quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

O que nos espera em 2016

O mundo passa por transformações na ordem social, econômica e política, e as recentes conclusões do encontro ambientalista COP21 em Paris, neste final de ano, deixaram claro, de uma vez por todas, que as reservas naturais do planeta estão esgotadas e que nada mais nos resta do que adotar um novo modo de vida, com menos emissão de gases de efeito estufa, mais sustentabilidade, enfim, mais simplicidade e menos ostentação. Infelizmente não é o comportamento adotado pela maioria das pessoas, dos líderes políticos, das empresas multinacionais que controlam nações e economias. O que se vê, nesta segunda década do segundo milênio, é um retrocesso aos tempos medievais, com centenas de guerra e guerrilhas espalhadas pelo mundo, a ofensiva dos estados militaristas, liderados pelos EUA, para conter o avanço do Estado Islâmico, tragédias ambientais como a de Mariana, o crescente desmatamento da Amazônia, a sede de poder dos grupos e empresas capitalistas, o fundamentalismo religioso – enfim, um conjunto de ações e anomalias que levam cada vez mais o planeta e a autoestima de homens e mulheres para o fundo do poço. Um mar de lama que insiste em encobrir nosso direito a liberdade e dignidade. No entanto, mesmo diante deste tsunami de horrores, ninguém pode nos negar o direito de pensar e agir livremente, fazer as nossas escolhas, manter projetos e ainda sonhar com um século mais justo e menos opressor. O direito de planejar, investir, arriscar, libertar-se de velhos conceitos e preconceitos. O futuro pode estar na capacidade das cidades e seus cidadãos administrarem as crises e adversidades com criatividade, justiça e simplicidade. Como habitantes de um dos maiores e mais ricos patrimônios naturais do planeta, o Pantanal, resta-nos como bons filhos protegê-lo da praga mercantilista que polui rios e matas em nome de uma política desenvolvimentista suicida. Lutemos pela vida. Biomas como o Pantanal e a Amazônia são termômetros que refletem exatamente o sentimento dos homens sobre a natureza. E esse sentimento ultimamente oscila entre o amor e o ódio. (Veja neste blog o artigo “O ano em que a Terra perdeu sua biocapacidade” do articulista Leonardo Boff).


sábado, 12 de dezembro de 2015

Araquém Alcântara, o fotógrafo do Brasil

Papo com Araquém na barranca do rio Paraguai (Agência Navepress)
Quem gosta de futebol já deve ter ouvido falar de Araken Patusca, o oitavo maior artilheiro da história do Santos, com 177 gols em 193 jogos, ídolo na Vila Belmiro entre 1923 e 1929 e depois entre 1935 e 1937. Dos anos 90 para cá quem gosta de arte e cultura em Santos aprendeu a admirar outro Araquém, só que com outra grafia. “O meu Araquém meu pai tirou de Iracema, o romance do José de Alencar”, conta Araquém Alcântara, enquanto limpa o suor da testa, numa manhã mormacenta, neste começo de dezembro, à beira do rio Paraguai, em Corumbá. “Era o Araquém, o pai da Iracema, a virgem dos lábios de mel”, completa. Este Araquém de José de Alencar nasceu em Florianópolis e se criou em São Vicente, na Baixada Santista. Claro, também se apaixonou pelo Santos de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, considerado o maior ataque de todos os tempos do futebol brasileiro. “Como é que eu vou ver esse jogo hoje se vou estar lá dentro do Pantanal?”, questionava-se Araquém, falando baixinho, consigo mesmo, enquanto consultava o celular. Este é o castigo, talvez o único, que o Pantanal impõe aos seus visitantes: não há o menor sinal de internet naquela imensidão verde. Pois bem, Araquém não viu, ao vivo, seu Santos perder a final da Copa do Brasil para o Palmeiras. Sofreu muito menos. Camuflado nas matas, na tocaia, com duas bazucas – como costuma chamar suas potentes lentes das câmeras digitais – apontadas para lados opostos, ele buscava naquela noite captar imagens que irão compor seu novo livro, “Pantanal Serra do Amolar”, em parceria com o Instituto Homem Pantaneiro (IHP), gestor da Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar. Entre tantas obras e prêmios, Araquém, de 64 anos, é autor de Terra Brasil, o livro de fotografias de natureza mais vendido do País, com 120 mil cópias, na décima edição. Também produziu “Bichos do Brasil” para a National Geographic. Conheci Araquém nos anos 70, quando amigos dele, como Fernando Barros, com quem dividi um AP na Vila Buarque, nos tempos do Diário da Noite, para zuar diziam que gostava de fotografar borboletas. Correspondente do Estadão em Santos, ele também gostava de fotografar urubus. E foram as fotos dos urubus do lixão e da miséria de Santos e Cubatão que lhe renderam o primeiro ensaio fotojornalístico. Ali no meio da miséria ele descobriu que também precisava descrever, com suas imagens, o que o Brasil tinha de mais belo, a natureza, como forma de preservá-la. E saiu por aí para fotografar o Brasil. Hoje considerado o precursor da fotografia de natureza e o mais combativo fotojornalista na defesa do patrimônio natural, possui imagens expostas em museus de Paris, Londres, Itália e já participou de mais de 40 livros. A capa do livro Terra Brasil traz o olhar penetrante de uma onça-pintada. Que animal vai ter a honra de exibir sua beleza selvagem na capa do Pantanal Serra do Amolar? Livros como esses já nascem com edições esgotadas. E não mostram apenas urubus. Saiba mais sobre Araquém na canal Reportagens deste blog http://nelsonurt.blogspot.com.br/p/reportagens.html.



sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Vem aí o I Festival Cultural do Mercosul

Hermanos Irmãos no show de setembro em Ladário (Agência Navepress)
Vocês devem estar lembrados do grande show protagonizado pela banda Hermanos Irmãos, em setembro, em Ladário, dentro das celebrações do aniversário da cidade e da Semana América do Sul. Com Rodrigo Teixeira, Jerry Espíndola e Márcio de Camillo, esse mesmo trio campo-grandense representa o Brasil no I Festival Cultural do Mercosul, nos dias 6 e 7 de novembro em Assunção, capital do Paraguai. O Festival Cultural do Mercosul conta com patrocínio dos governos federais, no caso brasileiro do Ministério da Cultura, e vai girar entre os países integrantes do Mercosul. Foi aprovado na II Reunião de Artes, em maio, no Rio de Janeiro, como forma de promover a circulação de artistas e da cultura regionais pelo continente, dando visibilidade à extensa diversidade cultural dos países sul-americanos. Criou-se o Comitê Coordenador Regional (CCR) para sua realização regular nos países do bloco. O festival oferece dois dias de programação, e contará também com Diego Drexler, do Uruguai; Tonolec, da Argentina; e o grupo Legado Regional de Misiones, da Argentina, além de ciclo de cinema, exposições e poetas repentistas argentinos, uruguaios, chilenos e brasileiros. Entre as atrações paraguaias aparecem Efrén Kamba’i Echeverría, Pynandi, Tekove, Sixto Corbalán y Pedro Martínez Trío, Tribu Sónica, Ovejas Negras, Banana Pereira y la República, Ballet Nacional de Paraguai e Conjunto Folclórico da Orquesta Sinfónica Nacional. Os shows serão no Teatro do Hotel Guarani Esplendor de Assunção. No festival, serão declarados como Patrimônio Culturais do Mercosul o Recital de Poetas e as Missões Jesuíticas Guaranis, Moxos e Chiquitos. O Mercosul (Mercado Comum do Sul) foi criado em 1991 com a assinatura do Tratado de Assunção para formar o bloco econômico dos países da América do Sul entre Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela e agora também com a Bolívia. Sobrevive, apesar da constante pressão do imperialismo norte-americano, mantendo acesa a chama da integração dos povos descendentes das nações originárias da América.


