistia foram apresentadas ao MPF em reunião realizada dia 1º de abril, na sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília. Além de reconhecer a condição de anistiados políticos, os indígenas pediram à Comissão que recomende ao Estado brasileiro a criação de programas de assistência psicológica continuada, bem como de iniciativas voltadas à cultura, incentivando práticas tradicionais no território.


Outra reivindicação apresentada foi a criação de um grupo de trabalho para discussão e formulação de proposta de lei que inclua os povos indígenas como destinatários das reparações econômicas, sociais e culturais referentes ao período da ditadura militar no Brasil. Os indígenas também pediram à Comissão que recomende à Funai a conclusão da demarcação do território tradicional de Sete Salões, considerado sagrado para o povo Krenak, e que o órgão reveja o seu posicionamento em ação civil pública na qual pediu a suspensão do processo de demarcação e titulação do território tradicional. Em 2021, ao julgar procedente ação civil pública ajuizada pelo MPF, a Justiça Federal determinou que a Funai concluísse o processo em 6 meses, mas a Funai recorreu da sentença.


“O povo foi expulso do território, aprisionado, feito de cobaia aos macabros experimentos da ditadura. Para que não exista uma repetição do passado, deve-se estabelecer obrigações”, apontam os indígenas no documento entregue ao MPF, que também foi lido na sessão da Comissão de Anistia.

Anistia aos Guyraroká 

Representante do MPF no julgamento do pedido de anistia ao povo Guarani Kaiowá, o procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida destacou diversos casos de remoções forçadas vivenciadas pela etnia. “Nós, sistematicamente, violamos os direitos dessas populações. É necessário que a memória e a verdade saiam desse subterrâneo do Estado brasileiro, para que possamos promover a devida reparação aos povos indígenas”, ressaltou.


Ainda durante o julgamento, o procurador da República Edmundo Antonio Dias, responsável pelo pedido de anistia coletiva do povo indígena Krenak, apresentou também a reivindicação de que seja concluída a implantação do Memorial da Anistia Política do Brasil, em Belo Horizonte (MG). A proposta é que o espaço tenha uma seção que trate exclusivamente das atrocidades massivas cometidas contra os indígenas.

“O Memorial da Anistia Política do Brasil é um compromisso assumido pelo Brasil perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que foi valorada positivamente pela Corte na sentença proferida no Caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia). A criação de uma seção destinada exclusivamente às graves violações cometidas contra os povos indígenas – que resultaram, segundo estimativa da Comissão Nacional da Verdade (CNV), em pelo menos 8.350 mortes – constitui medida essencial no eixo da Memória e Verdade”, afirmou Dias.

Notícia publicada em: https://www.mpf.mp.br/ms/sala-de-imprensa/noticias-ms/a-pedido-do-mpf-povos-guarani-kaiowa-de-ms-recebem-anistia-coletiva-inedita-por-danos-causados-pela-ditadura-militar


Fonte: Assessoria de Comunicação Social do MPF em Mato Grosso do Sul www.mpf.mp.br/ms

Foto: Ministério da Justiça e Segurança Pública/Arquivo Nacional/Memórias Reveladas (Confinamento de indígenas Krenak durante a ditadura militar)


quinta-feira, 28 de março de 2024

Caos na BR-262: fuja dos congestionamentos gigantes

Fila de mais de 2 km antes da ponte na BR-262 (Navepress|28/03/24)

Aviso aos condutores: quem pegar a BR-262 no sentido Corumbá-Campo Grande está sujeito a uma espera de uma, duas ou até três horas na ponte sobre o rio Paraguai, que continua em reparos. Eu já havia postado neste blog detalhes sobre um iminente colapso na BR-262, que teve a situação agravada com a interdição da ponte sobre o rio Paraguai. Dois meses se passaram e o problema só se agrava, para desespero dos usuários que pagam pesados impostos mas não veem retorno em bons serviços na malha rodoviária. O tráfego de veículos na BR-262 funciona no sistema Pare e Siga, em pista única, e isso está acarretando congestionamentos gigantes, principalmente em horários de pico, quando grande parte das carretas levando minério tomam a rodovia em direção à capital e dali para outras cidades fora do Estado. Uma fila enorme, de mais de dois quilômetros, voltou a se formar nesta quinta-feira, 28 de março, véspera do feriado, penalizando a todos os que rumavam para a capital. Muitos desistiram da viagem e deram meia volta. Outros tantos aguardaram a longa espera na fila que começou a se formar por volta das 14h30. “Isso vem ocorrendo há três meses, é imprevisível, e a espera pode ser de uma a quatro horas”, contou um caminhoneiro brasileiro, que trazia uma carga de amônia da Bolívia e seguia em direção a São Paulo. Portanto, para quem pretende pegar a BR-262 e não passar longas horas parado na estrada, é bom ficar atento e consultar a PRF com antecedência para saber como está o fluxo de veículos. Do contrário, vai ficar sem qualquer informação e pode entrar numa fria. Está claro que existe uma crise de tráfego ocasionada pela multiplicação da frota de carretas e bitrens responsáveis pelo transporte de minério pela estrada e pela ponte, que não suportam tamanho volume de peso e da trepidação. No trecho até o início da ponte, em direção à capital, há buracos por toda a pista. E a ponte passa por reparos de concretagem após serem constatadas fissuras. Como saída, a balsa para transporte de veículos chegou a funcionar durante três dias, mas parou, e continua sendo uma opção para evitar um colapso que seria a interdição total da ponte. Pegar a estrada durante a madrugada é sempre uma alternativa perigosa devido aos acidentes com animais. Outra saída seria disciplinar e organizar os horários das saídas das carretas.

