O desastre ambiental do rio Taquari, há quatro décadas, arruinou a vida
de centenas de pantaneiros, mas não fosse por isso a menina Márcia Raquel Rolon
não teria se mudado com a família para a cidade. Na bagagem, trouxe seus
sonhos. Em Corumbá, iniciou os primeiros passos na dança na academia dirigida
pela mãe, a bailarina Sônia Ruas. Formou-se em Educação Física na UFMS e criou
Escola de Artes Moinho Cultural, projeto arrojado que no começo reunia 180
crianças e adolescentes, moradores dos bairros pobres da região portuária
corumbaense e das cidades bolivianas da fronteira. Hoje com quase 400 alunos, o
Instituto Moinho Cultural Sul-Americano traduz grande parte dos sonhos da
ex-bailarina pantaneira, como centro de formação na dança, na música, na
tecnologia e na cidadania. E após dez anos de atividades, tornou-se referência
cultural de Mato Grosso do Sul, integrando a rede do programa Criança
Esperança. Em 2010 Márcia Rolon ganhou reconhecimento nacional ao tornar-se
finalista do Prêmio Empreendedor Social, da Folha de S.Paulo, e dois anos
depois elegeu-se vice-prefeita de Corumbá, cargo agregado com o de
diretora-presidente da Fundação de Cultura. O avanço de Corumbá como polo
cultural, porém, não contenta Márcia. “Não basta ter o Moinho, o melhor
Carnaval, o Banho do São João, se não houver integração com os outros
municípios”, afirma. “Nosso Estado é diferenciado, é único, e precisa
fortalecer sua cultura, entrelaçar suas rotas culturais”. Leia a entrevista
completa na edição do jornal O Estado no link https://oestadoms.websiteseguro.com/flip/20-12-2014/20.pdf
e no canal Reportagens deste blog.
domingo, 21 de dezembro de 2014
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
Mulheres: de Atenas a Corumbá
As mulheres estão na linha de frente da política
nacional. No Brasil, Dilma, Marina e Luciana Genro protagonizaram os mais
brilhantes momentos do último debate de candidatos pela Rede Globo, ora se
defendendo, ora dando cutucadas desconcertantes no neoliberal Aécio e no direitista
Fidelix. Deram um banho de democracia como legítimas representantes das conquistas dos movimentos sociais iniciados nos anos 70 pelas causas feministas, de gênero, sexo e religião. A luta delas é antiga e marcada por sangue, suor e lágrimas em todo o mundo. São famosas as Mães da Praça de
Maio clamando por justiça e pelo retorno dos filhos desaparecidos durante a ditadura militar
na Argentina. Inspiraram "La História Oficial', filme estrangeiro vencedor do Oscar, e até hoje, 50 anos
após o fim da ditadura, "las madres" circulam a Praça de Maio, em Buenos Aires, com as cabeças cobertas por seus
lenços brancos, que se tornaram símbolos do movimento. Na Grécia antiga, a peça
teatral Lisístrata, encenada em 411 antes de Cristo, retratava a “greve do sexo”
decretada pelas mulheres de Atenas como forma de acabar com a guerra entre
Atenas e Esparta e manter seus maridos mais tempo perto delas. Peça que inspiraria Chico
Buarque a compor “Mulheres de Atenas” dois milênios depois: “mirem-se
no exemplo, daquelas mulheres de Atenas; geram por seus maridos, os novos filhos de Atenas”. Em Corumbá, neste Outubro Rosa, mulheres de atitude e
responsabilidade social cobrem as cabeças com lenços em solidariedade à luta
pela preservação e orientação contra o câncer, que decepa lares tanto quanto as
guerras. Lenços cobrem as cabeças mas desvendam o desejo e a consciência delas pela necessidade de um sistema de saúde justo, acessível
e igual para todos. Entre elas estavam as integrantes do Conselho Municipal
dos Direitos da Mulher e da Gerência de Articulação de Políticas Públicas para
a Mulher (na imagem da Agência Navepress), que iniciam a formação de um fórum e de um Plano Municipal das Mulheres em
Corumbá.
