Há décadas o Carnaval de
Corumbá não reunia tantas escolas com potencial para conquistar o título, e
quem ganha é o público, que esperou pacientemente durante seis horas para ver
todas elas passarem pela avenida. No desfile encerrado às 3h25 da madrugada
desta terça-feira, A Pesada, Império do Morro, Mocidade Independente da Nova
Corumbá e Vila Mamona mostraram que estão separadas apenas por um fio nas mãos
dos jurados, que escolherão uma campeã. Como se os deuses do Carnaval assim
quisessem, a chuva só começou a cair depois que as últimas alas da Vila Mamona
cruzaram a avenida. Coincidentemente, o tema da Vila, que reverenciava as lutas
da mulher negra, também evocava deuses das religiões africanas. Orixás femininos como Oxum, a deusa da beleza, da fertilidade e maternidade, apareceram nas
fantasias das baianas. Ou no carro que reproduziu a casa de madeira da
umbandista Cacilda, famosas por seus passes e consultas espirituais até os anos
70 em Corumbá. No camarote da imprensa, disseram-me que o tema da Vila Mamona
não havia sido bem recebido por relacionar a mulher negra à umbanda e
candomblé, mas vejo que, pelo contrário, esta é a verdadeira história que
precisa ser contada à nova geração para eliminar de vez o preconceito contra as
religiões de origem africana, trazida e mantida por negros que viraram escravos. Lembrar
Cacilda e as filas que se formavam em frente à sua modesta casa em busca de um
passe é resgatar a história da religiosidade corumbaense. É explicar porque
hoje a maioria dos festeiros de São João e São Pedro é dona de terreiros de
umbanda e candomblé. Pode ser uma questão de raízes familiares ou de simples
escolha, não importa, é um caminho de espiritualidade que deve ser respeitado. É senso comum ir para a avenida com temas politicamente corretos, mas o difícil é lançar
uma provocação, um debate, uma nova proposta, e reconstruir uma história
perdida e mal interpretada. E o Carnaval é palco para a arte de criar, pensar,
renovar. Parabéns à Vila Mamona pela coragem e pela volta, por cima, para o
Grupo Especial.
É isso mesmo tio....quebrando preconceitos e rompendo barreiras, a Vila renasce para o carnaval....devagar, solidamente! Linda minha Vila! Obrigada pelas palavras...somos todos negros e a espiritualidade é apenas um detalhe! Parabéns!
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