terça-feira, 25 de agosto de 2015

Fotojornalismo em alta no Festival América do Sul

Homem pantaneiro (foto reprodução: Roberto Higa)

Clóvis Neto, Roberto Higa e Anderson Gallo no FASP

O fotojornalismo marcou um ponto importante no Festival América do Sul Pantanal. A exposição Minha Terra Querida, no Sesc Corumbá, deu visibilidade a profissionais de qualidade e novos talentos, mostrando que Mato Grosso do Sul está bem servido e com enorme potencial pela frente. O veterano Roberto Higa foi a referência da mostra com imagens sensacionais, comprovando seu status de mestre de uma nova geração de fotojornalistas corumbaenses, como Anderson Gallo, do Diário Corumbaense, Clóvis Neto e Kleverton Velasques, da Assesssoria de Comunicação da Prefeitura de Corumbá. A exposição também abriu espaço para novos talentos das imagens digitais como Hildyanne Teixeira, acadêmica de Ciências Sociais da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), e Ricardo Albertoni, repórter-fotográfico e designer do Diário Corumbaense. Outras imagens emblemáticas marcaram a 12ª edição do FASP, como a surpreendente manifestação promovida por professores da UFMS, em greve há 75 dias, no meio do público que aguardava o show de Almir Sater na praça Generoso Ponce.    
   
Cais do Porto (Foto: Hildyanne Teixeira)
Greve dos Professores da UFMS (Foto:Ag.Navepress)
Lida no Pantanal (Foto: Anderson Gallo)


domingo, 23 de agosto de 2015

O festival dos grafiteiros, historiadores e poetas

Grafiteiros em ação nos muros da Ladeira Cunha e Cruz 
O Festival América do Sul 2015 cortou gastos, mas abriu alguns espaços inéditos e deixou uma marca visível nos muros da Ladeira Cunha e Cruz, onde os grafiteiros gravaram mensagens que vão permanecer por décadas, até que sejam borradas pelo vento e pela chuva. Quase sempre confundidos com pichadores, os grafiteiros eram considerados vadios, rebeldes sem causa, escórias da sociedade, mas pouco a pouco vão ganhando respeito como artistas e protagonistas da história cultural. O Coletivo Viva a Rua, de Campo Grande, integrou a programação do festival e montou no Porto Geral uma oficina de grafitagem, skate e rap. Um dos representantes de Corumbá foi o professor de desenho em grafite Helker Hernani, que dá aulas aos sábados em seu ateliê na rua 13 de Junho com Antônio Maria. Hoje ele para pouco na cidade, passa a maior parte do tempo viajando para apresentar seu trabalho em outras cidades do Estado. Os grafiteiros são exemplos de que o festival foi feito para celebrar e respeitar a diversidade cultural. Os escritores também encontram no festival um canal para lançarem livros e divulgarem seu trabalho, como no caso da historiadora corumbaense Maria do Carmo Brazil, destaque no Quebra-torno com Letras no Moinho Cultural. Lá ela voltou a falar sobre o livro lançado neste ano, Rio Paraguai, o Mar Interno Brasileiro. Professora doutora da Universidade Federal da Grande Dourados, ela é ex-aluna do Colégio Estadual Maria Leite. O Quebra-torno ainda trouxe como novidade a escritora e professora douradense Patrícia Pirota, autora do livro “Seu Moço” e defensora das redes sociais como forma de propagação da literatura. De tanto divulgar seus poemas no youbube, ela chamou a atenção da editora portuguesa Chiado, que decidiu publicar seu livro. Não ficou rica, continua a dar aulas na rede pública de Campo Grande, mas fez da poesia seu maior encanto e riqueza. E como declamou o poeta Emmanuel Marinho durante sua apresentação no palco da praça Generoso Ponce, “poesia não compra sapato, mas como andar sem poesia?”
Historiadora Maria do Carmo Brazil

Poeta Emmanuel Marinho




quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Enfim, indígenas no Festival América do Sul