terça-feira, 9 de setembro de 2014
Matanza e Filho dos Livres agitam madrugada do Casario Rock
Em turnê por Mato Grosso do Sul, a banda Matanza chegou nas terras pantaneiras para a alegria dos fãs do Country-Hardcore.Em um show de uma hora e meia, o vocalista Jimmy foi a estrela da noite, muito bem assessorado pela guitarra rápida de Maurício Nogueira, e pela cozinha composta pelo baixista China e o baterista Jonas. A banda misturou antigos sucessos desde “Santa Madre Cassino” com as mais recentes do disco “Thunder Dope”, ainda inserindo seus populares covers do heavy metal mundial, chegando ao ápice com “Wrathchild” dos deuses do heavy metal britânico Iron Maiden, que levou o público para uma roda punk que só se desfez quando os cariocas deixaram o palco. Embora divertidas, as rodas punks são perigosas e a segurança do local ficou um tanto quanto carente, com alguns fãs chegando a subir em cima do palco sem intervenção.. De todo modo, o feeling “rock'n'roll” foi o que não faltou no Casario Rock, e o Matanza deixou aquela sensação de dever cumprido com a plateia visivelmente estupefata por tanta energia. Para concluir a noite vieram as outras bandas mais novas no cenário musical: os jovens do Asaf e do Osmailow com seus covers e rock alternativo, Eternal Destruction em um trash metal underground naquela face mais old do metal, e os bolivianos Los Salmones, com um indie rock divertido, que fecharam bem a noite memorável no Moinho Cultural. O evento, a cada ano mais maduro, demonstrou que investir em estilos além dos populares pelas bandas se tornou um negócio promissor em Corumbá, que aguarda para 2015 uma dose tão ardente como a de sábado, com uma certeza: Matanza é garantia de ressaca e torcicolo na manhã seguinte. Leia mais no canal Reportagens deste blog. E na edição eletrônica do jornal O Estado você confere outros detalhes no link: https://oestadoms.websiteseguro.com/flip/09-09-2014/22.pdf
domingo, 31 de agosto de 2014
Delinha, tango e rasqueado em Corumbá
Costumo dizer aos amigos que “a sexta-feira é minha”, um jargão que
criei nos tempos em que varava as madrugadas de São Paulo percorrendo os cinemas, os teatros, casas de shows e as mesas de sinuca das ruas Augusta e Major Quedinho. Nesta sexta quente de Corumbá, não tive tantas opções como na noite paulistana, mas recebi a benção de
ver de bem perto um show de Delinha, a rainha do rasqueado de Mato Grosso do
Sul. Mais que isto, tive o privilégio de conversar com ela durante quase uma hora no
camarim, enquanto aguardávamos o início do show na Noite da Seresta, no coreto da
Praça da Independência. Desfrutei da singela companhia da cantora de 77 anos e tomei um gole quando me ofereceu sua bebida favorita antes de cada show: conhaque com guaraná. João Paulo, o único filho que
teve com o ex-marido e parceiro Délio, acerta o som e abre o show com um
repertório regional, enquanto pouco a pouco todas as cadeiras vão sendo
ocupadas na praça. No show, Delinha canta “O Sol e a Lua”, consagrada ao lado
de Délio, agora com João Paulo, “Por onde andei" e outros hits de mais de 50
anos de trajetória. Se dessemos mais atenção às raízes da nossa música e à
história de nossos compositores, um show como o de Delinha, gratuito, em praça
pública, seria capaz de paralisar Corumbá, mas não é o que acontece, porque no
Brasil a cultura é vista como artigo de segunda linha, fragmentada. Grandes compositores e intérpretes como Delinha são esquecidos, em
detrimento dos hits populares descartáveis que o público canta em um ano e no
seguinte não se lembra mais – seguindo a linha do capitalismo e sua economia de
consumo. Quem ainda se lembra de "Ai se eu te pego", de Michel Teló? Pois as composições de Delinha são eternas e há quem saiba dar-lhe o
devido valor e colocar no lugar que merece. A Fundação de Cultura, em um gesto
ousado, bancou a sua vinda a Corumbá. A mesma Delinha que, em 2012, foi
apresentada para um grande público como estrela da música de raízes sul-mato-grosssense no Festival de Chamamé de Corrientes, na Argentina. “Não fiquei rica, mas não sou pobre, moro na mesma Velha Casinha (que virou música) e carrego dentro de mim a riqueza dos grandes momentos”, resume, pouco antes de cantar o
tango "Corrientes". Acesse o canal Reportagem para ler mais sobre a trajetória de Delinha e veja a apresentação dela em Corrientes no link
http://www.youtube.com/watch?v=KAZ9eY7_ckU
http://www.youtube.com/watch?v=KAZ9eY7_ckU
domingo, 24 de agosto de 2014
Agosto da Dama da Viola
Agosto, para muitos, pode ser o mês do
desgosto. Mas para outros tantos, como eu, é o mês do prazer. Prazer pela boa
música. Por exemplo, a música de Helena Meirelles, que se estivesse viva completaria
90 anos no dia 13. Autodidada, benzedeira, lavadeira e parteira que ficou conhecida mesmo como Dama da Viola, o fenômeno brasileiro
eleito pela revista Guitar Player como uma das melhores instrumentistas do
mundo, comparada a Keith Richards, do Roling Stores, e Eric Clapton, isso em
1993, aos 69 anos. Estrela com reconhecimento tardio, Helena fugiu de casa aos
15 anos, teve o primeiro dos onze filhos aos 17 e três casamentos. Deixou o
segundo marido para morar na zona, quando passou a tocar viola nos bordéis do
Porto 15 e Presidente Epitácio, Mato Grosso do Sul. Só em 1992, aos 68 anos,
apareceu pela primeira vez em um programa de televisão, com Enezita Barroso. A
história completa da Dama da Viola, que virou documentário produzido pela GNT (http://www.youtube.com/watch?v=_ljCRJN7t4M)
você confere no canal Reportagens desde blog.