sábado, 24 de outubro de 2015

N.S.dos Remédios: para quem acredita na paz

Procissão Fluvial percorreu o rio Paraguai (Fotos: Marilene Rodrigues)
Badalam os sinos do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios anunciando, à meia-noite deste sábado, o final da Festa da Padroeira. Foram treze dias de festa que viveram seu auge com a Procissão Luminosa e o show do padre-cantor Antonio Maria. A fé cristã, a mensagem de paz e a solidariedade foram mais uma vez marcas das celebrações em Ladário. Em um mundo sufocado por desacordos, guerras, atentados, catástrofes, conflitos sociais, polarizado entre o bem e o mal, mensagens de ódio, preconceito e intolerância, a Pérola do Pantanal deixa lições opostas. Acompanhei a Procissão Luminosa que percorreu na noite de sábado as ruas centrais, saindo do Santuário, passando pela rua Riachuelo, as avenidas Getúlio Vargas e 14 de Março até subir de novo a Riachuelo e retornar ao Santuário. Pelo caminho, idosos que não podem mais caminhar estavam na porta de casa com seus terços e imagens da santa, para acompanhar os cânticos na passagem da procissão. À minha frente, um fiel ignorava a dor da vela que derretia e escorria sobre sua mão. Havia como sempre gente de todas as partes do Brasil. Pela manhã, as águas do rio Paraguai e os ribeirinhos de Corumbá e Ladário também foram abençoados durante a Procissão Fluvial. A imagem acima, capturada pela repórter-fotográfica, cronista e poeta Marilene Rodrigues retrata o exato momento que padre Celso Ricardo, de chapéu e batina pretos, debaixo do sol escaldante, chega ao porto de Ladário e entrega a imagem a um missionário. Marilene acabava de retornar de Belém do Pará onde acompanhou o tradicional Círio de Nazaré, que levou mais de 1 milhão de pessoas às ruas, e pôde notar a diferença: "No Círio quase tudo é comercializado, vendem até vagas em camarotes, enquanto em Ladário a relação é fraternal, é uma festa pensada para o povo", comparou. E não vai demorar muito para a imagem da santa padroeira de Ladário seja tombada como patrimônio histórico e religioso de Mato Grosso do Sul. Por iniciativa de devotos ladarenses, um documento com o história da santa, da imagem e da Festa da Padroeira percorre as outras 77 cidades do Estado para colher assinaturas que mais tarde serão entregues ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão responsável pela avaliação. Odilon Lisboa de Macedo, idealizador da proposta, conta que os apoios estão vindo de todas as partes e que em breve o documento também vai percorrer cidades da Bolívia.


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Diário de uma transexual

Com um vestido rosa-choque como homenagem ao Outubro Rosa, a transexual Patrícia Lima subiu ao palco e dublou a cantora Deborah Blando com a música Somente o Sol no play-back. E foi exaustivamente aplaudida. Seria mais uma apresentação para o mundo LGBT não fosse o inusitado cenário: era o palco de show da Festa da Padroeira de Ladário, Nossa Senhora dos Remédios. E naquela noite de 23 de outubro,véspera do feriado católico na cidade, a transgênero quebrava um tabu de mais se um século ao conquistar um espaço em um evento cultural e religioso católico. Antes dela havia se apresentado a Orquestra do Projeto Semear e depois dela subiu ao palco a dupla sertaneja Pedro e Evandro. O show de Patrícia é desfecho de uma luta que vem sendo travada pela Secretaria de Assistência Social de Ladário para preservar os direitos e as escolhas sexuais dos jovens da cidade, promover a inclusão social e entender as diferenças, provocando dessa forma o debate e a reflexão no coletivo estudantil, acadêmico e de toda a sociedade. Uma semana antes do show, entrevistei Patrícia, de 27 anos, que já teve nome e corpo masculinos, mas hoje é chamada pelo nome social em casa e pelos colegas da escola, e os detalhes da nossa conversa você confere no canal Reportagens deste blog ou no link: http://nelsonurt.blogspot.com.br/p/reportagens.html


domingo, 18 de outubro de 2015

A bailarina e o poeta: só o amor salva o Pantanal

Márcio e Aline: encontro na noite quente de Corumbá (Foto: A.Ardaya)
Testemunhei uma cena emocionante na mormacenta noite de sexta-feira, 16 de outubro, ali no Porto Geral, às margens do rio Paraguai, em Corumbá. O abraço do poeta e da bailarina. A foto do incansável produtor cultural Arturo Ardaya caiu na rede social, ganhou a projeção que devia, mas faltava escrever algo sobre ela, e aqui estou eu para cumprir meu dever de repórter, depois de enviar uma reportagem sobre o Pantanal Poética para o jornal O Estado de MS, de Campo Grande. Nem sentado nem em pé, de coque - como algum ancestral indígena - lá estava eu para ver a apresentação da bailarina revelação do Moinho Cultural, Aline do Espírito Santo, de 17 anos. Doce, meiga e suave como uma pluma, como sempre, deslisa os passos da sua coreografia, aplaudida bem de perto pelo compositor e cantor Márcio De Camillo, do trio Hermanos Irmãos. Era uma peça do espetáculo O Segredo da Brincadeira, inspirado no poeta Manoel de Barros. No final da dança, Aline se aproxima de Márcio e ganha um abraço apertado, intenso, emocionante, e mais aplausos da plateia naquele Bulixo Cultural, no Sesc Corumbá. Autor do espetáculo Crianceiras, Márcio De Camillo acabava de voltar de uma expedição à Serra do Amolar pelo programa Pantanal Poética, ao lado de outros 35 compositores, músicos e pesquisadores ambientais que gravaram um DVD com sete músicas com o tema da preservação da natureza. A bailarina Aline do Espírito Santo, acadêmica do curso de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), pensa em trocar de curso e fazer Artes Cênicas em Campo Grande, para certamente seguir carreira na dança e no teatro. Além de Aline e Márcio, outros talentos passaram pelo Bulixo Cultural, como Rodrigo Teixeira e Jerry Espindola, do grupo Hermanos Irmãos, e o compositor e cantor argentino Ruben Goldin, um dos mais aplaudidos da noite. É incrível como algumas pessoas que ainda não conhecem o Pantanal, quando ganham essa chance, voltam com a impressão de ter pisado em um novo planeta, como no caso da compositora paraguaia Daniela Rojas, do projeto Arte Viva. Pois é, enquanto isso uma parte desta sociedade capitalista gasta bilhões em pesquisas para procurar água em Marte, ao invés de investir em projetos de preservação da nossa querida Terra. Mais preocupante ainda foi o que me revelou a bióloga da Embrapa, Débora Calheiros, sobre um projeto do governo federal de instalar mais de 160 hidrelétricas nos rios do Pantanal, 20 só em Coxim. "Se colocarem barragens em Coxim, acabam os peixes e acaba a cidade, que vive da pesca", alerta Débora. É para deter esse tipo de ameaça que esses músicos e ambientalistas vieram ao Pantanal. Não foi a passeio. Como me contou o jornalista, cantor, compositor e escritor Rodrigo Teixeira, é uma experiência louca passar três dias isolado entre as águas do rio Paraguai, as matas da planície pantaneira, olhar para o céu e ver estrelas cadentes. Com um detalhe: sem qualquer sinal de internet. “Velho, é um milagre você poder pensar na proteção do Pantanal neste mundo cada vez mais individualizado”, me resumiu Rodrigo, na noite quente, poética e emocionante de Corumbá. E concluo: só o amor salva o Pantanal, os peixes, as onças, os pescadores, enfim, todos nós, do modelo de desenvolvimento mercantilista apregoado no mundo. 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Nos 237 anos de Corumbá, blog completa 7 anos