Benilda Kadiwéu e Catarina Guató na abertura do Festival
Nesta quente e seca noite de inverno em Corumbá, o que mais me chamou a atenção na abertura do 12º Festival América do Sul foi o estande das Nações Indígenas. Isso mesmo, indígenas. Doze anos depois, os povos nativos, nossos ancestrais, ganham espaço para mostrar seu artesanato e para falar um pouco de si, de suas lutas e identidade. Foram necessários doze anos para que se reparasse uma enorme falha na estrutura do festival que tem como objetivo integrar os povos latino-americanos. Conversei longamente com Catarina Guató e Benilda Kadiwéu no estande. Outras indígenas representavam as etnias ofaié e terena. Ainda é pouco, se levarmos em conta que Mato Grosso do Sul possui a segunda maior concentração de nações indígenas do País – só perde do Amazonas – e que aqui vivem oito etnias, 75 mil nativos. Mas foi dado o primeiro e significativo passo. Questão de coerência e justiça. Em um Estado movido pelo agronegócio, com grande concentração de terras nas mãos dos pecuaristas, o fortalecimento dos movimentos indígenas é sempre visto com apreensão e desagrado. Ninguém quer perder um palmo de terra sequer. Os pecuaristas culpam a Constituição Cidadã de 1998, que reconheceu o direito de indígenas reivindicarem territórios de origem. Graduada na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), Benilda Kadiwéu integra a Subsecretaria de Políticas Indígenas, recentemente criada pelo governo estadual. “Para defender nossos direitos, colocamos duas representantes na Delegacia da Mulher de Campo Grande”, conta. Já a artesã Catarina Guató simboliza a luta e o reconhecimento da etnia guató, que chegou a ser considerada extinta mas recuperou suas terras na ilha de Insua, 230 km ao norte do Pantanal de Corumbá. No estande, Catarina expunha e vendia bolsas e tapetes feitos com palha de aguapé, o legítimo artesanato guató. Mesmo após 500 anos de contato com os colonizadores europeus, o Brasil possui 242 povos indígenas, 890 mil nativos sobrevinentes no País. Jamais se pode falar em América do Sul sem eles, os verdadeiros donos desta terra.






SAMBA, CHURRASCO E RAÍZES - A abertura do Festival América do Sul também recebeu as passistas da Escola de Samba Igrejinha, de Campo Grande; a costela assada pelo churrasqueiro paranaense Ricardo Alkeman e a música de raízes do grupo Acaba.
(Fotos Agência Navepress)



quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Ladário integra gente no coração da América

Feira de Ladário, 12 de agosto de 2015
Perto de mais um aniversário de Ladário, que completa 237 anos em 2 de setembro, voltei a percorrer um dos recantos mais visitados da nossa pequena notável cidade de 21 mil habitantes no coração da América: a feira livre. Nesse emblemático espaço em forma de cruz, que tem o Cristo Redentor como mirante ao sul e o encantador Pantanal ao norte, você fica sem saber quem é brasileiro e quem é boliviano. Mistura de etnias e culturas. E o que importa? O essencial é que vivem fraternalmente, felizes e em paz – atributos, aliás, cada vez mais raros em outros tantos territórios do planeta, onde guerras e miséria castigam corpos, corações e mentes. Percorro a feira e vejo o menino de olhar doce que fabrica um aviãozinho de papel. Ao lado, a corumbaense Rosa, aniversariante do dia, distribui sorrisos enquanto vende couve, rúcula, agrião e almeirão. Seu Chico espreme a cana na engrenagem e oferece a garapa fresquinha e gelada. Chiquinho vende leite caipira, queijo e mandioca, “produtos do Taquari”. Pequenos produtores dos assentamentos dividem espaço com bolivianos. Conversar com os hermanos bolivianos é como fazer uma viagem pela América do Sul: muitos deles vieram de La Paz, Oruro, Cochabamba, cidades ao pé da cordilheira dos Andes, nas alturas, onde o ar é tão rarefeito que pode causar desmaios nos visitantes. Aqui embaixo, readaptados, eles vivem como brasileiros, mas não perdem os traços típicos – as mulheres, conhecidas como “cholas”, vestem seus saiotes rodados, usam cabelos longos com tranças até a cintura, mantém os filhos sempre por perto, almoçam por volta das 10h o cozido de frango com legumes. Enquanto saboreio um fumegante pastel de carne à mesa debaixo de uma frondosa castanheira, penso e reflito que é exatamente este o verdadeiro espírito de integração dos povos do continente proposto quando criaram o Tratado de Roboré, nos anos 50, tornando livre o comércio na nossa fronteira com a Bolívia, mas nunca colocado em prática – os bolivianos são criminalizados por trazer produtos de Puerto Quijarro para vender em Ladário e Corumbá. E muito tempo depois criaram o Festival América do Sul, na tentativa de fundir a cultura sul-americana num só evento, mas que ainda hoje oferece espaço reduzido aos nossos vizinhos latinos. Não acredito que isso ocorra por falta de verbas, vontade política ou partidarismo, mas por puro eurocentrismo, interesses econômicos e negligência histórica. Enfim, resta-nos erguer um brinde a Ladário e um saludo à nossa América do Sul!

Fotos: Marilene Rodrigues







sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Bolívia mostra sua cara nas ruas de Corumbá