domingo, 29 de junho de 2014
Sob as bênçãos de São Pedro
No dia consagrado a São Pedro, mais um santo se juntou à festa da
comunidade em Corumbá: São Benedito. A imagem sempre acompanha o grupo de
cururueiros e tocadores de viola de cocho de Cuiabá, que o veneram como
protetor. Antes de qualquer apresentação é indispensável que um deles dê uma
volta completa na pista com a imagem de São Benedito, filho de escravos
africanos, nascido na Itália, um dos santos mais queridos do Brasil. Os cururueiros mato-grossenses apresentaram em Corumbá
a arte da dança do siriri ao som da viola de cocho, instrumento típico dos
pantaneiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Com o talento natural desses
ilustres convidados, que herdaram os traços culturais dos seus ancestrais, Corumbá
sediou pelo segundo ano consecutivo o Festival da Viola de Cocho, trazendo da
antiga capital o Grupo Folclórico Raízes Cuiabanas, além de gente de Poconé,
Cáceres, Livramento e Nova Mutum. Enfim, o que a ditadura militar rachou ao
meio em 1977, ao dividir Mato Grosso, vai aos poucos sendo reintegrado por meio
do laço cultural que sempre uniu os dois Estados pantaneiros, e apenas havia
sido sufocado. De sua parte, Corumbá recriou os grupos de cururu, siriri e
viola de cocho, valorizou mestres como Agripino Soares e Sebastião Brandão, e aos
poucos reconstrói nacionalmente sua imagem como território onde se respira e
vive a cultura pantaneira, e há lugar e alegria para todos os santos. Como
cantava a devota Ivone Torres, que há mais de 50 anos percorre as ruas da
cidade com a Bandeira de São Pedro coletando donativos para a festa: “Quando
São Pedro chegar, eu quero estar no meu lugar/com meus amigos/com a minha
gente/com quem da vida já descansou/a semear e espalhar sementes/na terra onde
Deus abençoou”. São Pedro, por sua vez, é a esperança dos pescadores numa terra
em que os recursos pesqueiros são cada dia mais raros. Inclusive, políticos inescrupulosos
criaram um anteprojeto de lei prevendo moratória de cinco anos para a pesca no
Pantanal. Querem preservar o pescado e ao mesmo tempo extinguir os pescadores. Se
proibirem a pesca, o pescador Paulo da Conceição jura que vai colocar seu barco
no alto da ponte do rio Paraguai e interromper o tráfego na BR-262 até que a presidente
Dilma apareça com seu helicóptero para dar uma satisfação. E olhem que palavra de pescador sempre
tem as bênçãos de São Pedro.
http://www.oestadoms-flip-page.com.br/flip/30-06-2014/22.pdf
http://www.oestadoms-flip-page.com.br/flip/30-06-2014/22.pdf
quinta-feira, 26 de junho de 2014
100 anos do Centro Espírita de Ladário
Ladário, fundada há 235 anos, bate mais um
recorde na sua história. É na Pérola do Pantanal, como é conhecida a cidade
banhada pelo rio Paraguai, a 420 km da Capital, que fica o Centro Espírita mais
antigo de Mato Grosso do Sul. O Centro Espírita Vicente de Paulo completou
neste 26 de junho 100 anos de fundação. A marca merece agora um registro no
livro do pesquisador Washington Fernandes, a “História Viva do Espiritismo”,
que lista os centros espíritas centenários do Brasil. Um marco da sociedade que busca um mundo melhor para todos. A presidente do centro é a dedicada Maria Iris Bispo Opimi. Para celebrar a data o centro ofereceu uma brilhante palestra da presidente da Federação dos Centros Espíritas de Mato Grosso
do Sul, Maria Túlia Bertoni, que destacou os 150 anos do livro kardecista O Evangelho segundo o Espiritismo, em sua sede na avenida 14 de Março. Fundado em 1914
por Abdo Urt, o
centro tem como finalidade estudar e praticar o espiritismo como religião,
filosofia e ciência, baseando-se nos ensinamentos da doutrina espírita,
codificada por Allan Kardec. Além de promover sessões espíritas e culturais,
pratica e difunde o Evangelho de Jesus Cristo, tratando a filantropia como
princípio e dever da moral cristã. Além de Abdo, o primeiro grupo espírita de
Ladário era integrado por João Anastácio
Rodrigues (o primeiro presidente), Conrado Correa Ribeiro, Manoel Baptista, João Lemos de Barcelos,
Carlos Correa da Costa, Conceição Ribeiro, Anna Luzia da Conceição e Francisco
Nunes da Cruz. As primeiras reuniões foram em uma casa de madeira, cedida por uma voluntária. O prédio do Centro Espírita Vicente de Paulo seria inaugurado em 26 de
agosto de 1925 na hoje avenida 14 de Março, 685, centro de Ladário. O
fundador, Abdo Urt, era natural de Jerusalém, na Palestina, e tinha 23 anos ao
chegar a Ladário em 1913 ao lado dos irmãos Jamil, Isaac e Isaías. Os irmãos
Jamil e Isaac se casaram com duas irmãs, Maria a Margarida Assad, unindo as
duas famílias de origem palestina e síria-libanesa. Em Corumbá, Abdo instalou
uma olaria, denominada Água Branca, onde produzia telhas e tijolos. Dedicou sua
vida à consolidação e expansão da doutrina espírita na região, apesar de todos
os obstáculos e contraposições criados na época. Abdo era tio da saudosa Helô
Urt, que foi diretora presidente da Fundação de Cultura de Corumbá. Era um
grande admirador de São Vicente de Paulo, considerado “o pai dos pobres”, e deu o nome do santo ao Centro Espírita ladarense. São Vicente de
Paulo nasceu em 1581 no sul da França, foi ordenado sacerdote aos 19 anos,
declarado pela Igreja Católica como “o patrono das obras de caridade” e
canonizado em 1737.