EM TEMPO: A má notícia é que nesta primeira semana de abril de 2024 a concessionária da malha ferroviária Bauru-Corumbá comunicou a inviabilidade de reforma dos trilhos e retomada dos serviços diante do alto custo do investimento, certa de R$ 18 bilhões. Diante disso o governo do Estado de Mato Grosso do Sul prontamente iniciou parceria com o de São Paulo em um projeto que visa escoar a produção por meio de uma ligação ferroviária de Três Lagoas a Aparecida de Taboado, para acesso a São Paulo e porto de Santos. Resumindo: Corumbá fica mais uma vez fora de projeto ferroviário e, sendo assim, cada ano que passa mais isolada. Um dos preços desse isolamento é que nossos jovens estão indo embora.

 


sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

O tráfego insustentável de carretas na BR-262: colapso anunciado


Congestionamento na chegada a Corumbá: muitas carretas para pouca estrada (Navepress, 25/01/24

Nelson Urt/Navepress

E inevitável conversar sobre os tempos antigos sem sentir uma ponta de nostalgia e lembrar das viagens demoradas mas imperturbáveis do Trem do Pantanal, mesmo com a travessia da balsa. Agora, viajar pela a rodovia BR-262 no trecho entre a ponte sobre o rio Paraguai e a entrada para as mineradoras é correr riscos em uma pista perigosa e precária, interdições, congestionamentos de carretas e, em breve, até a uma paralisação total.

Minha viagem Campo Grande-Corumbá nesta quinta, 25 de janeiro, durou 1 hora e meia a mais do que o previsto. Devia chegar às 18h mas só conclui a viagem às 19h30 após ficar retido na rodovia BR-262 em uma fila de mais de 2 quilômetros, entre carretas, ônibus e carros de passeio, na entrada do distrito Maria Coelho. Os bitrens que não conseguiam acesso à entrada das minas do Urucum bloquearam a pista no sentido a Corumbá e provocaram um engarrafamento gigante, que para nossa sorte não se prolongou por muito mais tempo: a noite caia no Pantanal e os mosquitos estavam avançando.

Este, porém, é apenas um detalhe nos problemas provocados pelo super tráfego de carretas que podem se tornar frequentes e levar o transporte rodoviário de Corumbá a um colapso nesta temporada de férias e de Carnaval, quando muitos turistas estão sendo aguardados na cidade e outros milhares de corumbaenses, ladarenses e bolivianos retornam de férias.

O trecho de 50 km entre a ponte sobre o rio Paraguai e o posto Lampião Aceso da PRF continua bastante castigado, com ondulações, buracos e deformações, em um trajeto inseguro e perigoso, que requer atenção redobrada e redução de velocidade. Recentemente, parlamentares alertaram que as operações tapa buracos não são mais suficientes naquele trecho da entrada construída nos anos 80 e que agora carece de uma revitalização completa para se adaptar à nova realidade.

Mais ou menos 200 caminhões bitrens cruzam diariamente esse trecho da estrada levando em média 50 toneladas de minério em direção ao porto de Santos. São mais de 10 mil toneladas de minérios transportadas diariamente pela estrada, cada vez mais castigada pelo sobrepeso, mesmo em trechos em que receberam recapeamento completo.

E incrível como a ponte sobre o rio Paraguai trepida e balança quando passa uma carreta bitrem. Pude sentir pessoalmente essa trepidação enquanto aguardava com meu carro, sobre a ponte, a passagem de outros veículos, já que estrutura de concreto passa por reparos e também tem interdições. Com o tráfego pesado das carretas da mineração, o concreto da ponte não iria resistir por muito tempo. E para fevereiro, conforme anunciou a Agesul (Agencia de Gestão de Empreendimentos em Mato Grosso do Sul), devem ocorrer interdições totais em espaços de 24h, 48h e até 72 horas, o que exigirá o bloqueio total das duas pistas da BR 262. A Agesul não determinou as datas, que devem ser marcadas, provavelmente, após o Carnaval.

Neste caso de interdição total, os veículos de passeio terão como única opção a Estrada Parque (de terra) e a balsa para a travessia dos veículos no Porto Morrinho, sistema que foi utilizado até 2001, antes da construção da ponte. Só que as balsas não vão comportar as carretas da mineração e nesse período as mineradoras terão de suspender o transporte rodoviário de minério e se concentrarem no transporte hidroviário pelos três portos em funcionamento: Granel Química, Gregório Curvo e Porto Correa (este último reativado em 2023 pela Vetorial). Boa oportunidade para governantes, empresários e parlamentares voltarem a discutir sobre a revitalização da malha ferroviária, abandonada.