O blogueiro ao lado da criadora do blog, Ida Urt, no pier de Puerto Suarez
Corumbá completa 237 anos e este blog Nave Pantanal, de carona, celebra seus 7 anos de construção. Não digo que surgiu por acaso, porque tudo na vida está cercado de sonhos, intenções e predestinações. Quem construiu o blog foi a figura que aparece ao meu lado, nesta imagem tirada no pier de Puerto Suarez, na Bolívia. Ela se chama Ida Urt, um nome minúsculo, mas um coração do tamanho de uma constelação. Minha filha caçula. “Pai, o blog está pronto, pode começar a publicar”, disse-me em setembro de 2008. Comecei a publicar notas simples, qualquer fato que fazia parte do meu dia a dia no jornalismo. Como a primeira nota que contava a historinha de um cara que havia escapado de um ataque de onça-pintada no Pantanal. Com o passar do tempo fui incrementando o blog com artigos, reportagens, imagens, músicas regionais e, mais recentemente, com poesias de minha autoria e da nova geração de poetas e escritores. No blog também publico a integra do meu primeiro livro, Estação das Mariposas, uma ficção romanceada, que nunca lancei, mas que coloquei à venda como e-book no site da Amazon. O blog serve de base e conteúdo para o segundo trabalho, um livro-reportagem, que pretendo publicar até o final desta década. O blog conta com apenas 19 seguidores, entre eles amigos como o mestre-repórter Schabib Hany, o escritor Augusto César Proença, o jornalista Cláudio Amaral, o poeta da resistência Benedito C.G.Lima e mais recentemente a acadêmica de História e cronista da nova geração Nathalia Claro, de 19 anos. A alma e a grandiosidade dos amigos compensam a discreta repercussão e servem de combustível para esta nave seguir sua viagem pelo espaço sideral da comunicação. Desculpem-me se não agrado a todos por seguir o jornalismo alternativo, autônomo, sem amarras ao sistema, com uma linha anticapitalista,  buscando publicar apenas aquilo que eleve a alma e a dignidade do ser humano, e que possa contribuir para um mundo melhor e mais justo. Pode parecer muita pretensão, mas como acadêmico da UFMS busco incansavelmente a reconstrução da história, tentando quebrar paradigmas, tabus e preconceitos. Agradeço aos empresários da comunicação que abriram espaço para este conteúdo, como Rosana Nunes (Diário Corumbaense), Alle Yunes e Farid Yunes (Correio de Corumbá), Erik Silva (Folha MS) e Jaime Valler (O Estado de MS). Com certeza, juntos, ainda temos muitas histórias, verdadeiras, para contar e contribuir para que todos, em algum lugar do passado ou do presente, encontrem enfim a consciência da vida. Não estamos juntos por acaso.




terça-feira, 25 de agosto de 2015

Fotojornalismo em alta no Festival América do Sul

Homem pantaneiro (foto reprodução: Roberto Higa)

Clóvis Neto, Roberto Higa e Anderson Gallo no FASP

O fotojornalismo marcou um ponto importante no Festival América do Sul Pantanal. A exposição Minha Terra Querida, no Sesc Corumbá, deu visibilidade a profissionais de qualidade e novos talentos, mostrando que Mato Grosso do Sul está bem servido e com enorme potencial pela frente. O veterano Roberto Higa foi a referência da mostra com imagens sensacionais, comprovando seu status de mestre de uma nova geração de fotojornalistas corumbaenses, como Anderson Gallo, do Diário Corumbaense, Clóvis Neto e Kleverton Velasques, da Assesssoria de Comunicação da Prefeitura de Corumbá. A exposição também abriu espaço para novos talentos das imagens digitais como Hildyanne Teixeira, acadêmica de Ciências Sociais da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), e Ricardo Albertoni, repórter-fotográfico e designer do Diário Corumbaense. Outras imagens emblemáticas marcaram a 12ª edição do FASP, como a surpreendente manifestação promovida por professores da UFMS, em greve há 75 dias, no meio do público que aguardava o show de Almir Sater na praça Generoso Ponce.    
   
Cais do Porto (Foto: Hildyanne Teixeira)
Greve dos Professores da UFMS (Foto:Ag.Navepress)
Lida no Pantanal (Foto: Anderson Gallo)


domingo, 23 de agosto de 2015

O festival dos grafiteiros, historiadores e poetas

Grafiteiros em ação nos muros da Ladeira Cunha e Cruz 
O Festival América do Sul 2015 cortou gastos, mas abriu alguns espaços inéditos e deixou uma marca visível nos muros da Ladeira Cunha e Cruz, onde os grafiteiros gravaram mensagens que vão permanecer por décadas, até que sejam borradas pelo vento e pela chuva. Quase sempre confundidos com pichadores, os grafiteiros eram considerados vadios, rebeldes sem causa, escórias da sociedade, mas pouco a pouco vão ganhando respeito como artistas e protagonistas da história cultural. O Coletivo Viva a Rua, de Campo Grande, integrou a programação do festival e montou no Porto Geral uma oficina de grafitagem, skate e rap. Um dos representantes de Corumbá foi o professor de desenho em grafite Helker Hernani, que dá aulas aos sábados em seu ateliê na rua 13 de Junho com Antônio Maria. Hoje ele para pouco na cidade, passa a maior parte do tempo viajando para apresentar seu trabalho em outras cidades do Estado. Os grafiteiros são exemplos de que o festival foi feito para celebrar e respeitar a diversidade cultural. Os escritores também encontram no festival um canal para lançarem livros e divulgarem seu trabalho, como no caso da historiadora corumbaense Maria do Carmo Brazil, destaque no Quebra-torno com Letras no Moinho Cultural. Lá ela voltou a falar sobre o livro lançado neste ano, Rio Paraguai, o Mar Interno Brasileiro. Professora doutora da Universidade Federal da Grande Dourados, ela é ex-aluna do Colégio Estadual Maria Leite. O Quebra-torno ainda trouxe como novidade a escritora e professora douradense Patrícia Pirota, autora do livro “Seu Moço” e defensora das redes sociais como forma de propagação da literatura. De tanto divulgar seus poemas no youbube, ela chamou a atenção da editora portuguesa Chiado, que decidiu publicar seu livro. Não ficou rica, continua a dar aulas na rede pública de Campo Grande, mas fez da poesia seu maior encanto e riqueza. E como declamou o poeta Emmanuel Marinho durante sua apresentação no palco da praça Generoso Ponce, “poesia não compra sapato, mas como andar sem poesia?”
Historiadora Maria do Carmo Brazil