quinta-feira, 15 de maio de 2014
Quando a vida começa aos 60
Imaginei que chegaria aos 60 descansando
em uma cadeira de balanço, de bermuda e chinelo havaiana,
contando os minutos para assistir à novela das oito, cercado pelas brincadeiras
dos netinhos. Deu tudo errado. Mas recebi outros tipos de bênçãos que me fazem adotar estilo de vida diferente, e a permanecer nessa estrada como uma metamorfose ambulante. Acho que carrego o espírito dos caçadores e coletores, nômades por natureza e primeiros habitantes do planeta. Nem imaginava passar os primeiros minutos da madrugada deste abençoado 15 de maio circulando
e dando minhas tacadas em torno de uma mesa de sinuca, ali na rua Cabral,
centro de Corumbá, coração do Pantanal, ao lado de colegas do curso de História
da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Pois é, aos 60, decidi
voltar à vida acadêmica, inspirado na atitude do meu amigo e ex-editor no
jornal O Estado de MS, Cláudio Amaral, que aos 64 anos é estudante de História na
FMU da Liberdade, em São Paulo. Um curso que traz a magia da Antropologia, da
Arqueologia e da Sociologia, que me ensinam a cada nova aula que a verdade está
muito mais no meu olhar do que naquilo que é olhado, o que me ajuda a
compreender o outro e a respeitar os seus valores. Nessa mesma estrada tenho a missão como dirigente em Corumbá da Arte Mahikari, que este ano completa 50
anos no Brasil. Mahikari é um caminho que percorro há 30 anos, desde que
prestei o seminário básico em 1984 no místico bairro oriental da Liberdade, em São
Paulo, indicado por uma pessoa que está ao meu lado, em todas as horas, há 35
anos, Vera Lúcia. Mahikari é um movimento espiritualista que me ajudou a melhor interpretar as religiões, a encontrar a verdade e a luz, e a seguir os princípios
divinos. É só o que também desejo aos meus amigos, por isso vivo convidando-os
para conhecer os ensinamentos no seminário de três dias (em outubro haverá um
em Corumbá!). Em abril, estive na Sede Superior da Mahikari, na rua Paracatu,
bairro da Saúde, em São Paulo (na imagem, ao lado dos amigos Marcos Akira e Luís
Roberto Caprioli) durante a celebração dos 50 anos da Mahikari. Na mesma
estrada sobrevivo como jornalista correspondente do diário O Estado de MS, de
Campo Grande, e presto serviços como assessor de imprensa aos parceiros
Instituto Moinho Cultural e Instituto Homem Pantaneiro (IHP), organizações
não-governamentais com sede no Porto Geral, em Corumbá. O Moinho ensina dança, música e educa 360 crianças para a vida. O IHP, com projetos e ações, defende a preservação do Pantanal. Sessenta anos já se
foram, e agora fazem parte da memória do gravador espiritual da vida. Recomeço
do zero, e o que conta agora são os novos anos que virão, guiados pelas bênçãos e a vontade divina. Espero que sejam anos de muita luz,
energia, pesquisas e novos conhecimentos. Como pesquisador, começo a preparar
um trabalho sobre os 100 anos do Centro Espírita de Ladário. E descubro que
aquele homem conhecido como "o curandeiro que benzia pessoas do outro lado do rio”, é um dos
fundadores da entidade. O nome dele: Abdo Urt. Meu tio Abdo. Era um dos quatro irmãos Urt que
vieram de Jerusalém, na Palestina, e se estabeleceram em Ladário: ele, meu avô Jamil, Isaac e Isaías. A história bem contada carrega o poder de resgatar o
passado para que possamos entender o presente e preparar o futuro. Por isso
escolhi História, porque por meio dela me sinto feliz com essa incessante busca
da verdade.
PS.: tenho três filhos, todos bem encaminhados, mas nenhum neto.