Na Morenada, raízes da Bolívia em Corumbá
Entre legalizados, com credencial temporária ou clandestinos, eles já são mais que 2 mil em Corumbá e Ladário. E, acreditem, nesses tempos de crise verde-amarela, estão salvando o nosso comércio. Com a valorização do peso boliviano e a alta do dólar, saíram da condição de meros vendedores para se tornarem também fortes compradores em Corumbá - isso para desespero de preconceituosos e xenofóbicos, que sempre viram nos bolivianos um povo pobre, sujo e analfabeto. Enganam-se os que pensam assim. Eles são politizados, trabalhadores dedicados e respeitadores. Nômades por natureza - como eram seus ancestrais nativos da América - migram com facilidade e estão presentes em vários países do mundo. Em Corumbá, segundo dados colhidos pela Polícia Federal, vivem 451 bolivianos legalizados, que se forem somados àqueles com credencial temporária chegam a 1300. Incluindo nessa conta os clandestinos, são mais de 2 mil. Em escolas municipais como o Caic (Centro de Assistência Integral à Criança Padre Ernesto Sassida), a unidade mais perto da fronteira, os bolivianos já representam quase um terço de todo o contingente de 400 alunos. De acordo com o agente consular boliviano Oscar Cuellar, a comunidade estudantil da Bolívia em Corumbá chega a 700 alunos. E nas feiras livres eles vendem de tudo, de verduras a eletrônicos, e são maioria. Outro engano foi imaginar que com o fechamento da Feira Brasbol (Brasil-Bolívia) a Prefeitura afugentaria os bolivianos do comércio. Não, eles se dispersaram, montaram suas tendas nas feiras livres e alugaram pequenos pontos comerciais espalhados pela cidade. Esse é fenômeno Bolívia em Corumbá, onde o idioma é cada vez mais castelhano e os carrões importados asiáticos invadem ruas e avenidas. A cara da Bolívia estava viva durante as comemorações dos 190 anos da Independência do país vizinho neste 6 de agosto de 2015, quando a dança de raízes Morenada apresentou um show de cores, beleza e simpatia nas ruas de Corumbá, em mais uma demonstração de amizade e integração de um povo que é feliz à sua maneia, sem luxo e ostentação. E assim caminha nossa América que um dia já teve mais de 10 milhões de pessoas de centenas de nações originárias nativas, cada vez mais dando lições de humildade ao Brasil e aos brasileiros. 
Fotos: Marilene Rodrigues.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A bomba atômica ainda queima nossa pele

Corumbá, capital do Pantanal de Mato Grosso do Sul (Agência Navepress)
As bombas atômicas caíram sobre Hiroshima a 6 de agosto de 1945 e três dias depois em Nagasaki, há 70 anos, mas seus efeitos ainda queimam a nossa pele até os dias de hoje. São efeitos devastadores, que corrompem sobretudo a nossa alma, a nossa liberdade, o nosso direito de viver em um mundo de paz. O fim da segunda guerra mundial marcou o avanço da indústria eletrônica e química, e do capitalismo. A primeira bomba matou 140 mil pessoas e a segunda 75 mil pessoas de uma só vez, mas continua matando paulatinamente ao longo dessas sete décadas. Os meios de produção massificada, sob o pretexto de matar a fome do mundo, nos enfiam goela abaixo alimentos nocivos para a saúde, com conservantes, corantes, transgênicos, agrotóxicos. O fim daquela guerra não significou, em nenhum momento, a garantia da paz e o fim de outras guerras. Muito pelo contrário, entorpecido pelos meios tecnológicos, com os olhos hipnotizados no conteúdo duvidoso das redes sociais, o cidadão do século 21 virou escravo da sociedade de consumo e mal tem tempo de enxergar que mais de 40 guerras estão em andamento em todo o planeta. Se em 1945 os japoneses foram escolhidos como alvo para a demonstração de força do império capitalista que começava a dominar o mundo, hoje são os africanos que padecem dos males desencadeados pela cobiça dos que matam em nome do lucro e do poder econômico, pagam o preço por possuírem recursos minerais essenciais para a indústria eletrônica que montam nossos celulares, nossos notebooks, nossos tablets e smartphones. O conflito no leste do Congo é o que mais matou desde a Segunda Guerra Mundial, além de ser gerador da exploração do trabalho infantil e estupros coletivos. Há uma outra guerra, desta vez no trânsito, que só no Brasil mata cerca de 40 mil pessoas por ano em acidentes com veículos automotores. Há uma indústria da doença, que provoca uma bola de neve e faz com que as pessoas fiquem eternamente dependentes dos medicamentos, que alimentem as empresas farmacêuticas, enquanto estranhamente para males como o câncer nossos super-cientistas ainda não tenham encontrado uma cura. No mundo do fantástico avanço tecnológico, o ser humano morre com uma picada de mosquito, porque a alimentação de baixa qualidade, entulhada de toxinas, deixa o nosso sistema imunológico cada vez mais baixo. Infelizmente, estamos perdendo essa guerra porque ainda nos iludimos com as aparências, mas ainda podemos caminhar para um mundo de paz e liberdade desde que reconheçamos nosso fracasso. O fracasso de um sistema que nos levou ao sedentarismo, que nos mantém escravos do consumo e reféns das doenças. É hora de abrir os olhos e a consciência, serenar o coração e dizer não para tudo o que nos engana, não para tudo o que nos aflige e nos aniquila. É tempo de ler, discutir, refletir, entender, debater, nunca aceitar a primeira versão, investigar, saber distinguir o que é notícia do que é invenção, enfim, ser um cidadão de fato e de direito. Que cada um faça sua própria revolução, para o bem coletivo.