Poeta Emmanuel Marinho




quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Enfim, indígenas no Festival América do Sul

Benilda Kadiwéu e Catarina Guató na abertura do Festival
Nesta quente e seca noite de inverno em Corumbá, o que mais me chamou a atenção na abertura do 12º Festival América do Sul foi o estande das Nações Indígenas. Isso mesmo, indígenas. Doze anos depois, os povos nativos, nossos ancestrais, ganham espaço para mostrar seu artesanato e para falar um pouco de si, de suas lutas e identidade. Foram necessários doze anos para que se reparasse uma enorme falha na estrutura do festival que tem como objetivo integrar os povos latino-americanos. Conversei longamente com Catarina Guató e Benilda Kadiwéu no estande. Outras indígenas representavam as etnias ofaié e terena. Ainda é pouco, se levarmos em conta que Mato Grosso do Sul possui a segunda maior concentração de nações indígenas do País – só perde do Amazonas – e que aqui vivem oito etnias, 75 mil nativos. Mas foi dado o primeiro e significativo passo. Questão de coerência e justiça. Em um Estado movido pelo agronegócio, com grande concentração de terras nas mãos dos pecuaristas, o fortalecimento dos movimentos indígenas é sempre visto com apreensão e desagrado. Ninguém quer perder um palmo de terra sequer. Os pecuaristas culpam a Constituição Cidadã de 1998, que reconheceu o direito de indígenas reivindicarem territórios de origem. Graduada na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), Benilda Kadiwéu integra a Subsecretaria de Políticas Indígenas, recentemente criada pelo governo estadual. “Para defender nossos direitos, colocamos duas representantes na Delegacia da Mulher de Campo Grande”, conta. Já a artesã Catarina Guató simboliza a luta e o reconhecimento da etnia guató, que chegou a ser considerada extinta mas recuperou suas terras na ilha de Insua, 230 km ao norte do Pantanal de Corumbá. No estande, Catarina expunha e vendia bolsas e tapetes feitos com palha de aguapé, o legítimo artesanato guató. Mesmo após 500 anos de contato com os colonizadores europeus, o Brasil possui 242 povos indígenas, 890 mil nativos sobrevinentes no País. Jamais se pode falar em América do Sul sem eles, os verdadeiros donos desta terra.






SAMBA, CHURRASCO E RAÍZES - A abertura do Festival América do Sul também recebeu as passistas da Escola de Samba Igrejinha, de Campo Grande; a costela assada pelo churrasqueiro paranaense Ricardo Alkeman e a música de raízes do grupo Acaba.
(Fotos Agência Navepress)



quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Ladário integra gente no coração da América

Feira de Ladário, 12 de agosto de 2015
Perto de mais um aniversário de Ladário, que completa 237 anos em 2 de setembro, voltei a percorrer um dos recantos mais visitados da nossa pequena notável cidade de 21 mil habitantes no coração da América: a feira livre. Nesse emblemático espaço em forma de cruz, que tem o Cristo Redentor como mirante ao sul e o encantador Pantanal ao norte, você fica sem saber quem é brasileiro e quem é boliviano. Mistura de etnias e culturas. E o que importa? O essencial é que vivem fraternalmente, felizes e em paz – atributos, aliás, cada vez mais raros em outros tantos territórios do planeta, onde guerras e miséria castigam corpos, corações e mentes. Percorro a feira e vejo o menino de olhar doce que fabrica um aviãozinho de papel. Ao lado, a corumbaense Rosa, aniversariante do dia, distribui sorrisos enquanto vende couve, rúcula, agrião e almeirão. Seu Chico espreme a cana na engrenagem e oferece a garapa fresquinha e gelada. Chiquinho vende leite caipira, queijo e mandioca, “produtos do Taquari”. Pequenos produtores dos assentamentos dividem espaço com bolivianos. Conversar com os hermanos bolivianos é como fazer uma viagem pela América do Sul: muitos deles vieram de La Paz, Oruro, Cochabamba, cidades ao pé da cordilheira dos Andes, nas alturas, onde o ar é tão rarefeito que pode causar desmaios nos visitantes. Aqui embaixo, readaptados, eles vivem como brasileiros, mas não perdem os traços típicos – as mulheres, conhecidas como “cholas”, vestem seus saiotes rodados, usam cabelos longos com tranças até a cintura, mantém os filhos sempre por perto, almoçam por volta das 10h o cozido de frango com legumes. Enquanto saboreio um fumegante pastel de carne à mesa debaixo de uma frondosa castanheira, penso e reflito que é exatamente este o verdadeiro espírito de integração dos povos do continente proposto quando criaram o Tratado de Roboré, nos anos 50, tornando livre o comércio na nossa fronteira com a Bolívia, mas nunca colocado em prática – os bolivianos são criminalizados por trazer produtos de Puerto Quijarro para vender em Ladário e Corumbá. E muito tempo depois criaram o Festival América do Sul, na tentativa de fundir a cultura sul-americana num só evento, mas que ainda hoje oferece espaço reduzido aos nossos vizinhos latinos. Não acredito que isso ocorra por falta de verbas, vontade política ou partidarismo, mas por puro eurocentrismo, interesses econômicos e negligência histórica. Enfim, resta-nos erguer um brinde a Ladário e um saludo à nossa América do Sul!

Fotos: Marilene Rodrigues







sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Bolívia mostra sua cara nas ruas de Corumbá

Na Morenada, raízes da Bolívia em Corumbá
Entre legalizados, com credencial temporária ou clandestinos, eles já são mais que 2 mil em Corumbá e Ladário. E, acreditem, nesses tempos de crise verde-amarela, estão salvando o nosso comércio. Com a valorização do peso boliviano e a alta do dólar, saíram da condição de meros vendedores para se tornarem também fortes compradores em Corumbá - isso para desespero de preconceituosos e xenofóbicos, que sempre viram nos bolivianos um povo pobre, sujo e analfabeto. Enganam-se os que pensam assim. Eles são politizados, trabalhadores dedicados e respeitadores. Nômades por natureza - como eram seus ancestrais nativos da América - migram com facilidade e estão presentes em vários países do mundo. Em Corumbá, segundo dados colhidos pela Polícia Federal, vivem 451 bolivianos legalizados, que se forem somados àqueles com credencial temporária chegam a 1300. Incluindo nessa conta os clandestinos, são mais de 2 mil. Em escolas municipais como o Caic (Centro de Assistência Integral à Criança Padre Ernesto Sassida), a unidade mais perto da fronteira, os bolivianos já representam quase um terço de todo o contingente de 400 alunos. De acordo com o agente consular boliviano Oscar Cuellar, a comunidade estudantil da Bolívia em Corumbá chega a 700 alunos. E nas feiras livres eles vendem de tudo, de verduras a eletrônicos, e são maioria. Outro engano foi imaginar que com o fechamento da Feira Brasbol (Brasil-Bolívia) a Prefeitura afugentaria os bolivianos do comércio. Não, eles se dispersaram, montaram suas tendas nas feiras livres e alugaram pequenos pontos comerciais espalhados pela cidade. Esse é fenômeno Bolívia em Corumbá, onde o idioma é cada vez mais castelhano e os carrões importados asiáticos invadem ruas e avenidas. A cara da Bolívia estava viva durante as comemorações dos 190 anos da Independência do país vizinho neste 6 de agosto de 2015, quando a dança de raízes Morenada apresentou um show de cores, beleza e simpatia nas ruas de Corumbá, em mais uma demonstração de amizade e integração de um povo que é feliz à sua maneia, sem luxo e ostentação. E assim caminha nossa América que um dia já teve mais de 10 milhões de pessoas de centenas de nações originárias nativas, cada vez mais dando lições de humildade ao Brasil e aos brasileiros. 
Fotos: Marilene Rodrigues.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A bomba atômica ainda queima nossa pele