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Erasmo, o Rei e a Democracia
Erasmo Carlos, 72 anos, aprendeu que a
vida se renova a cada gesto. Trocou o uísque pela água mineral, fez as pazes
com o parceiro Roberto Carlos, montou uma big banda responsável por novos e
modernos arranjos para seus velhos sucessos e está aí na estrada, comemorando 50
anos de trabalho. No show da noite de abertura do Festival América do Sul,
nesta quarta, 30 de abril, em Corumbá, o Tremendão ainda homenageou o Rei ao apresentar no
palco o cover Robson Carlos, que tal qual Roberto atirou rosas vermelhas para a
platéia, tocou as mãos no lado esquerdo do peito e sussurrou “são tantas
emoções” ao se despedir. Um show completo, digno do seu nome, “Gigante Gentil”,
na medida certa para sacudir um festival que também precisa se renovar e se modernizar, reavivando o diálogo, a discussão sociocultural em
torno dos principais temas que afligem nossa sofrida América do Sul, inclusive com a temática indígena. O festival criado na gestão Zeca do PT se distanciou culturalmente no findar da era Puccinelli, e precisa portanto ser recriado, para não cair no esquecimento e se tornar um mero produto capitalista, empresarial e político, como quase tudo hoje em dia no País. Na noite
de Erasmo e de Roberto cover, foram justamente os políticos os responsáveis pelo maior mico da festa. E sobrou para o governador de Mato Grosso do Sul, André
Puccinelli, que viu seu secretário de Obras, Carlos Marun, responder ao
xingamento de um cidadão cambaleante que da platéia chamava todo mundo de incompetente,
desfiando sua ira contra o sistema. Ao perceber o descontrole do secretário,
Puccinelli o conteve e o empurrou para o fundo do palco – um cala-boca público
que envolveu de constrangimento as demais autoridades, entre elas os prefeitos
Paulo Duarte e José Antonio Assad. Para piorar, um assessor de Marun ainda
desceu do palco e partiu para o confronto diante do cidadão pançudo e que
tentava, a seu modo, exercitar o livre direito de democracia – palavra, aliás, muitas vezes
repetida pelo governador no discurso de abertura do festival. Enquanto isso o governador seguia seu discurso democrático que ressaltava a integração dos povos sul-americanos, diante de uma plateia diminuta e cinco policiais escoltando um cidadão tropego para fora do recinto público. Não era bem a despedida que o governador queria na décima primeira edição do evento. Ainda bem que o festival, na sua essência, é maior do que qualquer atitude para se fazer silenciar e ordenhar um povo.
terça-feira, 18 de março de 2014
Federalizar a Educação é a saída!
Das
dez melhores escolas de Mato Grosso do Sul segundo os resultados obtidos por
seus alunos no Enem 2012, nove são particulares e apenas uma da rede pública,
mas federal: o Colégio Militar de Campo Grande. São nove da Capital e apenas
uma do interior. Fica claro que as escolas da rede pública estaduais e
municipais não tem vez no sistema de educação num Pais em que ainda impera a
desigualdade educacional e no qual a educação é fortemente influenciada pelas
necessidades capitalistas. Quem pode mais, tem mais acesso ao ensino. O sistema
de cotas é um mero paliatipo criado pelo governo federal para encobrir sua
falha. Mas até quando isso vai perdurar? Quando teremos a revolução da
educação? Depois da Copa do Mundo, na qual serão gastos R$ 35 bilhões na
construção dos estádios? Ou depois da Olimpíada de 2016? Enquanto se espera uma
saída, nossas crianças continuam silenciadas pelo analfabetismo. Os recentes
números divulgados pelo Ministério da Educação na audiência pública da Comissão
de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) indicam um fracasso no
sistema educacional: o Brasil conta com 3,5 milhões de jovens com 15 anos, dos
quais 32 mil são analfabetos e, dentre eles, 10 mil passaram pela escola e
mesmo assim saíram sem saber ler e escrever. Mas em vez de ficarmos anos após
anos jorrando rios de lágrimas em cima das estatísticas vergonhosas da
educação, temos a obrigação de lançar projetos para tirá-la do fundo do buraco.
No Brasil, aprendemos que tudo o que é federal é bom, tem qualidade e
competência. Municípios e Estados aprendem a buscar recursos em Brasília para
cobrir seus rombos. O governo Federal está sempre à disposição para salvar
bancos e banqueiros, o agronegócio e pecuaristas, economias e empresários falidos e agora
optou por investir mundos e fundos em estádios de futebol. Poucas cabeças decidindo por muitos. É hora então de
olhar para Educação como um sistema fracassado, dona de oitavo maior índice de
analfabetismo do mundo. É hora de federalizar a Educação brasileira. Urgentemente. Imaginem o Brasil com mais de 150.000 escolas públicas federais e não apenas
com os atuais 451. Imaginem a reconstrução de todas as nossas escolas, modernizadas,
com padrão internacional, tais quais os mais requintados estádios de futebol recém
construídos no País. Imaginem o teto de um professor concursado e graduado da
educação em R$ 9 mil mensais, como propõe o senador e professor da Universidade
de Brasília, Cristovam Buarque, em opinião que você pode ler no canal Artigos deste blog. Educação federal
seria, de verdade, educação para todos. A tese não é nova, é defendida por
algumas pessoas conscientes e responsáveis do País, mas precisa ser abraçada por quem tem poder de decisão e verdadeiramente vê nos olhos da criança o futuro olhar da nação. Chega de
passar vergonha!
