Feira de Ladário, 12 de agosto de 2015 |
Perto de mais um aniversário de
Ladário, que completa 237 anos em 2 de setembro, voltei a percorrer um dos
recantos mais visitados da nossa pequena notável cidade de 21 mil habitantes no
coração da América: a feira livre. Nesse emblemático espaço em forma de cruz,
que tem o Cristo Redentor como mirante ao sul e o encantador Pantanal ao norte,
você fica sem saber quem é brasileiro e quem é boliviano. Mistura de etnias e
culturas. E o que importa? O essencial é que vivem fraternalmente, felizes e em
paz – atributos, aliás, cada vez mais raros em outros tantos territórios do
planeta, onde guerras e miséria castigam corpos, corações e mentes. Percorro a
feira e vejo o menino de olhar doce que fabrica um aviãozinho de papel. Ao
lado, a corumbaense Rosa, aniversariante do dia, distribui sorrisos enquanto
vende couve, rúcula, agrião e almeirão. Seu Chico espreme a cana na engrenagem
e oferece a garapa fresquinha e gelada. Chiquinho vende leite caipira, queijo e
mandioca, “produtos do Taquari”. Pequenos produtores dos assentamentos dividem
espaço com bolivianos. Conversar com os hermanos bolivianos é como fazer uma
viagem pela América do Sul: muitos deles vieram de La Paz, Oruro, Cochabamba,
cidades ao pé da cordilheira dos Andes, nas alturas, onde o ar é tão rarefeito
que pode causar desmaios nos visitantes. Aqui embaixo, readaptados, eles vivem
como brasileiros, mas não perdem os traços típicos – as mulheres, conhecidas
como “cholas”, vestem seus saiotes rodados, usam cabelos longos com tranças até
a cintura, mantém os filhos sempre por perto, almoçam por volta das 10h o
cozido de frango com legumes. Enquanto saboreio um fumegante pastel de carne à
mesa debaixo de uma frondosa castanheira, penso e reflito que é exatamente este
o verdadeiro espírito de integração dos povos do continente proposto quando
criaram o Tratado de Roboré, nos anos 50, tornando livre o comércio na nossa
fronteira com a Bolívia, mas nunca colocado em prática – os bolivianos são criminalizados por trazer produtos de Puerto Quijarro para vender em
Ladário e Corumbá. E muito tempo depois criaram o Festival América do Sul, na
tentativa de fundir a cultura sul-americana num só evento, mas que ainda hoje oferece
espaço reduzido aos nossos vizinhos latinos. Não acredito que isso ocorra por
falta de verbas, vontade política ou partidarismo, mas por puro eurocentrismo, interesses
econômicos e negligência histórica. Enfim, resta-nos erguer um brinde a Ladário
e um saludo à nossa América do Sul!
Fotos: Marilene Rodrigues
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