Corumbá, capital do Pantanal de Mato Grosso do Sul (Agência Navepress)
As bombas atômicas caíram sobre Hiroshima a 6 de agosto de 1945 e três dias depois em Nagasaki, há 70 anos, mas seus efeitos ainda queimam a nossa pele até os dias de hoje. São efeitos devastadores, que corrompem sobretudo a nossa alma, a nossa liberdade, o nosso direito de viver em um mundo de paz. O fim da segunda guerra mundial marcou o avanço da indústria eletrônica e química, e do capitalismo. A primeira bomba matou 140 mil pessoas e a segunda 75 mil pessoas de uma só vez, mas continua matando paulatinamente ao longo dessas sete décadas. Os meios de produção massificada, sob o pretexto de matar a fome do mundo, nos enfiam goela abaixo alimentos nocivos para a saúde, com conservantes, corantes, transgênicos, agrotóxicos. O fim daquela guerra não significou, em nenhum momento, a garantia da paz e o fim de outras guerras. Muito pelo contrário, entorpecido pelos meios tecnológicos, com os olhos hipnotizados no conteúdo duvidoso das redes sociais, o cidadão do século 21 virou escravo da sociedade de consumo e mal tem tempo de enxergar que mais de 40 guerras estão em andamento em todo o planeta. Se em 1945 os japoneses foram escolhidos como alvo para a demonstração de força do império capitalista que começava a dominar o mundo, hoje são os africanos que padecem dos males desencadeados pela cobiça dos que matam em nome do lucro e do poder econômico, pagam o preço por possuírem recursos minerais essenciais para a indústria eletrônica que montam nossos celulares, nossos notebooks, nossos tablets e smartphones. O conflito no leste do Congo é o que mais matou desde a Segunda Guerra Mundial, além de ser gerador da exploração do trabalho infantil e estupros coletivos. Há uma outra guerra, desta vez no trânsito, que só no Brasil mata cerca de 40 mil pessoas por ano em acidentes com veículos automotores. Há uma indústria da doença, que provoca uma bola de neve e faz com que as pessoas fiquem eternamente dependentes dos medicamentos, que alimentem as empresas farmacêuticas, enquanto estranhamente para males como o câncer nossos super-cientistas ainda não tenham encontrado uma cura. No mundo do fantástico avanço tecnológico, o ser humano morre com uma picada de mosquito, porque a alimentação de baixa qualidade, entulhada de toxinas, deixa o nosso sistema imunológico cada vez mais baixo. Infelizmente, estamos perdendo essa guerra porque ainda nos iludimos com as aparências, mas ainda podemos caminhar para um mundo de paz e liberdade desde que reconheçamos nosso fracasso. O fracasso de um sistema que nos levou ao sedentarismo, que nos mantém escravos do consumo e reféns das doenças. É hora de abrir os olhos e a consciência, serenar o coração e dizer não para tudo o que nos engana, não para tudo o que nos aflige e nos aniquila. É tempo de ler, discutir, refletir, entender, debater, nunca aceitar a primeira versão, investigar, saber distinguir o que é notícia do que é invenção, enfim, ser um cidadão de fato e de direito. Que cada um faça sua própria revolução, para o bem coletivo.



segunda-feira, 27 de julho de 2015

É hora de conter a evasão e fortalecer a universidade

Alunos e professores debateram a evasão no Campus Pantanal
A evasão nos cursos da UFMS Campus Pantanal atinge índices alarmantes, há um crescente desinteresse pelas ciências humanas, principalmente pela licenciatura, e muitos dos que entram na faculdade ainda não sabem exatamente que rumo tomar ou se de fato escolheram o curso certo. A crise socioeconômica avança, o MEC corta R$ 4 bilhões da educação e este quadro pode ganhar contornos mais graves ainda. Por isso, reunidos no Bloco H da universidade, professores, alunos e técnicos da UFMS Campus Pantanal e IFMS decidiram encaminhar propostas para provocar uma reviravolta neste panorama sombrio. E duas delas talvez sejam as de maior impacto: moradia gratuita para os que vem de fora e refeitório a preços populares. O modelo não é novo e já está implantado com sucesso em outros campi. Essas conquistas, se aprovadas, compensariam o alto custo de vida de Corumbá. Outra proposta é a migração de cursos como forma de combater a evasão, ou seja, se o aluno não está satisfeito com História poderia se transferir no mesmo Campus Pantanal para Geografia, por exemplo. É sempre bom lembrar que existe apenas um aluno – isso mesmo, um – matriculado no primeiro semestre do curso de Geografia. E a média de alunos que vão do começo ao fim e se formam na UFMS é de apenas 50%. Teste vocacional para alunos do ensino médio fazerem uma melhor escolha de cursos e formação de centros acadêmicos reforçariam, com certeza, o interesse pela faculdade. O movimento Greve pela Educação luta não só por 27,3% de recomposição salarial por perdas inflacionárias dos professores, mas pela universidade pública democrática, gratuita, laica e de qualidade. E a luta é de todos.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Greve pela Educação aquece debates democráticos

Assembleia Unificada reuniu técnicos e professores na UFMS
A estratégia da política neoliberal, que domina cada vez com seus tentáculos o mundo ocidental capitalista, agora globalizado, é esvaziar os cursos universitários de ciências humanas que ajudam o ser humano a pensar, refletir e questionar, como história, psicologia, sociologia, antropologia, ciências sociais. O jogo é privatizar as universidades federais, entregá-las a empresários da educação e reduzir os universitários a meros reprodutores dos interesses capitalistas dominantes. No mesmo alvo estão os cursos ligados à ciências exatas e biológicas, ao meio ambiente, à preparação do homem saudável. É mais fácil formar profissionais apenas com o objetivo mercantilista do que em propor mudanças que possam afetar a indústria farmacêutica, de fertilizantes, de alimentos. A humanidade está sendo envenenada, mas existem profissionais, muito bem pagos, para defender que não existem produtos cancerígenos infestando as prateleiras dos supermercados. Por que formar doutores que denunciem o fracasso do modelo da educação, da saúde, da medicina, do agronegócio? Que denunciem a devastação da Amazônia? Então, cabe a nós, cidadãos que ainda lutam pela liberdade e a democracia, remar contra a maré e buscar fortalecer e consolidar o ensino público universitário, livre e gratuito, com acesso a todas as camadas da população. E a greve, por mais que afete o calendário estudantil, é um instrumento para pressionar o poder público e mostrar que ainda existe um cidadão brasileiro que pensa e fala, questiona e provoca. A greve dos professores da UFMS não poderia ser diferente. Ela traz à tona debates e embates sobre os principais problemas que hoje ameaçam o sistema de ensino público do País: a terceirização de setores, a estratégia neoliberal de privatização da educação, a enorme evasão universitária, a perda do interesse dos alunos pela faculdade, o corte de recursos federais para projetos, pesquisas de doutorados, corte de bolsas e de auxilio permanência para alunos, entre outros. Em um balanço de quase 40 dias de greve, constata-se que, em Corumbá, o movimento conseguiu unificar categorias de professores universitários, técnicos administrativos da UFMS e professores da IFMS – unificação nunca antes alcançada. Nesta segunda, 20, houve uma assembléia unificada no auditório Salomão Baruki. Quatro representantes participam da Marcha dos Servidores Federais em Brasília. Só falta ganhar maior adesão dos alunos. Quem passa em frente à UFMS nesse mês de julho pode imaginar uma universidade esvaziada, mas lá dentro transcorre uma programação selecionada pelos professores do Comitê de Greve. Nesta quarta-feira, às 14h, no auditório do Bloco H, o tema da mesa redonda  Debates e Embates é a crescente evasão estudantil. Menos da metade dos que entram na UFMS hoje concluem os cursos. O que fazer para manter o interesse dos alunos pela faculdade? O microfone está aberto. É hora de apontar e discutir soluções, propor ações, usufruir a liberdade e exercer os direitos democráticos. É para isso que viemos.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