terça-feira, 11 de março de 2014
Amazônia, catástrofe anunciada
O cenário é desolador. Brasileiros da Amazônia e
bolivianos de Beni vivem uma tragédia anunciada. No momento em que planeta
clama por sustentabilidade, o modelo de capitalismo tresloucado está fazendo
com que o Ibama dê licenças ambientais para a construção de usinas
hidrelétricas em regiões onde o impacto contra a natureza e o homem é
líquido e certo, como uma sentença de morte. A construção e funcionamento das
usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Estado de Rondônia, provocou
a maior cheia do rio Madeira nos últimos 50 anos, com conseqüências desastrosas
para brasileiros e o país vizinho. São mais de 60 cidadãos mortos na Bolívia,
que conta 55 mil desabrigados em 111 municípios afetados, e perdeu mais de 100
mil cabeças de gado. O rio Madeira, com 18,85 metros em Porto Velho,
ultrapassou o recorde de 17,51 metros registrados em 1997. São mais de 1200
famílias desalojadas só na região de Porto Velho, em Rondônia. Agora é tarde,
mas o Ministério Público Federal (MPF) abriu processo civil para a suspensão da
operação das duas usinas, em conjunto com MPE, OAB e Defensoria Pública da
União e de Rondônia. E pede ao Ibama que casse imediatamente as licenças –
tarde demais – até que novos estudos sobre os impactos das barragens sejam feitos. O MPF cita as empresas Energia
Sustentável do Brasil (Usinas Jirau) e a Santo Antônio Energia (Usina Santo
Antônio) pelo dano moral coletivo, estimado em R$ 100 milhões, e pede
indenização. O dinheiro será revertido para as vítimas das enchentes e reconstrução
das casas, de acordo com o processo. Ou seja, o MPF busca agora corrigir mais
uma grande trapalhada ambiental proporcionada por um governo que pensa no
avanço econômico sem medir os impactos ambientais e humanitários. E desta vez,
com reflexos no país vizinho. De acordo com o governo da Bolívia, desde 2006
processos são abertos contra a construção das usinas hidrelétricas na Amazônia,
com base em estudos de que, por menor que fosse o represamento nos
reservatórios, a vazão do rio Madeira seria afetada no período chuvoso. Com
muita propriedade, o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro compara as ambições
desenvolvimentistas do atual governo à megalomania da ditadura com seu
ideário de "Brasil Grande". O comitê das Nações Unidas pede doações
para socorrer os desabrigados. Você já viu algum posto de arrecadação de roupas
e alimentos? É lamentável o tratamento superficial e quase indiferente dado à Bolívia pelo Jornal Nacional e outros veículos de comunicação de massa se comparados às catástrofes que ocorrem na Europa e Estados
Unidos.
quarta-feira, 5 de março de 2014
Maria Quitéria é Multishow
Nem só de Carnaval vive Maria Quitéria, a irreverente personagem criada
pelo ator Arce Correa. Após os dias de folia em que protagonizou cenas de humor
ao lado da Corte de Momo nos desfiles de fantasias, blocos e escolas de samba
de Corumbá, a “deusa de MS”, como se autointitula, prepara um salto para a fama nacional. Ela é uma das 23 selecionadas para concorrer ao Prêmio
Multishow de Humor 2014 no Rio de Janeiro, para onde embarca no final do mês. O programa da TV por assinatura estréia em abril. Arce é o único
representante do Centro-Oeste e concorre com candidatos do Rio de Janeiro, São
Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Bahia, Ceará e Pernambuco. Vai participar
dos testes e concorrer a um prêmio de R$ 25 mil. Para cada
ocasião, uma fantasia: ao se despedir da passarela do samba, terça-feira
de Carnaval, Maria Quitéria se vestia como Cleópatra, a rainha do Egito. Formado em artes cênicas, Arce, de 35 anos, levou Maria Quitéria pelo
sétimo ano consecutivo ao Carnaval de Corumbá. Caiu nas graças dos foliões
corumbaenses e visitantes, e já está incorporada como integrante da Corte de
Momo. Sua função vai muito além de um comediante. Rei e rainhas aprenderam com
o ator “como se comportar” em público durante dois dias da capacitação sobre
consciência e preparo corporal com o ator, mestre em humor e simpatia. Leia mais na edição no caderno de Arte e Lazer do jornal O Estado no link http://www.oestadoms.com.br/flip/06-03-2014/p20b.pdf.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
Céu, suor e Cibalena
Quando sai da avenida General Rondon,
por volta da 1h da madrugada deste sábado, 1º de março, percebi que o céu estrelado, como há muito não
se via neste chuvoso mês de fevereiro, havia abençoado o desfile do Cibalena, o
maior bloco de sujo do Carnaval de Corumbá. Acompanhei o desfile ao lado do
amigo Euclides Moreira Fernandes, assessor de comunicação da Câmara, e colhi
algumas imagens entre os mais de 20 mil rostos que invadiram a
avenida com fantasias irreverentes, atrevidas e debochadas – como reza a tradição formada pelos fundadores do Cibalena. O bloco foi criado há 36
anos por um grupo de amigos que se reunia para beber em um bar da rua Ladário com a Cuiabá, e quando pediam uma cibalena, o dono do bar já sabia que se tratava de uma dose de
cachaça misturada com cinzano ou algo assim, dependendo do freguês. O bloco foi
crescendo, crescendo até se transformar neste fenômeno chamado Cibalena, uma
confraternização que desce a avenida todas as sextas-feiras de Carnaval – os homens de saia, batons, perucas loiras e salto alto, ao lado de meninas de bigode. Foram tantas as transformações que
demorei alguns segundos para reconhecer que a Musa Cibalena 2014, vencedora do
concurso que todo ano se realiza na carroceria de um caminhão, tratava-se do discretíssimo professor
Messias Siqueira, de 70 anos. Na noite das estrelas, Messias foi Carmem Miranda, de verde e amarelo da cabeça aos pés, em homenagem à Copa do Mundo. Carmem, cantora portuguesa radicada no Brasil, reinou nos programas de auditório das rádios cariocas nos anos 50 e foi a primeira a levar a imagem pop cultural do Brasil ao Exterior.
domingo, 9 de fevereiro de 2014
Sebastião Salgado, 70 anos
Nascido na vila de Conceição do
Capim, em Aimorés, interior de Minas Gerais, Sebastião Salgado fez mestrado em
Universidade de São Paulo (USP), engajou-se no movimento de esquerda contra a
ditadura militar, mudou-se em 1969 para Paris e se apaixonou pelo
fotojornalismo após viagens pela África. Neste sábado, 8 de fevereiro, ele
completou 70 anos de idade e 45 de trabalho. Em Genesis, seu novo livro, o
repórter-fotográfico retrata paisagens e comunidades ainda não impactadas pelo
que chamamos de progresso – como mostra nesta página a imagem produzida por ele
na África. Para preparar o trabalho, percorreu mais de 30 países durante oito
anos. É o que se pode chamar de profissão repórter, aquele incansável
perseguidor do inusitado, do inesperado, do inacreditável. Salgado lançou seu
livro durante uma exposição neste começo de abril em Londres. A obra traz de
mulheres das aldeias do Parque Nacional de Mago, na Etiópia, até xamãs da tribo
camaiurá da bacia do Alto Xingu em Mato Grosso. Belíssimas fotos em preto e
branco retratadas pela sensibilidade de um profissional que gastou no projeto 1
milhão de euros por ano, financiados em parte por revistas e jornais – sim,
jornais – que publicaram suas reportagens ao longo dos oito anos. Outra parte
foi coberta por patrocinadores. Tema de capa da revista Bravo! Salgado revela
que sua mulher, Lélia Wanick, tem papel crucial no seu trabalho: é responsável
pelo design dos livros e pela curadoria das exposições, sem contar que foi ela
quem comprou a primeira câmera fotográfica do casal (uma Leica), quando ainda
era estudante de arquitetura. E confessa que só abandonou os filmes de rolo e
as câmeras convencionais após o atentado de 11 de setembro de 2001, quando o
controle nos aeroportos passou a ser insuportável e ele era obrigado a passar
suas caixinhas de filmes pelo raio-x, perdendo qualidade. Hoje usa câmeras
digitais Canon. A história da vida de Salgado caberia em mais um livro, porque sabe,
como poucos, honrar a profissão de repórter. Profissão, aliás, que acaba de ser
apontada como a "pior" dos Estados Unidos em recente pesquisa encomendada pelo
CareerCast.com, site norte-americano especializado em empregos. Salgado prova o
contrário e mostra que tem o melhor emprego do mundo, pois para ele, aos 70
anos, ser repórter é algo muito especial, já lhe rendeu dez livros e o título de embaixador da Unicef. “Não trabalho com a miséria, mas com as pessoas mais pobres. Elas são muito ricas em dignidade e buscam, de forma criativa, uma vida melhor. Quero com isso provocar um debate. A nossa sociedade é muito mentirosa. Ela prega como sendo única a verdade de um pequeno grupo que detém o poder”, afirma. Veja a obra completa dele no
link: http://www.elfikurten.com.br/2011/03/o-olhar-sensivel-de-sebastiao-salgado.html
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Caçadores de Bons Exemplos
Quando encerrarem a etapa sul-mato-grossense da expedição,
os Caçadores de Bons Exemplos terão catalogados mais de 900 projetos sociais,
percorrido mais de 185 mil quilômetros e visitado mais de 500 cidades
brasileiras. E no final de 2014 terão passado por todos os Estados do País. Os
mineiros Iara e Eduardo caçam bons exemplos, mas recusam indicações oficiais.