O adeus da professora Malu Urt

Com os netos Alex e Glória em Campo Grande
Conversei longamente, por telefone, com minha tia e primeira professora, Lila Urt, na fria e tristonha noite desta quinta-feira. Ela em Campo Grande, eu em Ladário. Algumas horas atrás acabava de falecer minha prima Maria Luiza Urt, a Malu, aos 67 anos, ex-aluna do Colégio Imaculada Conceição, ex-professora do Colégio São Miguel e escolas de Corumbá. E passamos algum tempo recordando as principais virtudes dessa guerreira que nos deixa ainda cedo, como seus outros irmãos, a inesquecível Helô Urt, ex-diretora presidente da Fundação de Cultura de Corumbá, e Zezinho, o mais velho dos irmãos, um exemplar Fuzileiro Naval. Ladarense, filha de Edith, da família Costa, e de Demétrio, da família Urt, que aportou na cidade há 101 anos, proveniente de Jerusalém, da originária e legítima Palestina. Na Ladário dos anos 60, costumávamos nos reunir na sala da casa de nossos avós, Maria e Jamil, para ouvirmos Malu, tão bela quanta talentosa, tocar piano ou acordeón. Malu também compôs o fabuloso time de vôlei de Ladário, que tinha a liderança de nossa tia, Myrtes, e outros destaques como Margareth, Leonice, Cicinha, Biga, e disputou os Jogos Noroestinos. Recordo-me da última vez que Malu veio a Corumbá: na platéia na praça Generoso Ponce, com o brilho nos olhos, orgulhosa como todas as vovós, via os netos Glória e Alex se apresentarem no palco Moinho in Concert, o show anual de dança e música do Moinho Cultural. São momentos gravados em nossas mentes e corações dessa notável ladarense que agora nos deixa para brilhar entre as estrelas. Em homenagem à você, querida Malu, professora de todos nós, reescrevo um pensamento do filósofo indiano Dipak Chopra: "Somos todos viajantes de uma jornada cósmica - poeira de estrelas, girando e dançando nos torvelinhos e redemoinhos do infinito. Nós paramos um instante para encontrar o outro, para nos conhecermos, para amar e compartilhar. É um momento precioso, mas transitório. Trata-se de um pequeno parêntese na eternidade. A vida é eterna". 



domingo, 12 de julho de 2015

Tenda de umbanda celebra São José

Na tenda, Patricia Fontoura e a imagem de São José (Agência Navepress)
Os grupos de dança Anjos Dourados e Oficina de Dança da Fundação de Cultura se apresentaram no Arraial de Nhô José, neste domingo, na Tenda Espírita São José, do Pai Hamilton. Marcada pelo sincretismo, a festança aconteceu ali na rua Poconé, bairro Universitário, ao lado da UFMS, e foi promovida pela Tenda Espírita São José, famoso terreiro de umbanda dirigido há trinta anos pelo pai-de-santo Hamilton da Costa Garcia, de 52 anos. Minha visita à tenda de umbanda foi monitorada pela atenciosa Patrícia Fontoura, que pacientemente me explicou o significado de cada uma das centenas de imagens cultuadas na tenda, desde São Jorge, o padroeiro da umbanda, a Nossa Senhora da Candelária, a Iemanjá umbandista. Há imagens de  São José, São Sebastião e Jesus Cristo, venerado como Oxalá ao lado do Caboclo da Pena Branca. A tenda de umbanda se prepara para organizar uma grande festa, dia 8 de agosto, sábado, a partir das 21h, em celebração ao Tranca Rua das Almas, um dos conhecidos exus da umbanda, conforme explica Patrícia Fontoura e pai Hamilton. São esperadas pelo menos 300 pessoas para a festa na rua Poconé. “Os exus correspondem à classe que trabalha com o povo da terra e são responsáveis pela segurança da casa, protege à todos, sem distinção, do pobre ao milionário”, afirma pai Hamilton. “O Tranca rua das almas é venerado no país inteiro”, acrescenta, ao lado da imagem do exu, logo na entrada do terreiro. O preconceito e a intolerância impedem que a umbanda ganhe mais adeptos, projeção e respeito, segundo pai Hamilton. “A umbanda não é um antro de perdição ou maldade como muitos apregoam”, ressalta Hamilton, seguidor de dona Carlinda, famosa mãe-de-santo do bairro Cristo Redentor. “Nem as autoridades dão o valor que merecemos e só aparecem na hora de pedir votos, perto das eleições”, reclama. Pai Hamilton e sua comunidade desceram com o andor de São João para o banho da imagem no rio Paraguai , dia 23 de junho, mas ele é devoto de São José, o Xangô da Justiça, padroeiro da família, daí a razão da festa deste 11 de julho. Ele também é dirigente da Seccional de Culto Afrobrasileiro de Corumbá e Ladário.



quinta-feira, 9 de julho de 2015

Café Literário: Chaplin inspirou Manoel de Barros

Professor Galharte focaliza poeta pantaneiro (Agência Navepress)
O Café Literário, evento mensal promovido pelo Sesc e a Associação dos Poetas e Escritores de Corumbá, trouxe um especialista no poeta Manoel de Barros, o professor doutor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), o corumbaense Julio Augusto Xavier Galharte. Com o tema Manoel de Barros e o Cinema, Galharte mostrou a influência de Charles Chaplin, Luis Buñuel e Pier Paolo Pasolini nos versos do poeta pantaneiro. Deixa claro que Manoel é um poeta universal. Apesar de ter vivido muito tempo no Pantanal, esteve também em Nova York, Paris e países da América do Sul, de onde tirou suas referências. Foi durante algum tempo comunista e chegou inclusive a fundar o PC em Corumbá, mas abandonou o partido desgostoso com a ligação de Prestes, presidente nacional, com Getúlio Vargas e por imposições feitas pelos camaradas. Nos versos dos livros de Manoel há citações de Chaplin e influências de outros gênios do cinema e da literatura. Ele também teve influência do zen budismo, de São Francisco, era admirador do cineasta japonês Akira Kurosawa e lia muito o romancista russo Dostoivski, conforme afirma Galharte em sua brilhante oratória no Sesc Corumbá. Manoel via o divino na natureza, e por isso os insetos e outros animais ganham força e forma em seus versos. Admirava os mais fracos, puros e oprimidos. Vejam algumas das frases geniais de Manoel pesquisadas por Galharte:
“Um dia me chamaram de idiota...e eu chorei. Sou fraco para elogios”. 
“Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma, e que você não pode vender no mercado como, por exemplo, o coração verde dos pássaros, serve para poesia”. 
“A gente vai desaparecendo igual quando Carlitos vai desaparecendo no fim da estrada”.
O Café Literário mais uma vez abriu espaço para novos escritores, como a poeta Hildyanne Teixeira, de 17 anos, que tem seus trabalhos publicados semanalmente no jornal Correio de Corumbá e cursa Ciências Sociais na UFGD, em Dourados. Em agosto, o Café Literário completa um ano de produção e em outubro haverá uma programação em homenagem ao centenário do poeta corumbaense Lobivar de Matos.




domingo, 31 de maio de 2015

Poetas do Café Literário

Uma nova safra de poetas começa a despontar no Café Literário, evento mensal criado pelo ativista cultural e poeta Benedito C.G.Lima no Sesc Corumbá. Entre eles está Gerson Morais, que lança seu primeiro livro solo, “Poesias com sentimentos”, com 117 páginas, pela Editora All Print. Ladarense de 48 anos, o autor é formado em Letras no Campus Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e possui pós-graduação em Metodologia de Ensino e Língua Portuguesa, além de mestrado em Estudos Fronteiriços. Poeta, contista, cronista, professor, cerimonialista e organizador de eventos, Gerson costuma refletir sobre “o dia-a-dia que clama por mais amor e vontade de viver com menos violência”. O poema de abertura do livro, “A minha realidade”, espelha sua vertente poética logo no primeiro verso: “Tenho que viver na minha realidade, não adianta eu navegar, e viver fora da verdade, o importante é caminhar”. Gerson faz palestras da linha motivacional com o tema "O sucesso em suas mãos". Outros talentos revelados pelo sarau cultural são Bruna Souza Arruda e Marilene Rodrigues. O livro "Antologia Poética do Café Literário" reune poemas, contos e crônicas de autores ligados ao evento, entre eles a notável Sônia Ruas Rolon, dona de impecável estilo. Após um ano sob a liderança do espírito desbravador do poeta C.G.Lima, o Café Literário se consolida como principal semente da produção poética de Corumbá, abrindo o leque para apresentações de música e dança. Vale a pensa conferir mensalmente no Sesc Corumbá.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Rio Paraguai se impõe contra o 'mito da decadência'

O público acadêmico, historiadores, ambientalistas, ribeirinhos, enfim, todos os guardiães, admiradores e súditos deste gigante das águas chamado Rio Paraguai, ganham de presente uma obra emblemática. A professora e escritora Maria do Carmo Brazil elegeu o rio Paraguai como elemento da paisagem que imprime o sentido de caminho, movimento e ligação entre povos. O resultado está no livro ‘Rio Paraguai, o “Mar Interno” Brasileiro’, lançado dia 25 de maio no Anfiteatro Salomão Baruki, com ilustração de capa e capítulos do artista plástico corumbaense Daltro, e investimento da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. Nele, a historiadora desconstrói o "mito da decadência" que alguns dos seus colegas apregoam ao se referir a Corumbá como cidade distante, esquecida e estagnada. Nega a sentença de que "o trem matou o rio". "O rio Paraguai continua mais vivo do que nunca, quem morreu foi o trem", retruca Maria do Carmo, após pesquisar profundamente o contexto social, econômico e estratégico que envolve o rio desde sua nascente na Chapada dos Parecis. Corumbaense, ex-aluna do Colégio Estadual Maria Leite, graduada na UFMS, doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Maria do Carmo é professora dos cursos de graduação e pós-graduação de História da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e suas investigações são dedicadas à História Regional, com foco em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Também é autora do livro “Fronteira Negra: dominação, violência e resistência  escrava em Mato Grosso – 1788-1888”, e da obra “Peões e Cativos Campeiros – Estudos sobre a economia pastoril no Brasil”, em parceria com Mario Maestri (UPF/RS). Leia matéria completa no canal Reportagens deste blog.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Café com Augusto César Proença

Augusto e suas obras no Café Literário (Foto: Agência Navepress)
O escritor, roteirista e pesquisador de história e cultura pantaneira Augusto César Proença, de 77 anos, abriu o quadro “Conversando com o Escritor”, lançado neste final de abril pelo Café Literário, evento mensal promovido pela Academia Corumbaense de Letras, no Sesc Corumbá, no Porto Geral.  Augusto reapresentou suas obras literárias e o filme “O caso de Joanita”, rodado em Corumbá e baseado em um de seus contos, com direção e produção de Reynaldo Paes de Barros. “Dia de Visita” e “Nessa poeira não vem mais seu pai”, outros contos do autor, também ganharam roteiros para o cinema. “Minha linguagem é literária, mas sem perder a essência da história”, define o escritor.
Com 17 obras publicadas, Augusto é um dos escritores mais lidos do País, referência em teses de mestrado e doutorado em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. O conto “O menino de lixão”, em que descreve o brutal cotidiano que uma criança que depende da coleta do lixo para sobreviver, é hoje citado em livros didáticos adotados pela rede de ensino  de São Paulo. Que tal se as escolas de Mato Grosso do Sul fizessem o mesmo? “É um exemplo e estímulo para a nova geração de escritores”, ressalta o escritor Benedito C.G.Lima, criador do Café Literário.
Augusto deixou Corumbá aos 15 anos, formou-se em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da Região dos Lagos, em Cabo Frio, Rio de Janeiro, e regressou a Corumbá em 1990, já como autor consagrado, para voltar a morar na casa da família na rua 15 de Novembro. É sobrinho do professor, poeta e radialista Clio Proença, autor da crônica “Janela Aberta para a Cidade”, que por muitos anos fez parte do cotidiano corumbaense pelas ondas da Rádio Difusora AM. “Nasci em um casa na avenida General Rondon e vivi muito tempo na fazenda da família no Pantanal, que inspirou contos, crônicas e o romance Raízes do Pantanal”, conta o escritor.
Com “Raízes do Pantanal” ele ganhou o Prêmio Brasília de Ficção e o direito de publicar o livro pelo fundo do Ministério da Cultura pela editora Itatiaia, em Belo Horizonte, em 1989. “Pantanal, Gente, Tradição e História”, “Não matem os jacarés”, ‘Memória Pantaneira, “Rodeio a Céu Aberto” são outras obras dentro da vertente da natureza. “Considero-me um ser mais biodegradável do que biografável, pois nasci em Corumbá, cidade-natureza”, define-se.
Um dia
"Um dia eu não quis mais sair de casa, evitei paixões, amores, sexo, não briguei com ninguém e concordei com tudo. Um dia fiz da TV minha única companheira, me queixei do vento, do frio, da chuva e da má sorte. Um dia acordei e não abri a janela para ver o sol, preferi o escuro em vez do claro. Um dia não consegui ler um livro, escutar uma música, olhar um quadro na parede, não encontrei graça em mim mesmo. Um dia quase morri de raiva, tive ódio, tive nojo, me rebucei na cama, não quis ouvir conselho de ninguém. Um dia o passarinho do galho entrou pela janela, pousou no meu caixão e perguntou quem eu era. Disseram a ele que eu era um ninguém, apenas um morto que tinha morrido há muito tempo e não sabia". (Crônica inédita de Augusto César Proença)