Para chegar até eles, ouvem pessoas nas ruas, perguntam se conhecem alguma
pessoa ou instituição que busca trocar a maldade do mundo pela boa ação. Chegam
de surpresa. Não aceitam dinheiro, recusam patrocínio, não têm vinculo político
nem religioso. Iara chora toda vez que fala dos
projetos, das ações que mudaram a vida das pessoas, dos exemplos de fé e
coragem que encontram pelas cidades do País. Ao seu lado, Eduardo é o
sustentáculo, o homem que dirige a caminhonete, que ouve e filma todos os
movimentos. Eles estão na estrada desde janeiro de 2011 para uma viagem de
cinco anos. Em 2015 pretendem vender a caminhonete Toyota, o único bem que
restou, e iniciar a última etapa da jornada, no Exterior. “Aí vamos só comas
mochilas nas costas”, contam. Encontrei-os sexta-feira, 31 de janeiro, no
Instituto Moinho Cultural, onde conheceram o projeto que completa 10 anos e seus
fundadores Márcia Rolon e Ângelo Rabelo, cujas histórias se confundem com as de
Iara e Eduardo. O Moinho hoje beneficia 360 crianças e promove a inclusão
social, tornando-se o símbolo de bom exemplo de Corumbá que repercute em toda a
America Latina. Como os “caçadores” vivem correndo, tínhamos apenas cinco
minutos para conversar, mas a reportagem se estendeu por quase uma hora. E mais
uma vez, a emoção levou Iara às lágrimas. Leia mais no canal Reportagens deste
blog. Para ver a reportagem no jornal O Estado acesse http://www.oestadoms.com.br/flip/03-02-2014/p12b.pdf.
E para ver o vídeo: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=UBptkd0zLn4.
Foto: Agência Navepress.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
Bodas de Ouro em Corumbá
Dos versos sacros de “Nossa Senhora
do Pantanal”, que compôs em parceria com Aurélio Miranda, às marchinhas
irreverentes como “Cururu Feio” ou samba-enredos campeões nas passarelas, Sandro Nemir é dono
de um repertório eclético e consagrado, que marca 50 anos da história da música
regional e dos carnavais de Corumbá. Ficou conhecido na cidade como o “Dono do
Samba”, nem tanto pela mania de batucar nas mesas e cantarolar sempre que vem a
inspiração para compor um verso, mas pela vida inteira dedicada a compor
canções que embalam as maiores festas populares de Corumbá. Para celebrar o
ciclo, ele acaba de gravar o piloto de sua antologia musical no CD “Sandro
Nemir e Parceiros – Melhores Momentos, 50 anos” e busca patrocínio para
lançamento. Neste 25 de janeiro, ele comemorou 71 anos de vida e 50 como
compositor, mas o maior presente, como reconhece, havia ganho em dezembro: o
título de cidadão corumbaense dado pela Câmara. Cuiabano de nascimento e com
raízes libanesas, passou a infância em Ponta Porã, veio com os pais em 1959
para instalar uma padaria em Corumbá. O primeiro caso de amor do jovem na
cidade chamava-se Marilena, a Naná. Ao saber que a moça era fã de Roberto
Carlos, passou a cantarolar músicas e usar as facetas do rei da Jovem Guarda
para iniciar o namoro. Casaram-se, tiveram um casal de filhos e em dezembro de
2013 celebraram as Bodas de Ouro. Poucos casais têm esse privilégio hoje em
dia, não é mesmo?! Visitei Nemir e Naná em uma charmosa vila da rua Delamare, em Corumbá, onde moram, e mais uma vez pude comprovar que a felicidade bate à porta dos mais simples, virtuosos e verdadeiros. Veja o perfil completo de Nemir no canal Reportagens deste
blog. Foto: Agência Navepress.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
O Mestre da Viola de Cocho
Assim
canta e encanta o cururueiro: “Cortei um pé de seriguela, do fundo do meu
quintal, pra fazer uma viola e cantar meu amor por ela”. O cururu vai embalar a
roda do siriri, a dança típica do Pantanal, na noite de São Sebastião, 20 de
janeiro. Para Sebastião Brandão, a festa vai ter um sabor especial neste dia,
quando completa 70 anos bem vividos. Nascido no Pantanal do Castelo, mas
registrado como cidadão ladarense, ele rompeu 2014 com o título de Mestre da
Viola de Cocho concedido pelo Ministério da Cultura, selecionado no Prêmio
Culturas Populares, Edição Mazzaropi. Além do prêmio material de R$ 10 mil está o
reconhecimento à obra de um pantaneiro que, muito tempo antes, já era considerado um
mestre na cadeia de montagem da viola de cocho, o instrumento típico do
Pantanal do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso. Ele escolhe e corta a árvore
adequada, separa troncos e galhos, molda a madeira com facão e talhadeira,
coloca as cinco cordas de nylon, afina, toca e canta o curururu. E tudo isso
ele vai ensinar em uma oficina, em Ladário, a 420 km da Capital, a seus alunos,
após ter um projeto aprovado pela Lei Rouanet de incentivo à cultura. Visitei o galpão onde Sebastião produz as violas de cocho, em uma casa com jeito de sítio, entre cães, galinhas e pintinhos, na rua Afonso Pena, bairro Almirante Tamandaré, em Ladário, e trouxe de lá uma bela história, que o leitor pode conferir no canal Reportagens deste blog.
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