domingo, 8 de março de 2015

Arte Mahikari abre inscrições para Seminário

Palestra da Arte Mahikari no Muhpan (Agência Navepress)
A Arte Mahikari tem como base a purificação por meio da energia positiva, emanada pela imposição da mão. É um mecanismo super natural para eliminar as essências tóxicas espirituais, emocionais e físicas acumuladas no corpo humano. Essas toxinas podem vir tanto por meio de alimentos industrializados, carregados de conservantes e corantes, ou até mesmo provocadas por nervosismo, modo de vida sedentário, vícios e maus hábitos. Nos tempos modernos, o que não faltam são agentes nocivos para contaminar a saúde das pessoas. O foco da Mahikari é desintoxicar corpo e mente, assegurando uma vida saudável e equilibrada, sempre de acordo com os princípios universais. Trata-se de um movimento espiritualista de vanguarda, de origem oriental, que pode ser praticado por cidadãos de qualquer crença religiosa ou linha política. Sábado, 7 de março, uma Palestra sobre Arte Mahikari, no auditório do Museu de História do Pantanal (Muhpan) serviu para revelar pontos básicos e o lançamento do 2º Seminário Básico em Corumbá. O Seminário será nos dias 20, 21 e 22 de março. Há dez vagas para quem se inscrever em Corumbá. As inscrições estão abertas e podem ser feitas na sede da Mahikari em Corumbá, rua 13 de Junho, 1380, de segunda a sábado, das 16h às 19h, ou pelos telefones 8439-3002 e 8131-6689.



terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O samba e a profecia: “Eu era feliz e não sabia”

Ana Paula e Helinho Pão de Mel (Agência Navepress)
Não sei o que um certo jurado viu de tão ruim no samba-enredo da Pesada. Gostei do samba desde a primeira vez que o ouvi durante um ensaio no barracão da escola, enquanto entrevistava o presidente Nei Colombo. Portanto, não me deixei influenciar pelo que decidiria dias depois os críticos do Esplendor do Samba, o prêmio criado pela jornalista Rosana Nunes, que elegeu a composição como a melhor do Carnaval. Comparei-o com os sambas de outras escolas e conclui que, de fato, foi o melhor do Carnaval. O samba-enredo da Pesada é um resgate histórico a dois dos principais poetas da literatura e da música popular brasileira de todos os tempos, Casimiro de Abreu e Ataulfo Alves. “Meus oito anos” é a mais famosa obra de Casimiro: “Oh! Que saudades que tenho, da aurora da minha vida; da minha infância querida, que os anos não trazem mais”, descreveu. E o célebre verso de Ataulfo Alves, “Eu era feliz e não sabia”, da música “Meus tempos de criança”, virou refrão nacional. Ataulfo também é autor de Laranja Madura, Leva meu Samba, Atire a Primeira Pedra e outros mais de duzentos sucessos do samba e dos carnavais. Sim, poucos como eles souberam exaltar tão bem a pureza e a docilidade das crianças, da gente humilde e pobre – por isso mesmo serviram para ancorar o enredo e o samba da Pesada. Mas os jurados não entenderam assim. Numa escala de 9 a 10, o samba ganhou nota 9 de um deles, ou seja, a nota mínima, que ajudou a derrubar a escola. Não me convenceu a justificativa da chefe do Corpo de Jurados de que os compositores falharam ao não citar nominalmente Casimiro e Ataulfo na letra do samba. Foram citados implicitamente, sim, com a força dos seus versos. Tanto que, seguindo essa linha de raciocínio, outro jurado deu a nota 9,9 ao samba-enredo da Pesada, quase a nota máxima. Portanto, dividiu opiniões e critérios, ao contrário do samba-enredo da Vila Mamona, que mesmo sendo inferior ao da Pesada ganhou duas notas 10. Além do samba-enredo, outros dois quesitos derrubaram a Pesada neste Carnaval: comissão de frente (notas 9,1 e 9,8, no total 18,9) e evolução e harmonia (9,6 e 9,3, total 18,9). Até o próximo Carnaval chegar, só resta à comunidade Pesada cantar “eu era feliz e não sabia”. O samba era uma profecia.


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Por que a bicampeã Pesada virou cinzas no Carnaval?

O requinte da Pesada não agradou aos jurados (Agência Navepress)
Era uma vez uma escola de samba que pecou por desfilar como campeã e, em um julgamento equivocado, foi queimada na fogueira da inquisição. Desculpem-me recorrer aos tempos em que a Igreja fazia a caça às bruxas – ou a quem acreditasse que agisse como tal – mas é exatamente assim que vejo e analiso a situação da Pesada, despachada para o segundo grupo do Carnaval de Corumbá após brilhar na avenida como forte candidata ao título de tricampeã. Nesta quinta-feira, ao visitar o barracão da escola, vi a profunda tristeza nos olhos de Nei Colombo, seu presidente. O trabalho de um ano inteiro saiu pelo ralo, lamentava, melancólico. “Dá vontade de abandonar tudo”.. O dia seguinte de Nei a da comunidade Pesada teve as nuvens cinzas do apocalipse, o ar de uma suposta chantagem e o som de uma marcha fúnebre. Para os jurados, a Pesada foi pior que a Marquês de Sapucaí, que fez um desfile apenas discreto para homenagear Valdir Gomes e Picolé, e não cair, mas ganhou notas acima da média, embora não tenha chegado sequer a uma final no Esplendor do Samba, prêmio instituído pela jornalista Rosana Nunes. Entre tantas aberrações, a Mocidade Independente da Nova Corumbá, com um desfile de alto nível em homenagem à Marinha, ainda ficou atrás da Marquês, e escapou de ser rebaixada. Conferi nota por nota na planilha da minha amiga carnavalesca Regina Narciso. São dois jurados para cada quesito. Um dos jurados derrubou a Pesada ao dar-lhe apenas 9 no samba-enredo, o mesmo quesito que deu à escola o prêmio Esplendor do Samba. Estaríamos vendo dois carnavais ou os jurados vieram de outro planeta? Parabéns à Império do Morro e à Vila Mamona, que fizeram, e muito bem, a sua parte, honrando mais uma vez suas tradições. A Império veio com um enredo que sempre toca no coração das pessoas decentes e responsáveis: a preservação do planeta. Mas eu ainda aponto o enredo da Vila Mamona como o melhor deste Carnaval pela coragem de abordar um tema cercado pelo preconceito da elite corumbaense: a umbanda e o candomblé como forma de espiritualidade das mulheres (e famílias) negras. No momento, acho que o Carnaval de Corumbá não está precisando de um sambódromo ou sair da Avenida General Rondon para progredir, como sugerem alguns. Está, isto sim, precisando urgentemente se reorganizar e valorizar a sua própria matéria prima, que são as escolas e seus sambistas.